Home / Economia

ECONOMIA

Cenário da agropecuária para este ano

O cenário e perspectivas do agronegócio para o Centro-Oeste em 2015 foram mostrados, ontem, durante o III Fórum de Agronegócios, dentro da programação da 70ª Exposição Agropecuária de Goiás. Os três painéis ocorreram no Auditório Augusto Gontijo do Parque Agropecuário de Goiânia. O evento teve o patrocínio da Sociedade Goiana da Pecuária e Agricultura (SGPA) e, apesar de sua importância, o comparecimento público ao auditório deixou a desejar. Os palestrantes são considerados atualizados e de alto nível.

O painel foi aberto por Leonardo Alencar, formado em Zootecnia, com especialização na área de mercado agropecuário, gestão de risco e estratégias de precificação de commodities agrícolas. Possui MBA em Inteligência de Mercado da Fundação Instituto Administrativo (FIA) e ocupa o cargo de gerente-executivo de Inteligência de Mercado na Minerva Foods.

Em sua opinião, apesar de crise política e econômica, o setor pecuário no Brasil desponta como oportunidade de investimento. Ele procura demonstrar a disponibilidade de recursos naturais, vocação à atividade e oportunidade de crescimento, por meio dos ganhos de produtividade.

Leonardo Alencar está convencido de que o cenário favorece os produtores brasileiros em decorrência da escassez de oferta e demanda aquecida, devido ao processo de crescente urbanização e aumento do poder de renda, além das possibilidades de abertura de novos mercados para o Brasil. Por isso, entende que o mercado do boi gordo continuará aquecido este ano, com os preços pagos aos pecuaristas perto de patamares recordes. Os preços em São Paulo, principal praça de consumo de carnes bovinas, atingiram valores próximos a R$ 150, a arroba. A valorização foi de mais de 17% em doze meses.

Goiás respira agronegócio

Depois de dizer que “Goiás respira agronegócio”, Leonardo teceu considerações sobre os índices de preços que caem na média, entre eles o açúcar, os lácteos, os cereais e os óleos. Para a carne bovina, o cenário é o melhor possível. A China, por exemplo, acaba de demonstrar interesse em abrir mais ainda o mercado de carnes para o Brasil. Como se isso não bastasse, ele observa que a população chinesa está promovendo êxodo rural sem precedentes. Amplia assim o processo de urbanização, passa a mudança no padrão de consumo e o consequente aumento da renda. Os chineses tendem a ser os maiores consumidores ainda de milho e soja porque seu déficit de grãos e carnes também tende a aumentar.

“Não tenho dúvida de que, em médio e em longo prazo, o cenário é favorável ao Brasil”, pontua. Os brasileiros poderão aumentar a sua produção de alimentos em mais 40%, porque a Rússia, a Europa e os Estados Unidos têm problemas na área de produção. Embora disponha de espaço, a Rússia sofre problemas climáticos graves. A Europa vive restrição sem precedente de crédito. Os Estados e Canadá estão no limite. A África sofre graves problemas políticos. Na Ásia, a Índia dispõe de um rebanho de 300 milhões de cabeças de gado vacum. Mas os indianos não dispõem de infraestrutura, falta controle sanitário e a sua religião vê a vaca como um animal sagrado. A Austrália tem superávit na produção de carnes e lácteos e concorre com o Brasil. A América do Sul, como um todo, não tem vocação para a atividade agropecuária. Exceção para o Uruguai e a Argentina. Só restou o Brasil, observou, “protagonista na produção de alimentos”. A área agrícola brasileira é de mais de 30 milhões de hectares.

O conferencista, no entanto, faz algumas críticas ao governo brasileiro por não firmar acordos bilaterais. Em sua observação, a abertura comercial é benéfica e os ajustes internos tendem a refletir de forma favorável. Embora o momento seja de pessimismo, com a colocação gradual da economia nos eixos, o País retomará o seu crescimento econômico, acredita.

Desafios da produção agrícola

No segundo painel, “Os Desafios da produção agrícola no Centro-Oeste”, couberam a Arnaldo Caixeta, líder da Unidade Comercial Centro-Oeste da Dupont Pioneer, formado em Engenharia Agronômica pela UFG. Ele concorda com o conferencista anterior sobre a demanda crescente por alimentos no planeta. E analisa o segmento como uma questão de segurança alimentar, que consiste no acesso físico, social e econômico aos alimentos.

Confessou inclusive que a empresa Dupont investiu mais de US$ 10 bilhões em pesquisas agronômicas. As unidades da multinacional americana se fazem presentes em Formosa, Planaltina e em Catalão nas áreas de produção de sementes melhoradas. “Goiás está no ranking da produção nacional de alimentos graças ao uso sistemático da tecnologia”, considera, chamando a atenção para o crescente PIB e a renda per capita do goiano. Os desafios para o setor agropecuário são atribuídos à infestação de pragas, a falta de maior coordenação e integração das cadeias produtivas, na falta também de agregação de valores.

“Tendências de mercado do leite e de carnes”, no painel da pecuária, Pedro Veiga discorreu sobre as tendências do mercado do leite e bovino. Ele é zootecnista, mestre em doutor em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa, com período sanduíche da Universidade da Califórnia, pós – doutor pela Iowa University. Hoje, responde pela Gerência Global de Tecnologia de Bovinos de Corte da Cargil Nutrição Animal.

Em sua palestra, de certa forma, ele se contrapôs a Leonardo Alencar, da Minerva. Em sua visão, a atualidade econômica brasileira é ruim devido à inflação alta, recessão, PIB negativo de 0,60%, desajuste fiscal, real desvalorizado, desemprego de 7,10%, entre outros fatores. Nessas condições, entende, fica difícil para os brasileiros consumirem mais, inclusive alimentos.

Os americanos abrem mais o seu mercado para o consumo de carnes. “Mas eles exigem carne para fazer hamburger”, nota. O Brasil ainda não sanou totalmente o problema da febre aftosa por sua dimensão continental. “Isso é um empecilho e um fator limitante às exportações nacionais para os Estados Unidos”, observa. Segundo ele, a rentabilidade da pecuária passa pelo aumento de produtividade, ou seja, redução da idade de abate, reduzir custos, buscar recursos na tecnologia e na sanidade animal.

“Quantos produtores não sabem o que produz e quanto ganha?”, questionou. Constituem desafios na pecuária a mão de obra desqualificada, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), instrumento fundamental para auxiliar no processo de regularização ambiental de propriedades e posses rurais; e o Custo Brasil, onde se inclui a carga tributária e outros itens. “O Brasil tem volume, mas peca em qualidade”, concluiu.

Critérios injustos para o leite

Edson Novaes, gerente de Estudos Técnicos e Econômicos da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), na análise das tendências de mercado para o leite, revelou que neste Estado o mercado é influenciado por aspectos regionais. Os preços recebidos pelos produtores sofrem critérios diferentes e nem sempre justos nas condições de pagamentos pelas empresas de laticínios.

O produtor entrega seu produto hoje para receber o pagamento em 55 dias. Dos 55 laticínios existentes em Goiás, apenas cinco pagam pela qualidade do leite in natura. Novaes criticou também o processo de importações de leite da Argentina e do Uruguai, que refletem nos preços dos produtores brasileiros. O leite longa vida tem apresentado recuperação de preços.

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias