
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que os brasileiros evitassem a compra de itens caros nos supermercados como forma de ajudar a conter a inflação. Contudo, a prática de cortar produtos do carrinho já está sendo adotada pelos consumidores, que buscam alternativas para lidar com o aumento dos preços.
Esse movimento reflete uma série de mudanças no comportamento do consumidor, comuns em períodos inflacionários. A redução das compras de itens essenciais da cesta básica, a moderação no consumo de produtos supérfluos e até mesmo o racionamento de produtos de higiene e limpeza são algumas das estratégias que os brasileiros têm adotado.
Essas mudanças foram identificadas em um levantamento realizado pela empresa de pesquisa de mercado Varejo 360, que acompanhou as tendências de consumo nos primeiros 21 dias de janeiro. Segundo o estudo, a quantidade de leite UHT comprada por cliente caiu cerca de 4,5% em comparação ao mesmo período de 2024. Já o consumo de café torrado e moído recuou aproximadamente 2,5% por consumidor.
Apesar do aumento no preço do café, a queda no volume de compras foi relativamente menor, uma vez que a alta nos preços desse produto já havia começado a impactar o consumidor no ano passado. Um movimento semelhante foi observado com o azeite, que também sofreu aumento antes de afetar os hábitos de compra.
Os chamados "produtos indulgentes", como chocolate e biscoitos, também apresentaram quedas significativas nas vendas. O chocolate registrou uma diminuição de mais de 5% nas unidades compradas, enquanto os biscoitos caíram 3,7%. Itens como leite condensado e creme de leite apresentaram queda de cerca de 2,5%.
Outro dado relevante diz respeito aos produtos de limpeza e higiene pessoal. Embora esses itens não tenham sofrido aumentos significativos de preço, houve uma leve redução no volume de compras. Produtos como lava-roupas líquido e em pó, além de sabonetes e desodorantes, apresentaram queda no consumo.
De acordo com o diretor da Varejo 360, Fernando Faro, isso indica que os preços dos alimentos estão pressionando outras categorias. "As pessoas estão tendo que fazer escolhas e estão priorizando a alimentação. Para garantir a xícara do café, elas estão abrindo mão de outra coisa. O cobertor está curto. Estamos falando de classe média para baixo, principalmente baixa renda, que é o consumidor que tende a replicar esse movimento", explica Faro.
Outra mudança observada foi a troca de marcas mais caras por opções mais acessíveis. A busca por marcas próprias, que são geralmente mais baratas, tem sido uma das tendências mais fortes no mercado. Em janeiro, as vendas de itens de marcas próprias cresceram cerca de 20% em relação ao mesmo mês de 2024.
A adaptação do consumidor ao cenário inflacionário é gradual. Ao invés de desistir completamente de certos produtos, os consumidores têm adotado estratégias como fracionamento das compras e adiamento de aquisições.
Embora a redução no consumo de indulgências alimentares, produtos de higiene e beleza ainda não tenha sido significativa, há uma queda nas vendas de bens semiduráveis, como TVs e eletrodomésticos, especialmente no início deste ano.