
A economia brasileira começou 2025 em um ritmo desacelerado, de acordo com indicadores setoriais divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a entrada da safra de grãos pode impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) ao longo do primeiro trimestre.
Dados do IBGE mostram que, em janeiro, o volume de vendas do comércio varejista registrou variação negativa de 0,1% em relação a dezembro, permanecendo praticamente estagnado. Esse foi o terceiro mês consecutivo de queda ou estabilidade, após o recorde alcançado em outubro de 2024.
O setor de serviços também apresentou recuo de 0,2% no primeiro mês do ano, enquanto a produção industrial ficou estagnada (0%). Os números foram divulgados pelo IBGE ao longo da semana.
Desaceleração econômica e impacto dos juros
Especialistas apontam que a economia segue um ritmo mais lento neste início de ano. "Tem uma sinalização de que a economia está em um ritmo mais devagar", avalia a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro.
Segundo a economista, o ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic), iniciado em setembro, ainda não gerou reflexos significativos sobre a atividade econômica. No entanto, a expectativa é de maior impacto no consumo e nos investimentos nos próximos meses.
Tatiana também destaca o aumento das incertezas econômicas, mencionando fatores, como a condução da política fiscal do governo federal e o cenário internacional, especialmente após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
A inflação dos alimentos também tem influenciado o consumo. Em janeiro, as vendas do varejo no segmento de hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo caíram 0,4%. Outros setores também registraram retração, como artigos farmacêuticos (-3,4%), móveis e eletrodomésticos (-0,2%) e tecidos, vestuário e calçados (-0,1%).
O economista da gestora Porto Asset, Felipe Sichel, avalia que há sinais de uma desaceleração gradual da atividade econômica. "A mensagem que fica, quando a gente olha a variação mês a mês, é de uma desaceleração gradual da atividade econômica", afirma.
"A gente começa a ver esse arrefecimento. Não é um colapso. É um arrefecimento", acrescenta Sichel.
Embora o impacto do aumento da Selic ainda esteja em avaliação, Sichel aponta que fatores, como a inflação e a queda de índices de confiança podem estar contribuindo para a desaceleração econômica.
Atualmente, a taxa básica de juros está fixada em 13,25% ao ano, e as projeções do mercado indicam que pode alcançar 15% até o final de 2025, conforme o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC).
A elevação dos juros é um instrumento utilizado pelo BC para conter a inflação, reduzindo a demanda por bens e serviços e aliviando a pressão sobre os preços. No entanto, esse movimento também tende a desacelerar a economia, tornando o crédito e os investimentos mais caros.
O Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por definir a Selic, realizará sua próxima reunião nos dias 18 e 19 de março.
Safra recorde deve estimular o PIB
Apesar do cenário de desaceleração econômica, a expectativa para a safra de grãos pode trazer um alívio para o PIB. Segundo projeção do IBGE, a produção agrícola brasileira deve atingir um volume recorde de 323,8 milhões de toneladas em 2025, superando em 2,3% a marca histórica de 316,4 milhões de toneladas registrada em 2023.
"O efeito do agro vai vir muito forte. Deve fazer com que o PIB tenha um crescimento melhor no primeiro trimestre do que foi no quarto trimestre do ano passado", avalia Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
Nos últimos três meses de 2024, o PIB registrou leve crescimento de 0,2%. Para o primeiro trimestre de 2025, a previsão de Vale aponta alta de 0,9%, impulsionada pelo setor agrícola.
"Isso vai dar uma sensação de que a economia não está desacelerando, mas, fora do agro, claramente a gente vê esse processo", analisa.
"A agropecuária, especialmente no interior e em regiões agrícolas mais fortes, terá um papel fundamental na composição do PIB. Em contraposição, o restante da economia seguirá em desaceleração", complementa.
A Galapagos Capital estima crescimento de 0,6% para o PIB no primeiro trimestre, enquanto a Porto Asset projeta alta de 0,5% no mesmo período e 2% no acumulado de 2025. Em 2024, o PIB cresceu 3,4%, impulsionado pelo consumo e pelos investimentos, enquanto a agropecuária enfrentou dificuldades devido a condições climáticas adversas.
Para 2025, a expectativa é de mudança nesse cenário, com a agropecuária assumindo um papel de destaque no crescimento econômico.