A primeira turma de mulheres da Força Aérea Brasileira (FAB) foi chamada de Demoiselle e é datada de 1982. O tratamento às treinandas não foi diferente dos homens, do contrário, recebiam o mesmo treinamento em campo.
A mulher está presente na FAB desde a Segunda Guerra Mundial, quando, em julho de 1944, seis enfermeiras integraram o Quadro de Enfermeiras da Reserva da Aeronáutica. Elas participaram do teatro de operações como integrantes do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1° GAvCa). Após a guerra, as profissionais de saúde sempre estiveram presentes, trabalhando como civis, nos hospitais da Força.
Pioneiras
Na década de 80, mesmo com algumas civis, o ambiente da FAB era, em sua maioria, masculino. Até que a Lei n° 6.924 de 1981, criou o Quadro Feminino da Reserva da Aeronáutica (CFRA). A FAB precisou se adaptar para receber as mulheres que sonhavam com a carreira militar.
As candidatas que conseguiam aprovação, viviam um período de adaptação à vida militar, de até seis meses. Ao persistirem nesta etapa, as militares escolhiam a Organização Militar que desejavam servir, segundo sua classificação. Desejando servir a Força, permaneceriam por oito anos na ativa.
Hoje, graças as pioneiras que superaram seus limites e conquistaram um espaço na carreira militar, o número de mulheres é maior que o de homens em diversos Quadros. Há quase 40 anos de serviço ao povo brasileiro, a mulher hoje pode ingressar à FAB como médica, paraquedista, musicista, controladora de tráfego aéreo, aviadora, intendente, advogada, historiadora, entre outras posições.
Um legado
A suboficial Léia Martins Franco contou como foi sua experiência ao ingressar na segunda turma de mulheres. E revelou que ser mulher na Força Aérea foi um grande desafio, "desbravar o mundo masculino foi realmente uma experiência que me trouxe muito crescimento tanto na minha vida pessoal, quanto profissional".
Léia foi a primeira Cabo servindo na Base Aérea de Anápolis em 1983, no entanto antes de alcançar a carreira almejada, era apenas uma garotinha que havia nascido em Codó, no Maranhão. Até que em 1981 sua família se mudou à Brasília, buscando uma vida com melhores oportunidades para a jovem e seu irmãos.
Apesar da pouca escolaridade, a jovem teve a ousadia de se candidatar para uma das provas mais difíceis na época, se esforçou para ingressar na Força Aérea Brasileira estudando para o concurso que ofertara apenas duas vagas ao Distrito Federal. Léia fez a prova com convicção e sobre isso relembra que pensava positivo, "eu só preciso de uma vaga", e de fato foi assim, a jovem foi aprovada e iniciou uma brilhante e honrosa jornada.
Ela tem orgulho de dizer que o tratamento às mulheres era de igual modo, e lembra com detalhes que a diferença é que as instalações das unidades militares não tinham estruturas para acolhê-las, "foi preciso nos adaptar".
Com grande satisfação contou como se sente honrada em prestar seu serviço ao país, "Durante a minha carreira, tive o privilégio de servir no Grupo de Defesa Aérea, e durante todo este tempo, preparei muitos jovens para a nossa Nação, isso me traz muito orgulho. Participei da equipe do Serviço de Ensino no VI Comar (Comando Aéreo Planalto) em Brasília que treinava os soldados especializados."
Léia está escrevendo sua biografia que logo será publicada, revelou que valoriza muito sua história e tem um cantinho em sua casa com as fotos e os acessórios de sua carreira.
"Sinto-me privilegiada também por ter aberto caminho para as demais mulheres que hoje servem nas mais diversas especialidades, inclusive como aviadoras", revelou.
Antes de finalizar, afirmou com convicção e gratidão, "Como primeiras mulheres prestando serviço à Força Aérea, nós conseguimos cumprir nossa carreira com êxito".
Atualmente, ela foi promovida à Suboficial na área de administração, e já serviu na base por 38 anos. Também foi homenageada no dia 16 de julho instituído como O Dia do Veterano na FAB.
Encerrou sua fala dizendo às mulheres que sonham um dia servir na Força e ao Brasil: "Este é o meu legado para o meu país".
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