Bitcoin, a moeda digital, cria polêmica no mundo
Diário da Manhã
Publicado em 16 de dezembro de 2017 às 01:54 | Atualizado há 4 meses
Nas últimas semanas uma moeda praticamente desconhecida da quase totalidade do público vem sendo divulgada com certa insistência pelos meios de comunicação. Seu nome: bitcoin, a moeda digital, cuja aplicação estaria rendendo cifras astronômicas ao investidor. Como toda novidade, encontra de imediato os prós e os contras.
É considerada a primeira moeda digital mundial descentralizada, e responsável pelo ressurgimento do sistema bancário livre. Para os seus defensores, o principal argumento é que pessoas comuns estão se tornando milionárias. E apontam vários casos, certamente reais. Os contrários reagem, chamando a atenção para a falta de garantia do sistema.
As manchetes são de fato chamativas pelo que se pode ver: “Ex-morador de Paraisópolis fatura R$ 1,4 milhão com Bitcoins” (Globo. com); “Garoto de 15 anos abre startup após lucrar R$ 200 mil com Bitcoins” (Estadão); “Adolescente fica milionário aos 18 anos usando Bitcoins” (InfoMoney); “Homem compra US$ 27 em Bitcoins e, quatro anos depois, eles valem US$ 1 milhão” (UOL).
Pelo que se percebe o público torna-se presa fácil. Afinal, quem não rala para ganhar um dinheirinho a mais? E ficar rico da noite para o dia, quem não quer? Outros seguem os conselhos dos avôs: “quanto a esmola é grande, o santo desconfia”. Tanto assim que o Banco Central, responsável pelo sistema financeiro no Brasil, reagiu. Marcos Vilela Fonseca, presidente do Sindinformatica, é um expert no assunto, faz uma abordagem aos leitores do Diário da Manhã.
BC REAGE CONTRA
O presidente do BC, Ilan Goldfajn, alertou no começo da semana para o risco de bolha no mercado de moedas virtuais. Nos últimos dias, o interesse pelo bitcoin disparou diante da valorização da criptomoeda – a cotação alcançou 17.264 dólares, alta de 2.113% no ano.
“Moedas virtuais do jeito que estão hoje com essa subida vertiginosa, onde não há lastro, não há ninguém para regular, levam a um risco tal que o Banco Central emitiu um comunicado alertando para os riscos”, comentou. Ele destacou que essas moedas têm atualmente duas funcionalidades. Uma delas é comprar para vender na frente com a alta. “É uma bolha, uma pirâmide”, disse.
A outra “funcionalidade” é usar como instrumento de atividade ilícita. “Usar as moedas virtuais não isenta da pena, da punição”, alertou. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários alertou também quinta-feira para o investimento em produtos relacionados com ‘bitcoin’ ou outras moedas virtuais, aconselhando os investidores a avaliarem bem os riscos quando decidem investir o dinheiro.
REPERCUSSÃO EM GOIÁS
Ao fazer uma análise do investimento em bitcoin para o Diário da Manhã, Marcos Vilela Fonseca, presidente do Sindinformática – Goiás, diz que “muitas pessoas têm dúvidas se devem ou não comprar bitcoins como investimento”. Segundo o expert no assunto, “questões como segurança, rentabilidade e confiabilidade permeiam a imaginação de futuros investidores”.
E adianta não ser sua pretensão “discutir o aspecto técnico da origem da bitcoin por via da revolucionária tecnologia blockchain que, possibilitou o lançamento de outras criptomoedas, alem de abrir uma nova fronteira em informações distribuídas. Porém, para o investidor talvez seja relevante saber que serão emitidas apenas 21 milhões de bitcoins, pelo menos é o que prevê o algoritmo utilizado para sua criação”.
E ressalta: “Além disso o nível de complexidade de mineração é crescente tornando cada vez mais difícil acessar as últimas moedas, atualmente cerca de 16,7 milhões foram mineradas”. Marcos Fonseca observa, ainda, que “as criptomoedas como a bitcoin não tem um banco central emissor, sua administração é distribuída, com verificação e validação em muitos computadores mundo afora”.
