O Brasil é um país com mais de 200 línguas faladas, o que expressa uma quantidade considerável de minorias dentro de um mesmo povo. Dentre essas minorias, está a comunidade surda, que como um espelho do próprio país, é uma comunidade heterogênea e diversa. Cada pessoa tem sua experiência individual com a surdez. São muitos os fatores que influenciam na forma como a pessoa se relaciona com a língua de sinais, além de outras questões que precisam ser consideradas, como de forma simplificada, o grau de surdez e a vivência familiar. Dentre suas nuances, a surdez também é uma questão cultural e identitária, o que une elementos como uma língua própria, língua de sinais, e uma comunidade própria, a comunidade surda. Estes elementos atuam juntos trazendo pertencimento aos seus representantes e representados.
Os surdos têm voz e para que esta seja ouvida, o dia 26 de setembro celebra o Dia Nacional dos Surdos. A data é uma homenagem à fundação da primeira escola para surdos no Brasil, em 1857, no Rio de Janeiro, quando foi inaugurado o Instituto Nacional de Educação de Surdo (INES). Além de um dia específico, a comunidade também tem um mês de celebração, conhecido como “Setembro Azul”. A cor remonta a um hábito comum durante a Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas identificavam todos os deficientes com uma faixa azul no braço. O mês é dedicado à conscientização sobre a comunidade surda, ressaltando que é necessária a ampliação da acessibilidade e da inclusão social.
Uma das principais conquistas da pessoa com deficiência auditiva ao longo dos anos foi o reconhecimento nacional da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), como meio legal de comunicação e expressão, isto através da lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 e do Decreto nº 5.626/2005. Portanto, o ato de se comunicar através da Libras é fazer o uso da linguagem. Apesar as conquistas alcançadas, são reais as que ainda se tem que lutar, que estão por conquistar. De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos: "É importante desenvolver políticas públicas para avançar ainda mais na inclusão dessas pessoas na sociedade", ressalta.
Aos 14 anos, Alda Leaby se encantou com a língua de sinais, depois de presenciar pela primeira vez uma interpretação. A partir disso, começou a estudar libras e trabalha como intérprete há 33 anos. Especialista em Libras, Psicopedagogia e Educação inclusiva, Alda é professora da língua de sinais na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), e tem uma experiência intensa com a realidade dos surdos, já tendo trabalhado como intérprete em ONGs, na Assembléia Legislativa, na TV câmara, na igreja, em uma Associação em prol da causa e em movimentos livres.
"Se fazer entendido é um grande desafio para a pessoa surda, pois ainda é escasso o número de pessoas que falam a língua de sinais no Brasil. Além disso, estar em uma escola que tenha condições reais para aconteça de fato a inclusão. Eles não têm as oportunidades que nós ouvintes temos. Muitas pessoas surdas chegam aos 40, 50 anos, sem perspectiva de vida, sem sonhos, sem possibilidades, isso por falta de oportunidade", lamenta Alda Leaby.
Alda também frisa sobre a relevância do 26 de setembro: "É um momento importante para trazer para a sociedade a importância da língua, o orgulho de ser surdo, os direitos da comunidade, a luta pelas causas. As pessoas surdas não se vêem e nem são coitados. Eles têm uma língua, uma cultura, possibilidades, mas ainda não têm oportunidades", afirma.
Para além da importante celebração das conquistas alcançadas pela comunidade surda, a data também busca reiterar a contínua luta da minoria linguística, levantando temas como os direitos dos surdos, acessibilidade, cultura e identidade, questões importantes para reflexão de todos.