Os juros futuros operaram em baixa desde a abertura ao fechamento da sessão desta terça-feira (12), em reação ao IPCA de agosto abaixo do consenso das estimativas e com leitura benigna dos preços de abertura. O recuo foi mais acentuado nos vencimentos intermediários, que concentram as expectativas para o ciclo de afrouxamento monetário como um todo. O IPCA estimulou as apostas numa aceleração do ritmo de corte da Selic para 0,75 ponto para as reuniões de 2023, exceto a de setembro, na semana que vem, e numa taxa terminal menor.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,435%, de 10,479% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caiu a 10,06%, de 10,14%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,30%, de 10,36% ontem, e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 10,85%, ante 10,90% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2031 terminou em 11,16%, de 11,21%.
O IPCA subiu 0,23% em agosto, no piso das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, cuja mediana era de 0,28%. Em julho, havia subido 0,12%. Na abertura, a média dos preços dos núcleos (0,28%) avançou menos do que o esperado (0,30%), enquanto a desaceleração em serviços (0,08%) e serviços subjacentes (0,14%) foi maior do que a prevista (0,15% e 0,26%).
O economista Álvaro Frasson, do BTG, afirma, em relatório, que os componentes mais sensíveis para o segundo estágio da política monetária (núcleos e serviços) continuam mostrando arrefecimento importante e a "leitura bastante positiva em agosto pode ajudar a 'estancar' as revisões altistas de IPCA 2024 que vinham acontecendo há três semanas seguidas", no relatório Focus.
Para o Copom de setembro, não houve alteração na precificação das apostas de Selic, com a curva mantendo em cerca de 10% a chance de aceleração do ritmo para 0,75 ponto e 90% de probabilidade de queda de 0,50 ponto. Profissionais argumentam que há pouco espaço para doses maiores no atual quadro de piora das expectativas futuras e possibilidade de novo reajuste da gasolina em função da pressão do petróleo. Hoje o tipo Brent, referência para a Petrobras, subiu 1,57%, atingindo US$ 92,06 por barril.
"Uma das coisas que também está segurando é o ciclo de juros nos EUA. Está travando um pouco o mercado", acrescenta o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz. Amanhã, sai o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) de agosto nos Estados Unidos, o que poderá influenciar as expectativas sobre as ações do Federal Reserve. Por ora, a percepção é de que os juros por lá tendem a ficar em níveis elevados por um período prolongado.
Desse modo, para o economista, o Copom deve reduzir novamente a Selic em 0,5 ponto na próxima semana, mas vê espaço para ampliação do ritmo mais à frente, especialmente se o câmbio ajudar. "A aprovação da reforma tributária pelo Senado poderá atrair investimentos estrangeiros", explicou.
Para além do próximo Copom, o mercado vê chance maior de redução de 0,75 ponto da Selic nas reuniões de novembro (25%) e dezembro (40%), segundo o economista-chefe do banco BMG, Flávio Serrano. Para o fim de 2023, os DIs apontam taxa básica de 11,55%, ou seja, chance maior de 11,50%, e para o fim de 2024, de 9,35%, no meio do caminho entre 9,25% e 9,50%. Ontem, as precificações eram de 11,61% e 9,43%, respectivamente.
A leitura do IPCA também aliviou a inflação implícita das NTN-B no mercado secundário, com as taxas entre 3 e 4 anos caindo em torno de 5 pontos-base.