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Dólar sobe e Bolsa cai, investidores adotam cautela antes de resultado das eleições dos EUA e do pacote de cortes do governo

O mercado aguarda a divulgação do pacote de corte de gastos do governo federal, que, como afirmou o ministro Fernando Haddad

Dólar sobe e Bolsa cai, investidores adotam cautela antes de  resultado das eleições dos EUA Reprodução/Valter Campanato/Agência Brasil

O dólar apresenta leve alta nesta terça-feira (5), em meio à espera pelo anúncio de medidas de contenção de gastos do governo brasileiro e pelo resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Às 13h, o dólar subia 0,18% e estava cotado a R$ 5,793. Já a Bolsa caía 0,42%, aos 129.962 pontos, com o balanço do Itaú entre os destaques do noticiário corporativo.

Os investidores adotam cautela nesta terça-feira, último dia para os americanos escolherem entre Kamala Harris, atual vice-presidente democrata, e Donald Trump, ex-presidente republicano, para a Casa Branca.

Os dois chegam tecnicamente empatados ao dia da eleição, numa disputa que pode ser a mais acirrada da história dos Estados Unidos.

Mas, ainda que as pesquisas de opinião indiquem um cabo de guerra equilibrado entre os dois candidatos, o mercado de apostas projeta maior probabilidade de uma vitória de Trump. Na Polymarket, a maior plataforma de previsões do mundo, o republicano tem 62% de chance de vencer.

As apostas de um retorno do ex-presidente ao poder têm pautado o mercado financeiro nos últimos dias, que passou a precificar o impacto das propostas de Trump na economia.

O republicano promete aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos —medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a manter juros elevados por mais tempo, o que fortalece o dólar.

No último final de semana, no entanto, pesquisas de opinião consideradas "padrão ouro" indicaram força de Kamala em estados cruciais, o que pode levar a uma virada democrata no pleito. O movimento desmontou parte das apostas em Trump na segunda-feira, e, no câmbio, isso se refletiu em perdas globais da moeda norte-americana.

"Esse movimento de recuperação da Kamala não muda muito o cenário total de que a eleição ainda é muito acirrada, praticamente empatada, impossível de antecipar o seu vitorioso. Mas levou os agentes a desmontarem algumas das suas posições que eles assumiram nas últimas semanas", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

A indefinição sobre o resultado das eleições —que pode levar, como ocorreu na disputa de 2020— inspira cautela entre os operadores, que aguardam sinalizações mais concretas antes de tomar posições de investimentos.

Na ponta doméstica, a moderação vem redobrada. O mercado aguarda a divulgação do pacote de corte de gastos do governo federal, que, como afirmou o ministro Fernando Haddad (Fazenda) na véspera, poderá ocorrer ainda nesta semana.

Segundo ele, as medidas de contenção de despesas estão "muito avançadas" do ponto de vista técnico. Na própria segunda-feira, em reunião no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com a equipe econômica e com ministros que poderão ser atingidos pelo pacote.

Estavam presentes Haddad e as duas outras ministras que integram a ala econômica, Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviço Público), além do chefe da Casa Civil, Rui Costa. Também participaram Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Nísia Trindade (Saúde) e Camilo Santana (Educação).

O encontro durou cerca de três horas, mas terminou sem nenhum anúncio de medidas.

A Fazenda informou após o encontro que vai seguir se reunindo com ministérios que podem ser afetados pelos cortes nos gastos.

"O Ministério da Fazenda informa que, na reunião desta segunda-feira, o quadro fiscal do país foi apresentado e compreendido, assim como as propostas em discussão. Nesta terça, outros ministérios serão chamados pela Casa Civil para que também possam opinar e contribuir no âmbito das mesmas informações", afirma a pasta.

Não foi informado quais ministérios serão ouvidos.

O movimento do governo ocorre após dias de estresse no mercado financeiro. O dólar disparou na última sexta-feira para R$ 5,86, a maior cotação desde maio de 2020, em reação agravada pela notícia da viagem —posteriormente cancelada— de Haddad à Europa.

O ministro passaria a semana em eventos em Paris, Londres, Berlim e Bruxelas, e, segundo um interlocutor ouvido pela Folha de S.Paulo, a ausência do chefe da ala econômica tornaria "praticamente impossível" que o plano fosse definido nos próximos dias —a contragosto do mercado, que espera celeridade na resolução das incertezas fiscais.

"A permanência de Haddad é uma sinalização muito importante para os investidores. É claro que não soluciona o problema, ainda é preciso ver como o pacote será apresentado ao Congresso e negociado nas alas políticas, mas já é um bom sinal", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

"[O detalhamento] vai ser importante para trabalhar melhor as expectativas da trajetória de endividamento no contexto do arcabouço fiscal, para ele ser executivo."

Para o mercado, o governo precisa ajustar a ponta das despesas, e não só reforçar a arrecadação, para garantir a longevidade do arcabouço fiscal.

A previsão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro. Na ocasião, afirmou que as medidas seriam enviadas após as eleições municipais, que terminaram no domingo passado (27).

A semana ainda guarda as decisões de juros do Fed e do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central).

Por causa das eleições presidenciais, a reunião da autoridade norte-americana foi adiada em um dia e irá ocorrer entre quarta e quinta-feira, enquanto a decisão do comitê brasileiro será anunciada na quarta-feira, como de praxe.

A expectativa dos agentes financeiros é que o Fed dê continuidade ao ciclo de afrouxamento nos juros. Na reunião de setembro, o colegiado reduziu a taxa em 0,5 ponto percentual, levando-a à banda de 4,75% e 5% —o primeiro corte em quatro anos.

Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto marca 96%. A diminuição do ritmo vem na esteira de uma bateria de dados que indicaram que a economia dos Estados Unidos segue forte, com inflação convergindo à meta de 2% e mercado de trabalho resiliente.

O movimento é o oposto do BC brasileiro. Aqui, o Copom decidiu reiniciar o ciclo de apertos na taxa Selic na reunião passada, quando optou por uma alta de 0,25 ponto percentual e levou os juros a 10,75% ao ano.

Com a piora no cenário econômico nos últimos 45 dias, o mercado espera que o comitê acelere o ritmo de altas para 0,5 ponto percentual.

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