De acordo com a Secretária de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), todos os dias, mais de 29 mulheres são agredidas fisicamente em Goiás. Os dados representam os seis primeiros meses de 2021, e revelam uma triste realidade não apenas em Goiás, mas também em todo o mundo. Além disso, a cada uma semana, uma mulher é vítima de feminicídio no estado.
Após a repercussão do caso do DJ Ivis, acusado de agredir violentamente a ex-esposa, Pamella Holanda, na frente da filha de nove meses, da mãe e de um funcionário, o assunto ganhou força novamente. A realidade das agressões domésticas vividas por Pamella, infelizmente, ainda é a realidade de milhares de mulheres que são se sentem seguras e protegidas por seus companheiros.
Recentemente, a apresentadora Silvye Alves, foi agredida pelo ex-namorado. Ele invadiu a casa da jornalista de madrugada e a espancou na frente do filho dela. Os ferimentos foram tão fundos que ela precisou passar por uma cirurgia. Já o agressor, não passou nem 24h na cadeia, pagou uma fiança de R$11 mil reais e foi liberado pela justiça.
Em dezembro de 2018, a advogada Luciana Sinzimbra, de 29 anos, foi agredida pelo ex-namorado, Victor Junqueira, no setor Marista em Goiânia. Ela foi agredida com socos, tapas e estrangulamentos, as imagens da agressão foram divulgadas na internet, o que também ganhou o apoio de diversos famosos.
Victor, não chegou incialmente a ser detido, ele só foi preso em 2019, pelo descumprimento das medidas judiciais. No entanto, ele foi solto, com algumas exceções. O Piloto de avião só deveria mudar para Cocalzinho de Goiás e ele estaria impedido de ir a Anápolis, onde a ex-namorada Luciana e também os pais do deles moram.
Além disso Victor não poderia frequentar lugares que permitem a venda de bebidas alcoólicas e se precisasse sair da cidade, teria que ser autorizado pelo judiciário. Porém as determinações não foram cumpridas.
Segunda a advogada, antes da pandemia, ele chegou a se mudar para Brasília, foi autorizada a retirada da tornozeleira. Após avisar Victor sentado em um bar/restaurante, ela conta que imediatamente ligou para a polícia e explicou a situação.
Chegando à unidade policial, ela relata: “Mesmo após mostrar tudo, o delegado me informou que como essa decisão foi referente à liberdade dele, e não estava constando na minha medida protetiva, a única coisa que ele poderia fazer era informar o juiz acerca do descumprimento”. Ela afirma que, a decisão foi encaminhada ao Tribunal de Justiça de Goiás, e que segundo eles, não há indícios para agravar o status de liberdade do piloto, mesmo após o descumprimento.
“Eu ainda temo porque não houve ainda sentença do processo dele e ele continua descumprindo as medidas judiciais. A Justiça passa para ele a mensagem de que não tem problema. Então se não existe punição, como não temer um homem que me agrediu?” relatou.
Para ela, depois das agressões sofridas, o que fica é o medo. “Não é fácil para vítima enfrentar os julgamentos, mas é muito importante falarmos a respeito (disto), não só pra expor o criminoso, como também para alertar a sociedade que esse crime é mais rotineiro do que se parece, mulheres estão morrendo, definhando, por causa da violência domestica, e algo precisa ser feito. Se não formos atrás de Justiça, o nosso cenário continuará o mesmo".
Laura Gomes, que é mestre em psicologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e psicóloga clínica comportamental, explica o assunto:
“A violência doméstica é frequente porque ainda se tem a ideia da mulher como posse, como propriedade. E ainda se reforça a ideia de que relacionamento é algo privado, algo que não cabe interferência, e vemos onde essa linha pode parar. Aprendemos a não fazer algo quando percebemos que comportamento tem consequência. Seja criminal, seja social. Na maioria das vezes, ambas não acontecem o que dificulta muito o processo de denúncia e desencoraja a vítima por acreditar que perderá mais que o próprio agressor, pela exposição e pelo sofrimento de lidar publicamente com a situação”, relatou a psicóloga.