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Brasil já tem no mercado primeira soja transgênica

A Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a companhia química Basf, lançou na tarde de ontem (25) o Sistema de Produção Cultivance®, que representa um marco para a ciência brasileira por conter a primeira soja geneticamente modificada totalmente desenvolvida no Brasil. A tecnologia combina a utilização de cultivares de soja com o uso de um herbicida de amplo espectro de ação para o manejo de plantas daninhas de folhas largas e estreitas. O sistema deve atender  todas as regiões do País.

A ministra Kátia Abreu (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) esteve na sede da Embrapa, para o lançamento do sistema. Tecnologia é considerada um marco para a ciência brasileira porque contém a primeira soja geneticamente modificada totalmente desenvolvida no Brasil, desde as pesquisas em laboratório até a comercialização.

"O Sistema Cultivance® é, antes de tudo, motivo de muito orgulho para todos nós. Representa uma alternativa especial para o produtor brasileiro porque auxilia no manejo de resistência das plantas daninhas na lavoura de soja", discursou Kátia Abreu, durante solenidade na sede da Embrapa.

No entanto, a Embrapa alerta que inicialmente alcançará oito Estados brasileiros de forma parcial: Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rondônia, Bahia e DF. A distribuição leva em consideração as características das cultivares que serão colocadas no mercado na safra 2015/2016. À medida que houver registros de novas cultivares de soja, a comercialização será expandida para outros Estados. A soja Cultivance está aprovada para importação em 17 países e na União Europeia.

Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa, lembra que esta é a primeira vez que uma planta de soja é geneticamente modificada, completamente desenvolvida no Brasil, desde o laboratório até a comercialização: "Ela entra no mercado com aprovação nos principais países importadores dessa importante oleaginosa". Para o vice-presidente sênior da divisão de proteção de cultivos para América Latina da Basf, Eduardo Leduc: "Trata-se de uma tecnologia totalmente verde-amarela, desde a concepção à comercialização, além de ser uma importante e viável alternativa às já existentes".

Segundo informações da Embrapa, o diferencial está na combinação de variedades geneticamente modificadas e no uso de herbicidas da classe das imidazolinonas para o controle de plantas daninhas. Em referência à possibilidade de o produtor alternar entre diferentes tecnologias para evitar a seleção de plantas daninhas resistentes, o pesquisador da Embrapa Soja Carlos Arrabal Arias explica: "Essa ferramenta, ao ser integrada ao sistema de produção de soja, abre perspectiva para que o produtor brasileiro possa rotacionar herbicidas com diferentes mecanismos de ação para o manejo de plantas daninhas de difícil controle".

Atualmente o Brasil possui 34 casos de resistência de plantas daninhas. A cada safra, o manejo de espécies como a buva, o azevém e o capim-amargoso preocupa mais produtores, técnicos e pesquisadores. "Isso porque as plantas daninhas competem com a soja por luz, água e nutrientes, o que pode reduzir a produtividade", explica o pesquisador Fernando Adegas, da Embrapa Soja. "Também interferem na eficiência da colheita, no aumento do nível de impurezas e na umidade dos grãos", relata. Por isso, a expectativa da Embrapa e da Basf é que o Sistema Cultivance possa ser opção tecnológica para o manejo das áreas afetadas por plantas daninhas de difícil controle.

Pesquisas

Estiveram envolvidos nas pesquisas e desenvolvimento e na geração de dados que subsidiaram seu processo de liberação comercial no Brasil cerca de 35 cientistas. "Isso sem considerar as equipes de apoio de laboratórios, casas de vegetação e campo", explica Arrabal Arias. O desenvolvimento dessa tecnologia levou quase 20 anos, considerando desde a pesquisa em laboratório até seu registro comercial e chegada ao campo.

Ele lembra que se trata de um produto de alto valor agregado com muito potencial para incrementar ainda mais o agronegócio brasileiro. Além disso, é considerado um exemplo prático de alto impacto envolvendo parceria público-privada e pode contribuir significativamente para consolidar a importância do Brasil na biotecnologia mundial. A Basf possui a patente do gene ahas (gene aceto-hidroxiácido sintase), extraído da planta Arabdopsis thaliana, que confere tolerância ao herbicida da classe das imidazolinonas.

Em 1997, a empresa disponibilizou o gene ahas para a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), que desenvolveu um método inovador de transformação vegetal, possibilitando sua introdução no genoma da soja. Segundo Elibio Rech, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a Cultivance é uma demonstração da capacidade e da competência da ciência e da tecnologia nacionais.

Seguindo rigorosos processos de segurança, a Embrapa Soja (PR) realizou vários cruzamentos genéticos para obter cultivares com grande potencial produtivo e que expressassem tolerância ao herbicida da classe das imidazolinonas. Na safra 2006/2007, a Embrapa passou a avaliar como as plantas transgênicas se comportavam no meio ambiente. "Tínhamos que realizar testes para comprovar a segurança da tecnologia para o meio ambiente, para a saúde humana e animal e, paralelamente, trabalhar no desenvolvimento de cultivares comerciais de soja", lembra Arias.

No caso da Cultivance, por três safras foram conduzidos experimentos em sete locais do Brasil para avaliar se as plantas transgênicas tinham padrão de comportamento similar às convencionais. Os pesquisadores compararam as características gerais da planta, como rendimento, ciclo de desenvolvimento, resistência ao acamamento, altura de plantas, qualidade de sementes, de óleo, teor de proteína, entre outros.

Os produtos geneticamente modificados, além das avaliações de campo,  passam por diversos testes em laboratório para análise de equivalência nutricional dos grãos e de caracterização molecular. Para realizar os ensaios a campo, a Embrapa e a Basf solicitaram anualmente  à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) autorização para implantar os experimentos de soja transgênica. "Depois de aprovado, o experimento passou por constante fiscalização do Ministério da Agricultura", conta Arias.

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