O dólar apresenta queda nesta quinta-feira (7), com o mercado repercutindo alta da taxa Selic pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) e a expectativa pelo pacote de corte de gastos pelo governo federal.
Os Estados Unidos ainda seguem no radar. O Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) decide sobre a taxa de juros americana nesta tarde, enquanto a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais continua movimentando os mercados globais.
Às 11h49, a moeda caía 0,37%, cotada a R$ 5,654 na venda, apagando os ganhos de mais cedo. Já a Bolsa subia 0,41%, aos 130.878 pontos, com ajuda da disparada de quase 4% dos papéis da Vale.
O Copom optou por aumentar a taxa básica de juros do país em 0,50 ponto percentual, a 11,25% ao ano, na noite de quarta-feira. O movimento veio em linha com o esperado pelo mercado.
Para analistas consultados pela Folha, a decisão é reflexo de incertezas em relação à inflação, à política fiscal e ao cenário externo, que, no futuro, podem levar a um ciclo de altas ainda mais forte caso não sejam propriamente endereçados no curto e no médio prazo.
"Podemos interpretar que o ciclo está mais na mão do Ministério da Fazenda com o corte de gastos públicos do que propriamente do BC, e, também olhando para um âmbito mais internacional, do ciclo de corte de juros do Fed", disse Matheus Spiess, analista da Empiricus.
O mercado aguarda as medidas de contenção de gastos prometidas pelo governo federal em meados de outubro. O pacote visa dar mais sustentabilidade e longevidade ao arcabouço fiscal —e atende a temores de investidores quanto ao desequilíbrio entre despesas e arrecadações do país, que tem pressionado a dívida pública.
A expectativa é que ele seja divulgado ainda nesta semana. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que terá mais uma reunião nesta quinta para fechar as medidas fiscais, ressaltando que ainda há "dois detalhes" a serem discutidos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro Rui Costa (Casa Civil) e a equipe econômica do governo —formada por Haddad e pelas ministras Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação)— se reuniram nos últimos dias com os titulares das pastas que poderão ser afetadas pelo pacote de gastos.
Carlos Lupi (Previdência Social), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Nísia Trindade (Saúde) e Camilo Santana (Educação) foram ouvidos nesta semana.
"Acredito que o governo irá demorar um pouco mais para anunciar o pacote, até porque é preciso que ele tenha um efeito significativo no mercado. Talvez, por causa disso, ainda não saibamos a magnitude dos cortes", diz Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
Analistas esperam um corte de, no mínimo, R$ 40 bilhões nos gastos públicos. De acordo com Haddad, o presidente Lula terá uma conversa com os líderes das duas Casas do Congresso —Arthur Lira, da Câmara dos Deputados, e Rodrigo Pacheco, do Senado— para discutir o envio do pacote para análise dos parlamentares.
É possível que, por causa da negociação com o Congresso, o anúncio fique para a próxima semana, segundo fontes ouvidas pela Reuters.
A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos adiciona ainda mais atenção à cena fiscal brasileira. A leitura de investidores é de que, com o republicano na Casa Branca, o mundo entrará em um período de dólar e juros mais altos, restando ao Brasil fazer o "dever de casa" nas contas públicas para reduzir a pressão.
Isso porque, caso cumpra suas promessas de campanha, ele fará um novo mandato com aumento mais intenso das tarifas sobre importados, corte de impostos, deportações em massa e redução da independência do Fed.
No comércio exterior, a promessa é aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA, incluindo as que vêm de países aliados, e em pelo menos 60% sobre as da China.
As tarifas inibem o comércio global, reduzem o crescimento dos exportadores e pesam sobre as finanças públicas de todas as partes envolvidas. É provável que elas aumentem a inflação nos Estados Unidos, forçando o Fed a agir com juros altos por mais tempo —o que fortalece o dólar.
O banco central americano se reúne nesta tarde para decidir sobre juros, e o mercado projeta que o ritmo de cortes na taxa de juros irá desacelerar. Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto percentual é de 97%.
No encontro de setembro, o banco central cortou os juros em 0,50 ponto, levando a taxa à banda de 4,75% e 5% —o primeiro afrouxamento monetário em quatro anos.
A decisão desta tarde não deve pesar os possíveis efeitos do novo mandato de Trump na economia, segundo analistas.
"Acredito que demore um pouco mais para que o Fed considere [os impactos de Trump] na decisão. Mas, daqui para frente, a expectativa é que ele seja mais cauteloso, no aguardo de quais serão as políticas do novo governo, os nomes que serão indicados para a economia, para tomar as próximas decisões de juros", afirma Thiago Avallone, da Manchester Investimentos.