Sob “observação negativa”, Fitch avalia liquidez e o futuro do BTG
Diário da Manhã
Publicado em 2 de dezembro de 2015 às 02:50 | Atualizado há 9 anosSÃO PAULO. Depois de colocar a nota de risco do BTG Pactual em “observação negativa”, em seguida à prisão de André Esteves, a agência Fitch Rating tem até seis meses para definir se a instituição será ou não rebaixada, como fez ontem a Moody’s. Nada impede, porém, que, diante de um fato novo a agência tome um decisão a qualquer momento, antes desse prazo, afirmou nesta quarta-feira Claudio Gallina, diretor sênior e responsável pela área de bancos da Fitch.
— Com a prisão de Esteves, colocamos a perspectiva do banco sob observação negativa e agora acompanhamos a evolução da liquidez do banco. Fazemos também uma análise do futuro da franquia. Que banco será o BTG no futuro? Esse é um ponto muito importante nessa avaliação. Novos eventos, como uma saída forte de recursos por muito tempo, podem levar o comitê a uma revisão (da nota do banco) em um prazo mais curto — disse Gallina, que se recusou a avaliar pontualmente a saída de Esteves do controle da instituição. — O rating da última revisão é o que está valendo.
Eduardo Ribas, responsável pela análise do BTG na Fitch, observou que, por tratar-se de um banco de investimentos, a “confiança dos clientes e das contrapartes” é fator muito importante a ser levado em conta nesse processo.
— Neste momento não dá para saber se a revisão da nota vai se precipitar ou se levará seis meses. Quando tivermos elementos para tomar uma decisão, faremos isso. Existe a possibilidade de redução de rating, mas não significa que isso vai acontecer — disse Ribas.
Segundo Gallina, os desdobramentos da Lava-Jato estão sendo considerados na análise da agência relacionada ao BTG, e também ao setor como um todo.
— Monitoramos os rumos das investigações da Lava-Jato e se (elas) entram no setor bancário. Ou se (o envolvimento do BTG) foi um caso isolado.
SETOR BANCÁRIO
Apesar dos lucros elevados, a Fitch projeta um cenário “difícil” para os bancos no Brasil nos próximos dois anos. O ambiente recessivo, combinado com os juros e a inflação altos e o aumento do desemprego deve ganhar contornos ainda mais negativos em 2016, o que aumenta o risco de perdas das instituições.
— Essa espiral negativa tem gerado a alta do desemprego, que projetamos devem chegar a 14% em 2016, e o crédito que foi o grande dinamizador da ascensão de milhões de consumidores estará ainda mais caro e restrito. A mensagem é que boa parte das pessoas e empresas que passaram a lidar com crédito nos últimos cinco a sete anos não foram ainda testados em situação de estresse de crédito e isso pode comprometer sobremaneira as carteiras dos bancos — disse Gallina.
A Fitch não faz previsões, mas espera novas elevações da inadimplência, mas avalia que, além do aumento entre 35% e 40% que o setor teve de fazer em suas provisões este ano, para 2016 precisarão de um reforço adicional de no mínimo 13,4%, podendo chegar 54,4% em suas reservas contra perdas.
Apesar disso, a agência não vê risco de quebra das grandes instituições, embora os bancos de porte médio possam ser alvo de aquisições.
— O ponto positivo é que os bancos têm um colchão de R$ 150 bilhões para provisionar sem comprometer sua base de capital (Basileia). O sistema portanto tem capacidade boa de absorver perdas. Mesmo diante da possibilidade de um aumento mais forte da inadimplência, entendemos que o sistema está apto a absorver isso — disse Gallina.