O custo de vida do brasileiro pode registrar, em 2015, o maior aumento dos últimos 12 anos, essa é previsão da última edição do boletim Focus, do Banco Central, que reúne a opinião das principais instituições financeiras do País, divulgada pelo portal de notícias Vvale. Segundo informações, especialistas do mercado financeiro revisaram pra cima a expectativa de inflação pra este ano, que deve ficar em 7,77%. Em outras palavras, quem gastava, por exemplo, R$ 800 com as despesas do mês, pode aumentar esse valor para até R$ 860.
O índice apontado pelo boletim Focus fica bem acima do teto de 6,5% definido pelo governo. Os especialistas avaliam que o cenário negativo é causado também pelos aumentos da conta de luz, dos combustíveis e da passagem de ônibus. Para eles, a economia do País pode encolher a 0,66% em 2015. O pior resultado desde 1990.
Sérgio Borges Fonseca Júnior, mestre em Economia e pesquisador em Economia do Instituto Mauro Borges/Secretaria de Gestão e Planejamento (Segplan), aponta que há componentes sazonais que tendem a afetar a inflação sempre nos primeiros meses do ano, tais como: pressão do grupo alimentação (puxado pela alta de vários produtos primários), reajustes de matrículas escolares, dentre outros. "A inflação, em 2015, tem um componente adicional, que são os reajustes de tarifas públicas. Exemplo disso são os reajustes da tarifa de energia elétrica, dos combustíveis e do transporte público", lembra. Ele ressalta que, de modo geral, esses reajustes estão atrelados ao ajuste fiscal que o governo federal tem promovido com o intuito de melhorar a situação das contas públicas do País.
Hoje, a economia brasileira atravessa um período extremamente complicado. O economista aponta que coexiste, ao mesmo tempo, cenário de retração produtiva, que pode ser visto pela expectativa de retração do PIB – a OCDE em sua última projeção acredita que em de 2015 o PIB brasileiro deve recuar em 0,5% – inflação elevada – mesmo em um cenário de gradativo aumento de taxas de juros – contas públicas deterioradas e crise política. "Todas essas variáveis, sem dúvida, geram um cenário econômico pouco otimista. Embora o cenário seja complexo, há possíveis saídas, no âmbito conjuntural, acredito que primeiro é preciso resgatar a confiança da economia nacional no âmbito interno e externo, isto pode começar a acontecer a partir de medidas governamentais que embora visem sinalizar a credibilidade do País juntos aos mercados internacionais não onerem demasiadamente a sociedade, como as que têm sido implementadas", diz Sérgio.
Ele cita, por exemplo, o ajuste fiscal que tem sido feito principalmente pela elevação de arrecadação via tributos o que onera muito a sociedade. "Há outras maneiras de se promover o ajuste fiscal, uma delas é em relação às vias que discutem uma redução da máquina pública a fim de reduzir despesas, outras que apontam que a solução pode se dar via patrimonial, ou seja, a partir de concessões, leilões, privatizações. Acredito que deve haver uma mix dessas ações, para que o ônus do ajuste fiscal não impacte tanto sobre a população e assim possa produzir resultados a longo prazo", ressalta. Sérgio também acredita que, a partir do resgate da confiança da economia nacional, haverá paulatinamente uma retomada dos investimentos internos e externos, o que gerará um melhor desempenho econômico. "É importante destacar ainda que, no longo prazo, é fundamental pensar em soluções que resolvam problemas estruturais ao desenvolvimento da economia nacional. Creio que em grande medida esta discussão se daria a partir de uma reforma tributária e medidas que visem de fato aumentar a produtividade da economia nacional", diz.
Os mais afetados
Sérgio Borges ressalta esse o pico inflacionário que vem ocorrendo ao longo deste primeiro trimestre de 2015 e está diretamente associado a produtos e serviços para os quais não há um substituto, por exemplo, o reajuste de tarifa de energia elétrica e da tarifa de transporte coletivo que impactam diretamente no orçamento das pessoas. "Neste cenário de pico inflacionário fortemente atrelado a serviços públicos, os mais atingidos são as famílias de renda mais baixa. Pois, são elas quem fazem frente a estas crescentes despesas e acabam comprometendo uma grande parcela da sua renda domiciliar", diz.
Ele avalia que por esse motivo, de modo geral, quando a inflação está mais atrelada a produtos e serviços básicos a inflação medida para famílias com renda entre um e cinco salários mínimos (INPC) tende a ser superior a que é medida para famílias com renda ampla de 1 a 40 salários mínimos (IPCA). "Vale lembrar que os índices de inflação servem como um norteador da perda do poder de compra, mas a inflação pode ser sentida de forma distinta por cada pessoa dependendo do seu padrão de consumo", ressalta Sérgio.
