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Escândalo: Bolsonaro arrisca bilhões e desencadeia calote na Caixa em busca da reeleição

.Empréstimos e calotes bilionários revelam riscos e estratégias questionáveis durante as eleições

Vatler Campanato/Agência Brasil Vatler Campanato/Agência Brasil

Em meio à partida eleitoral de 2022, Jair Bolsonaro testemunhou o colapso de sua primeira jogada no tabuleiro político, voltada para conquistar o apoio dos menos favorecidos. A introdução do Auxílio Brasil não rendeu os frutos desejados nas sondagens eleitorais. Determinado a aumentar suas chances, o ex-presidente optou por elevar a aposta, trazendo para seu lado um aliado estratégico: a Caixa Econômica Federal, uma peça valiosa em seu jogo político.

Através de uma medida provisória, foram plantadas duas sementes de crédito na Caixa, voltadas para essa parcela específica do eleitorado. Durante o período eleitoral, o banco estatal despejou generosamente R$ 10,6 bilhões em direção a 6,8 milhões de indivíduos. No entanto, o destino não sorriu para Bolsonaro na busca pela reeleição, e a política de "torneira aberta" deixou para trás uma dívida gigantesca nas contas do banco, revelada apenas agora, quando os débitos começam a emergir das sombras.

No dia 17 de março de 2022, Jair Bolsonaro, juntamente com Pedro Guimarães, que ocupava o cargo de presidente da Caixa naquela época, firmaram a assinatura de duas medidas provisórias, a primeira era uma linha de crédito para negativados e a segunda, liberação de empréstimos consignados ao Auxílio Brasil.

No palco político, em um evento repleto de holofotes, Bolsonaro e Pedro Guimarães protagonizaram uma cena aparentemente amigável durante o lançamento de duas novas jogadas estratégicas. Porém, por entre as cortinas do poder, um temor sussurrava nas mentes dos líderes.

Primeira medida

Na véspera, uma pesquisa da Quaest expôs a frágil posição de Bolsonaro, com apenas 19% de intenção de voto entre os eleitores de baixa renda, enquanto Lula alcançava 54% de apoio. Nesse cenário, a nova aposta de Bolsonaro dependia da colaboração de Pedro Guimarães e da abertura generosa dos cofres da instituição estatal.

A primeira carta jogada foi o "SIM Digital", um trunfo de microcrédito que oferecia empréstimos de R$ 300 a R$ 1.000, abrangendo até mesmo aqueles aflitos por dívidas de até R$ 3.000. Para acessar esses recursos, bastava um toque mágico nos celulares. Embora a medida provisória permitisse que outros jogadores bancários participassem desse jogo, a Caixa foi a única disposta a apostar e suportar os riscos da empreitada.

Nos primeiros trinta dias, a instituição financeira estatal concedeu empréstimos no valor de R$ 1,3 bilhão, conforme divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, órgão responsável por monitorar o desempenho dessa linha de crédito.

Curiosamente, a Caixa se manteve relutante em compartilhar informações adicionais sobre o assunto. Surpreendentemente, cinco em cada seis pessoas que solicitaram o crédito apresentavam restrições financeiras. Apesar do perfil de risco considerável, as taxas de juros iniciavam em 1,95% ao mês.

Guimarães apoiava fervorosamente a campanha de Bolsonaro enquanto promovia o microcrédito. Em um jantar com empresários, afirmou que deixaria o país caso Bolsonaro não fosse reeleito. Também buscava se cacifar para uma candidatura à vice-presidência com o apoio de Ricardo Salles. Bolsonaro elogiou Guimarães e mencionou a possibilidade de tê-lo como companheiro de chapa. O microcrédito serviria como uma porta de entrada na política para Guimarães, que buscou inspiração no programa de microcrédito de Bangladesh, premiado com o Nobel da Paz.

O governo brasileiro não implementou a garantia solidária, um elemento-chave do programa de microcrédito de Bangladesh. Em vez disso, optou por uma solução rápida e arriscada: um fundo garantidor para cobrir possíveis calotes, financiado pelo FGTS. No entanto, um ano depois, foi revelado que a inadimplência atingiu 80%, com apenas R$ 200 sendo pagos de cada R$ 1.000 emprestados.

O fundo garantidor será acionado para cobrir o déficit decorrente da alta inadimplência. A quantia exata ainda é incerta, mas estima-se que o FGTS possa ser responsável por cerca de R$ 1,8 bilhão, enquanto a Caixa arcaria com aproximadamente R$ 600 milhões.

Não deu certo

A expectativa de Guimarães de emprestar uma quantia expressiva de dinheiro no programa SIM Digital dependia da regularidade dos primeiros devedores em pagar suas parcelas, permitindo que a Caixa recuperasse os recursos e os emprestasse novamente. No entanto, essa expectativa não se concretizou.

A taxa de inadimplência foi alarmantemente alta desde os primeiros meses, causando preocupação entre os especialistas da Caixa. Como resultado, o banco se viu limitado a emprestar apenas o valor do fundo garantidor - um montante fixo. Em um curto período de três meses, a Caixa já havia emprestado uma grande parte desse valor, ficando próximo do limite disponível.

Foi nesse contexto que surgiram as denúncias de assédio sexual e moral contra Guimarães, levando-o a renunciar ao cargo e negar as acusações. Com a ausência do líder do programa SIM Digital no comando, os técnicos da Caixa tomaram uma medida drástica: suspenderam os empréstimos para pessoas com restrições financeiras, que eram o foco principal do programa. Como resultado, a liberação de dinheiro despencou significativamente.

Segunda etapa

A implementação do consignado do Auxílio Brasil mostrou-se complexa. O governo enfrentou o desafio de descontar as parcelas do empréstimo diretamente de um benefício destinado à superação da pobreza. A regulamentação do programa foi finalizada apenas em 26 de setembro de 2022.

No primeiro turno das eleições, realizado em 2 de outubro, Bolsonaro recebeu 6 milhões de votos a menos que Lula. Durante a campanha para o segundo turno, que estava em pleno andamento, a Caixa iniciou a oferta do consignado.

Apesar dos juros serem quase o dobro dos aplicados no programa SIM Digital, com uma taxa de 3,45% ao mês, a demanda por crédito foi ainda mais explosiva. Nos rankings anuais de buscas no Google, o termo "empréstimo do Auxílio Brasil" liderou a lista de pesquisas sobre "como fazer".

Consequências

Para cumprir as medidas provisórias de Bolsonaro, a Caixa precisou reduzir seus ativos de alta liquidez, chegando ao valor de R$ 162 bilhões no ano eleitoral, uma queda de R$ 70 bilhões em relação ao ano anterior. Esse foi o patamar mais baixo registrado desde 2017, de acordo com a série histórica.

Os dados disponíveis não revelam o risco preciso ao qual a Caixa se expôs durante as eleições, uma vez que eles são fornecidos em uma base trimestral. No entanto, nos dois últimos meses do ano, após a derrota de Bolsonaro, a Caixa adotou medidas drásticas ao reduzir significativamente a concessão de novos créditos. Isso fazia parte de um plano de contingência confidencial, visando recuperar a liquidez da instituição.

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