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EDUCAÇÃO

O preço da educação no Brasil

Muito se pensa sobre a idade ideal para colocar o filho na escola, aceito pelo senso comum que seria a partir de dois anos e meio a três anos. Alguns pais, optam pela iniciação um pouco mais tarde ou mesmo pela educação domiciliar. Independente do modelo educacional, seja em escolas públicas ou particulares, ou idade inicial escolhida pelas famílias, não dá para ignorar que os custos são altos, o que não está no campo de visão dos pais ao ver seus filhos no jardim da infância.

A jornada educacional de uma criança desde a infância até a juventude é dividida em fases. Primeiro vem a educação infantil: berçário, maternal I, maternal II, jardim I e jardim II; em seguida o fundamental I, que vai da primeira à quinta série e depois o fundamental II, da sexta à nona série. Concluídos os fundamentais, vêm o desafiador ensino médio, fase de preparação intensiva para a universidade. Quando o aluno finalmente consegue entrar na faculdade, tendo ou não feito um cursinho, continuar na vida acadêmica se torna uma escolha, seja para uma pós graduação, mestrado, doutorado ou pós doutorado.

No entanto, descrever a jornada estudantil dessa forma, é simplificar em muito o processo. É preciso ter em vista que cada aluno tem suas particularidades, sua personalidade única, seu modelo de aprendizado facilitador, suas próprias dificuldades ou aptidões, suas preferências. Além das questões internas, existem questões externas, como por exemplo, o aluno morar na zona rural, ter menor poder aquisitivo, sofrer com déficits, possuir alguma deficiência física, ter um ritmo diferente que gere a necessidade de acompanhamento ou reforço especializado e sala adaptada. São inúmeras as questões que circundam este cálculo, o que faz crer que o preço monetário é alto, mas não é o único preço pago, pois muitas famílias se desdobram em esforços para garantirem o que chamam de "futuro dos filhos".

EDUCAR NO BRASIL CUSTA CARO

Segundo apuração, os principais custos de uma família que coloca seus filhos em redes de educação privada, têm os principais custos referentes à matrícula, lista de materiais, e mensalidades e livros didáticos. Já as famílias com filhos na rede pública, os maiores custos são referentes a cursos ou atividades extracurriculares. Levando em consideração que no Brasil, a educação básica é obrigatória dos 4 aos 17 anos, o que soma 13 anos de educação formal, e adicionando os 4 anos de faculdade, dispensando prosseguimento na vida acadêmica, são 17 anos de educação formal. De acordo com dados da Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), educar uma pessoa no Brasil custa, em média, R$ 17.900 anualmente, cerca de R$ 1.492 mensalmente. O número pode chocar e não se aplica a todas as famílias, atentando para o fato que as circunstâncias e oportunidades são diferentes em cada uma delas. Apesar das possíveis e existentes discrepâncias, devido as muitas diferenças de renda, essa é uma média do investimento educacional, o que totaliza mais de 300 mil reais ao longo da vida estudantil e acadêmica.

Para a estudante de psicologia, Carla Cecília Gomes de Souza, a mais nova de três filhas, a participação, apoio e preços pagos por sua família, em virtude de sua educação, são motivos de gratidão: "Comecei como bolsista na escola, tendo em vista ser a terceira filha matriculada. Após um certo período de tempo, perdi esse direito e ficou inviável, financeiramente, para os meus pais manterem meus estudos lá. Contudo, tive o apoio para além da família nuclear, quando minha avó que já ajudava na mensalidade de uma de minhas irmãs, começou a ajudar também na minha. Os esforços de todos, me possibilitou estudar desde o ensino infantil ao médio, no mesmo sistema escolar, o que se estendeu também ao meu ingresso na faculdade, afirma Carla.

O PREÇO DA PRESENÇA: ENVOLVIMENTO FAMILIAR NA EDUCAÇÃO

O direito à educação é parte de um conjunto de direitos chamados de sociais e fundamentais, inspirados no valor da igualdade entre as pessoas. No Brasil este direito foi legitimado e reconhecido somente na Constituição Federal de 1988, sendo assim, antes disso o Estado não tinha a obrigação formal de garantir educação de qualidade a todos os brasileiros, o ensino público era funcionava como uma assistência, um amparo àqueles que não tinham condições financeiras. Além da Constituição Federal assegurar o direito à Educação, existem ainda outras duas leis que o complementam: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990; e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996.

Sem dúvidas, a educação prepara o cidadão para o trabalho e para a atuação na sociedade, encaminhando seu papel social. No entanto, de acordo com a professora Marília Garcez, a educação não é uma via de mão única, nem tampouco se dá em um ambiente apenas: "Muitos são os preços a serem pagos para garantir uma educação de qualidade. No entanto, há um preço pouco valorizado, sendo este que mais vale: o da presença. O maior preço que uma família pode pagar pela educação das suas crianças é a presença, a participação, o interessar-se e envolver-se de maneira ativa e responsiva. Mas um preço caro demais para um mundo apressado, sociedade ocupada e famílias que terceirizam tudo, inclusive a educação de seus filhos. Esperando, assim, da escola e dos professores, muito mais do que está ao nosso alcance, que são as questões direcionadas ao pedagógico. Tanto que, por diversas vezes, nosso trabalho pedagógico é afetado por demandas educacionais que deveriam - e precisariam - ser organizadas no lar, mas explodem na escola com todas as suas disfuncionalidades. Sim, a educação formal é um direito de todos, mas não podemos esquecer que esta não é a única maneira de educar. Somos seres educantes e educadores por natureza, estamos o tempo inteiro educando e sendo educados. Por isso, somos responsáveis pela educação informal que emerge em todos os âmbitos, que estamos inseridos, e por que não na família? Espaço este que passamos a maior parte do nosso tempo e vida… É preciso lembrar que nas sociedades primitivas - e até muito tempo depois disso - a família, o trabalho e a educação se relacionavam de maneira tal, que todas estas coisas tinham como espaço central a casa das famílias. As épocas passaram, as engrenagens sociais mudaram e tanto o trabalho, quanto a educação, passaram a se relacionarem muito pouco com o lar e a família. No entanto, estas novas configurações não podem eximir as famílias do grande preço a ser pago pela boa educação das suas crianças: o preço da presença. É preciso interrelacionar escola e família, não podemos confiar e responsabilizar a educação das crianças a uma única instituição, tampouco esperar que ela dê conta da complexidade que é educar um ser humano, nas suas demandas morais, sociais, emocionais e intelectuais. A educação precede e sucede a escola, o que não faz deste espaço menos importante e menos influenciador, só o faz não ser o único responsável pela formação humana", defende a professora.

Jean Piaget, um dos mais importantes psicólogos do século XX, que embora não fosse pedagogo, impactou a educação escolar com suas teorias, no Brasil principalmente nos anos 70, definiu o papel da escola, dizendo: "É ajudar o desenvolvimento intelectual do aluno, e o professor deve ser um facilitador, buscar condições para que o aluno aprenda, socialize-se com o meio físico, cognitivo, afetivo, tornando-se um indivíduo independente, autônomo, um organismo que ao agir sobre o meio e modificá-lo, modifica a si mesmo. A educação custa caro e leva tempo, esforços, presença, até que se colha o que ela objetiva, o que segundo Platão é "possibilitar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem ter".

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