Segundo pesquisa do Data Popular divulgada pelo jornal Estado de Minas, a classe C, hoje, representa em média 114 milhões de brasileiros , ou seja, 56% da população, essa foi a classe para qual o comércio abriu suas portas e apontaram uma maior oferta de créditos com juros baixos, que financiava imóveis, celular, televisão, carros, viagens e outros bens de consumo. Porém, segundo pesquisa do instituto Data Popular, essa mesma classe não está mais tão otimista e a realidade agora é outra. De acordo com o instituto, a classe C, é aquela com renda per capta de de R$ 338,01 a R$ 1.184, ou uma renda mensal de até R$ 2,9 mil. Segundo o levantamento, em uma década, a massa de renda dessas pessoas aumentou em 71%, chegando a R$ 1,35 trilhão.
A alta da inflação, já em 7,7% nos últimos 12 meses, e o aumento do desemprego, que chega a 6,8%, os mais de 3 mil entrevistados pelo instituto estão descrentes com o Brasil e acreditam que as coisas vão piorar daqui pra frente. Em relação à inflação, 79% acreditam que os preços vão continuar subindo, 55% estão pessimistas em relação ao emprego e 68% disseram que 2015 será um ano pior para o País.
Controle nos gastos
Com os aumentos em maior parte dos gastos fixos da população, a única saída agora é controlar o consumo. Só a energia elétrica deve aumentar, em média, 23,4%, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Para especialista da DSOP, o segredo é economizar nos pequenos gastos em casa.
A psicóloga e educadora financeira da Dsop, Dayane Godinho, avalia que toda família gasta, em média, 20% a mais nas contas do que de fato é necessário. "O alto índice de endividamento das famílias brasileiras pode ser reflexo da tentativa de sustentar um padrão de vida mais alto do que a realidade financeira permitiria. Desta forma, é importante analisar os gastos que podem ser cortados, por serem supérfluos", explica. Para ela, o primeiro passo é realizar um diagnóstico financeiro para saber com o que exatamente andam gastando mais e poder fazer a redução.
Dayane afirma que conhecer os números dessa família, qual é a renda líquida da sua família e em que é gasto esse dinheiro é um caminho. "Uma boa "faxina financeira", anotando todas suas despesas por 30 dias, se seus ganhos forem regulares, ou por 90 dias se for autônomo, classificando essas despesas por categoria", ressalta. Ela lembra que após o diagnóstico financeiro, será o momento da família se reunir, estabelecer os cortes que serão realizados e os objetivos (sonhos) que dependem de poupar para realiza-los.
"É importante saber quais são os sonhos, quanto custam e por quanto tempo a família vai economizar mensalmente para realizá-los. O segredo é priorizar, ou seja, assim que o salário entrar na conta, separar o valor destinado ao sonhos e não deixar para o final do mês, como muitos fazem", diz. Dayane aponta que estes objetivos ajudarão a focar suas ações em prol de alcançá-los. "O corte de gastos não deve ser feito por fazer, mas sim para redirecionar o valor para a realização de sonhos", avalia.
Saiba mais
Dayane Godinho, educadora financeira da Dsop, dá algumas orientações práticas de como reduzir as despesas dentro de casa
Os gastos de energia elétrica são um dos que mais apresentam excessos. Basta pensar em quanto tempo usa o chuveiro e quantas vezes deixa as luzes ligadas ou deixa a geladeira aberta. Sem contar no uso de televisão e de computador.
O uso de telefone também deve ser repensado, fazendo uma análise entre os valores do fixo e do celular. É preciso comparar o valor das tarifas sempre que possível. Dê preferência ao uso do telefone fixo em vez do celular. A opção deve ser pela menos custosa e não pela mais prática.
A reciclagem de produtos também deve ser priorizada. Os desperdícios nas casas são muitos, sendo possível reciclar desde alimentos até roupas e materiais escolares, sem perder a qualidade.
Antes de ir ao supermercado, faça uma lista de compras e procure deixar as crianças em casa. Também tenha cuidado com as promoções, quantas vezes compramos o famoso "pague dois e leve três" e perdemos dois dos produtos.
Compare os preços quando for às compras. Seja em lojas, supermercados ou até restaurantes, é fundamental que se faça essa comparação, pois as variações são muitas. Evite produtos de “grife”.