Segundo ele, “funciona como um ativo imaterial (não existe lastro equivalente ao seu valor em ouro ou outro ativo material depositado em algum lugar). Seu valor varia conforme a demanda, oferta e expectativa de valorização. Ao adquiri-la o seu proprietário recebe-as em uma conta virtual de bitcoins, acessível por usuário e senha, a própria bitcoin é uma seqüência criptografada, a tal blockchain, tornando muito difícil a identificação dos seus proprietários, daí a resistência de vários governos em aceitá-la”.
Em sua opinião, “isso, por um lado, pode explicar a sua procura e valorização meteórica, seja para esconder patrimônio, utilizar transferências instantâneas sem custo para qualquer pessoa no mundo e até mesmo como hedge em países cuja moeda local sofre grande desvalorização como na Venezuela, por exemplo”.
“Além disso, sua impenetrável identificação a torna ideal para operações criminosas (não que tenha sido criada para isso)”, confessa do DM. E acrescenta: “Tudo isso acabou por fermentar sua procura e elevar seus preços embora frequentemente sofra solavancos e alertas de bolha”.
A bitcoin pode ser fracionada e comercializada em até 0,0000001 bitcoin essa menor fração é chamada de Satoshi em homenagem ao seu criador. A quem aposte que quando chegar próximo do limite uma bitcoin possa valer até um milhão de dólares (com um Satoshi valendo um dólar), isso somente o tempo dirá.
O presidente Sindinformática sustenta que “do ponto de vista de investimento ela já sofreu grandes quedas e também altas espetaculares, com o gráfico de longo prazo apontando para cima e recordes de valorização que bate em 100% em apenas um mês”. Para ele, trata-se de um investimento de risco, o investidor que quiser operar bitcoin deve ter um perfil arrojado com disposição para aguentar perdas e sensibilidade para não vender numa valorização que pode estar no início ainda, deve investir capital com disponibilidade de longo prazo, no seu lançamento valia alguns centavos, até onde vai ninguém sabe. “Mas acredito que com a chancela da bolsa de Chicago que passou a comercializá-la, tem tudo para bater novos recordes”, conclui.
INEVITÁVEL
Kevin Kelly, autor do livro Inevitável, apontado como best seller pelo New York Times, vê com a velocidade da comunicação instantânea a viabilidade da descentralização. E insere uma nova moeda nesse contexto mundial. Mas, pondera para a importância do Banco Central, que atualmente é responsável pela cunhagem da moeda, chamar a si o controle dos números da série, garantir a confiabilidade e assumir a responsabilidade “de tudo isso”.
O autor levanta, contudo, a possibilidade da descentralização do dinheiro. E os interesses díspares emergiram o bitcoin, moeda completamente descentralizada e distribuída. É claro sem o aval do banco central para garantir sua precisão, fiscalização ou regulamentação. Conforme Kelly, desde seu lançamento em 2009 foram postos em circulação o equivalente a 3 bilhões de dólares. Mais de cem mil fornecedores e comerciantes já aceitam pagamentos na moeda digital.
O escritor observa que “boa parte da fama da moeda vem do fato dela circular fora da vista de governos, viabilizando alguns mercados negros”. E chama atenção: “a inovação mais importante do bitcoin foi seu “blockchain”, a tecnologia matemática que o fundamenta. Trata-se de uma invenção radical, capaz de descentralizar muitos outros sistemas além do monetário.
Não há intermediário central e a transação é postada em um livro contábil público ou o “blockchain”, expressão inglesa, na qual o sistema tornou-se mais conhecido. Esse livro é distribuído a todos os outros donos de bitcoin do mundo. E os dados compartilhados pela cadeia ou rede de computadores. Os defensores da inovação gostam de dizer que a “confiança no bitcoin é construída pela matemática e não por governos”, ressalta o autor de Inevitável