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Precisamos mesmo do Dia da Mulher?

Artigo de Opinião

Por: Fabíola Mamede

Por que precisamos de um dia especial para nós? Isso significa que nos outros dias não somos especiais?

Precisamos do dia para sermos lembradas? Se não precisamos, é porque já estamos “lá”, e se já estamos “lá”, já somos vistas, e automaticamente “lembradas”? Será mesmo? E se for verdade, de que forma somos vistas e lembradas por aqueles que ali estão?


		Precisamos mesmo do Dia da Mulher?
Fabíola Mamede |.


E nos outros dias, nos tornamos invisíveis?

Alguns dirão que o Dia da Mulher é importante para mostrar o quanto somos importantes para todos, o quanto somos queridas, o quanto somos especiais, pois podemos ser “mães” (e as que não podem?!), pois somos guerreiras (e as que não se sentem assim?!); pois somos sensíveis (o que isso significa?); pois somos amadas (tem certeza?!); etc.

Outros dirão que é devido às suas raízes nos movimentos feministas e trabalhistas do final do século XIX e início do século XX, e que esse dia concretiza as lutas das mulheres por direitos trabalhistas, igualdade salarial, condições dignas de trabalho e participação política!

Mas a pergunta que sempre permeou minha adolescência, e hoje, na “adultice” parece maior do que nunca, pairando no ar e me angustiando, incomodando e atazanando, ainda me desassossega: Precisamos mesmo do Dia da Mulher?

Não pense você que com esse discurso “feminista” sou contra o dia 8 de março. Muito pelo contrário – gosto dele, gosto de ser mimada nesse dia; gosto de ganhar flores e chocolates; gosto de ser vista e lembrada; gosto de ser beijada pelos meus; gosto de tudo de bom que posso colher nessa data! Mas a pergunta continua: (...) acho que não preciso repeti-la, não é mesmo?

A inquietação que trago aqui é muito mais sobre o verbo “precisar” do que do substantivo “dia”: o dia 8 de março é um sintoma; uma celebração; ou um lembrete da desigualdade persistente?

Muitas vezes marcado por flores e mensagens bonitas, mas sem mudanças concretas, será que esse dia estaria contribuindo para a equidade de gênero? Ou apenas se tornando uma “homenagem vazia”, se apresentando mais como um paliativo e mascarando a falta de ações efetivas no restante do ano?

Pensemos também nele como uma ferramenta de perpetuação da cultura machista – será que precisar de um “dia especial” não reforça a ideia de que o restante do tempo é dominado pelos homens? E que se houvesse equidade real, talvez um dia exclusivo não fosse necessário?

Falando do ponto de vista profissional e jurídico, para atender àqueles que entendem essa data como uma concretização da luta das mulheres - a desigualdade salarial, a sobrecarga doméstica, a baixa representatividade política e jurídica são questões que um único dia resolve? E as leis de proteção à mulher? São suficientes ou apenas tentam mitigar uma cultura que ainda nos coloca em desvantagem?

Por isso, mais do que um dia, precisamos de uma mudança constante, de uma sociedade que reconheça e valorize as mulheres em todos os espaços, todos os dias. Ainda há desafios, mas seguimos firmes, com a força que nos define. Afinal, como canta Milton Nascimento na música Maria Maria: “Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”, e temos tudo isso de sobra. Que o Dia 8 de março não seja apenas uma pausa para homenagens vazias, mas um lembrete de que a luta continua — e de que, juntas, seguimos transformando o mundo.

Autora: Doutoranda em Ciências da Saúde / Medicina - UFG. Graduada em Educação Física - ESEFFEGO/UEG. Acadêmica do curso de Direito do Centro Universitário Araguaia. Estagiária no Observatório dos Direitos das Mulheres.

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