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O Brasil registrou um aumento significativo no número de pontos de recarga públicos e semipúblicos, como em shoppings e supermercados, acompanhando o crescimento nas vendas de carros elétricos. Entretanto, especialistas alertam que a infraestrutura de carregamento ainda não atende à demanda do país.
Atualmente, a maior parte dos carregadores instalados é do tipo AC, que oferece recarga mais lenta. Enquanto o modelo rápido (DC) consegue completar a carga de um veículo em um período entre 20 minutos e uma hora, os carregadores AC podem levar até cinco horas para concluir o processo, conforme a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), que reúne marcas como BYD, GWM e Volvo.
De acordo com levantamento realizado pela Tupi Mobilidade e pela ABVE, em dezembro de 2024 o Brasil contava com aproximadamente 12,14 mil pontos de recarga públicos e semipúblicos, um número quase três vezes maior do que o registrado no mesmo período de 2023, que era de 4.300. No entanto, apenas 12,5% desse total, ou pouco mais de 1.500 unidades, eram carregadores rápidos (DC).
As projeções indicam que, em 2025, o Brasil deverá mais que dobrar o número de pontos de recarga rápida, alcançando ao menos 3.500 equipamentos desse tipo até dezembro. Davi Bertoncello, CEO da Tupi Mobilidade e diretor de comunicação da ABVE, destaca que os carregadores rápidos estão se tornando mais eficientes e com melhor custo-benefício, facilitando sua implementação. Ele também aponta para uma intensificação dos investimentos privados em eletropostos.
Apesar desse otimismo, Bertoncello alerta que a infraestrutura de recarga continua sendo um desafio. "É uma questão importante. Hoje, os carregadores rápidos ainda representam uma parcela pequena do total, e isso pode, sim, gerar certa preocupação para novos consumidores", afirmou.
Um estudo da McKinsey, divulgado no ano passado, mostrou que 38% dos proprietários de veículos elétricos no Brasil consideram voltar para os carros movidos a combustíveis fósseis devido à insatisfação com a infraestrutura de recarga no país. Na Europa, o índice de pessoas que pensam em retornar aos carros a combustão é de 25%, enquanto nos Estados Unidos chega a 50%. No caso dos americanos, as queixas estão mais relacionadas com a experiência com os próprios veículos.
Bertoncello acredita que, com o crescimento acelerado e os avanços tecnológicos, a questão da infraestrutura será resolvida em breve. "Há um desafio, mas o crescimento acelerado e o avanço da tecnologia devem equilibrar essa questão em breve", afirmou.
Thiago Castilha, sócio da empresa de carregadores E-Wolf, acredita que a chegada de novas montadoras de veículos elétricos ao Brasil deve acelerar a instalação de carregadores rápidos. Segundo Castilha, a oferta desses equipamentos está diretamente ligada à demanda por carros elétricos. Ele ainda destaca que teve que expandir sua equipe de instalação e engenharia no ano passado, dada a crescente demanda por carregadores. "Atualmente, a taxa de ocupação dos pontos de recarga varia entre 80% e 90%. Você não vê o carregador rápido sem ter alguém usando", afirmou.
Milad Kalume, consultor de mercado automotivo, aponta que a defasagem na instalação de carregadores no Brasil pode ser atribuída a vários fatores, incluindo o alto custo de instalação e a dificuldade de cobrir as vastas dimensões do território nacional. Segundo Kalume, o Brasil está mais atrasado no uso dessas tecnologias quando comparado a países como Europa, Estados Unidos e China. "Existe uma evolução evidente no carregamento de eletropostos no mercado brasileiro de 2023 para 2024, mas ainda está aquém das necessidades do mercado brasileiro", disse ele.
Em 2024, as vendas de veículos eletrificados (elétricos e híbridos) bateram recorde no Brasil, alcançando quase 177,4 mil unidades comercializadas, um crescimento de 89% em comparação ao ano anterior, segundo a ABVE.