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Agência O Globo -
economia
Falta ao país planejamento e apoio popular necessário para fazer a transição
ATENAS - Introduzir uma nova moeda não é tarefa fácil. Casos recentes, como a adoção do marco alemão pela Alemanha Oriental e a própria criação do euro, foram beneficiados por anos de cuidadoso planejamento e amplo apoio popular. Se a Grécia abandonar o euro, não contaria com nenhum destes elementos.
“O precedente histórico sugere que seria um desafio gigantesco”, disse Richard Portes, professor de Economia da London Business School. “A situação da Grécia é talvez ainda pior porque não está claro se eles têm a capacidade administrativa para mudar rapidamente para uma nova moeda”.
O governo da Grécia diz que pretende manter o euro mesmo que os eleitores rejeitem os termos da proposta de socorro internacional no referendo. Pesquisa encomendada pela Bloomberg apontou um resultado muito apertado na votação, mas mostrou que 81% dos gregos querem manter o país na zona do euro.
Muitos economistas dizem, porém, que isso seria difícil após um voto "não" mesmo se no longo prazo o país se beneficiar deste caminho. O sistema bancário grego é dependente de apoio do Banco Central Europeu, que poderia ser retirado neste cenário. Isso poderia forçar a Grécia a criar seus próprios meios de troca — um novo dracma — para manter sua economia funcionando.
INTRODUZIR MOEDA PODE LEVAR SEIS MESES
Países que mudam a moeda devem lidar com duas questões: como introduzir novas notas e moedas e o que fazer com contas correntes, dívidas e instrumentos financeiros denominados na moeda antiga.
A primeira questão é direta. O Banco Central grego imprime notas de euro em Holargos, subúrbio de Atenas. Esta unidade era responsável pela impressão do dracma antes da adoção do euro e poderia ser responsável pela nova dracma também.
“Uma moeda é um cartão de negócios nacional, então você quer fazer isso direito”, disse Ralf Wintergerst, chefe de produção de notas na Giesecke & Devrient Gmbh, empresa alemã que imprime cédulas desde o reichsmark alemão nos anos 1920.
Wintergerst diz que introduzir uma nova moeda leva em média seis meses, e algumas vezes até dois anos. Artistas precisam desenhar as notas, especialistas em segurança acrescentam medidas como marcas d'água e tinta especial, e funcionários de bancos precisam planejar quanto de cada cédula é necessário e levar o dinheiro aos bancos.
"A coisa mais desafiadora era estabelecer uma distribuição eficiente e assegurar que a nova moeda esteja disponível em todos os lugares", disse Boris Raguz, chefe do Diretório de Tesouraria do Banco Central da Croácia, que em 1993 supervisionou a introdução da moeda do país, a kuna, depois da separação da Iugoslávia.
TRANSIÇÃO TERIA QUE SER RÁPIDA
Maiores dificuldades surgem quando os bancos começam a emitir a moeda. Por causa do prazo necessário para distribuir novas notas e moedas, as duas divisas precisam existir lado a lado por algum tempo. Enquanto os bancos gregos podem mover transações com cartões para a nova dracma imediatamente, as lojas podem aceitar as duas moedas - e talvez apenas euros se os comerciantes duvidarem do valor da nova dracma.
"Quando a conversão vai ocorrer? Com que taxa?", indagou Antonio Fatas, um professor de Economia da escola de negócios Insead, próxima de Paris. "Esta é a grande questão".
As duas moedas começariam provavelmente a uma taxa de um para um, o que pode ser ajustado ao longo do tempo. O euro foi criado em 1999, mas existiu apenas virtualmente por três anos, usado para transações eletrônicas a uma taxa fixa contra francos, marcos e outras divisas que ele substituiu. Então, em 1º de janeiro de 2002, as cédulas e moedas do euro foram introduzidas, apesar das antigas moedas ainda terem permanecido em circulação por cerca de dois meses.
A Grécia teria uma situação mais complicada porque a transição teria que ocorrer rapidamente, com pouco planejamento. E ao contrário da maioria das outras moedas que foram abandonadas, a atual moeda da Grécia - o euro - vai permanecer em circulação na Europa não importa o que aconteça. Isso significa que qualquer nova divisa pode ter pouco apelo para a população, que esperaria sua desvalorização depois que o mercado puder ajustar seu valor.
"Tão logo qualquer um obtenha a nova dracma no bolso, faria o que for possível para se ver livre dela", disse Jacob Kirkegaard, pesquisador sênior do Peterson Institute for International Economics, em Washington.
Outro complicador, segundo Kirkegaard, é que os muitos importadores gregos podem exigir receber o pagamento em euros, no lugar de dracmas depreciados.
Ludek Niedermayer, que chefia o departamento de risco do Banco Central Tcheco quando a coroa foi introduzida em fevereiro de 1993, disse que na época seu país era relativamente isolado. A Grécia, ele destaca, é bem mais integrada na economia europeia, tornando mais difícil a mudança. A confiança é chave para a nova moeda, diz Niedermayer. "Se você introduz uma moeda que ninguém quer, é um mau começo", disse.