As transformações físicas e espirituais da psicologia arquetípica dos estudos de James Hillman a respeito da psicologia junguiana é que vão guiar os passos de “Rubedo”. O espetáculo da Companhia de Dança Siameses, de São Paulo (SP), é um dos destaques da programação de hoje, do Paralelo 16º, que acontece até amanhã na capital. A apresentação acontece às 20 horas, no Teatro Goiânia e a entrada é gratuita.
“Rubedo” é a mais recente criação coreográfica da companhia paulista. Sob a direção de Mauricio de Oliveira, a montagem encerra uma trilogia do grupo que busca da conciliação do corpo com o universo interior. A primeira montagem da série, que é inspirada na pesquisa dos escritos de James Hillman (1926-2011), o criador da psicologia arquetípica, foi “Nigredo” (2012), seguida por “Albedo” (2014), ambos termos do latim, que significam, respectivamente, escuridão e maturidade.
“Rubedo”– também uma palavra em latim – encerra, assim este ciclo e representa a iluminação e, acabou por ser um momento de reflexão sobre os 10 anos da companhia. E a trilogia alquímica se encerrou, de fato, de forma brilhante: esta montagem foi premiada pela APCA como Melhor Criação em Dança em 2016 e indicado ao Prêmio Governador do Estado 2017 como Melhor Espetáculo de Dança.
E todos estes anos de pesquisa junto à obra de Hillman, não foram apenas reconhecido pela crítica, como tornou-se uma jornada de autoconhecimento para a busca de uma dramaturgia de uma dança que se propõe a mostrar uma “costura interna” do grupo e de suas criações.
“Todo o trabalho da psicologia alquímica trata dos aspectos mais singulares da alma. Para nós, artistas do corpo, coube um mergulho nas nossas próprias convicções e também, nas prerrogativas do psicólogo James Hillman, para um mapeamento das metáforas que possam ocorrer a um indivíduo para narrar seu próprio universo”, compartilhou o diretor Mauricio de Oliveira.
Para alquimia dar certo no palco, “Rubedo” conta os efeitos dos videomakers Eduardo Alves e Cibelle Appes. “Os dois colaboradores nos ajudaram a criar um universo onírico com a projeção de video mapping. Fora isso, tivemos também a colaboração do criador dos objetos de espuma manipuláveis, Duda Paiva”, explica o diretor.
Com todas as inspirações que a “Rubedo” possibilitou Maurício de Oliveira antecipa ao DMRevista que grupo já se prepara para um novo projeto desta vez sobre questões do negro na contemporaneidade. “A montagem irá partir de estudos da história do candomblé no Brasil e de como o negro elabora sua presença e sua resistência num território hostil, embora seja ele mesmo o agente que propiciou a construção e elevação de todo um continente”.
ARTE NÃO É TRIVIAL
Ao notar na programação do Paralelo 16º, o foco em produções locais do Paralelo 16º, o diretor da Companhia de Dança Siameses, diz estar contente por fazer parte de um festival convicto da potência criativa de sua região. “E isso é muito importante, pois sabemos o que a cidade (Goiânia) e o Estado (Goiás) geram em termos de talentos e de expressões singulares. Um viva ao Festival Paralelo 16 e que se mantenha ativo por muito anos”, diz.
Já quando o assunto é o valor atribuído às artes nas gestões atuais, Maurício de Oliveira se mostra preocupado já que para ele, a cultura é uma forma de empoderamento e nunca pode ser vista como algo trivial. “A arte propõe um olhar panorâmico que ajuda a sociedade a se localizar e se reconhecer como agente ativo capaz de dar diferentes caminhos à sua própria existência. Em governos autoritários e essencialmente fascistas a primeira ação é a destruição e destituição das ferramentas de trabalho dos artistas porque são eles que apontam a direção para impasses do existir”, argumenta.
Ele classifica, por exemplo, a entrada de João Dória na prefeitura de São Paulo com uma ação de desmonte da cultura em quase 100%, o que, para ele, vem destruindo boa parte do que foi conquistado ao longo dos últimos 12 anos. “E não deixando de ressaltar aqui, a presença nefasta do impostor Temer que naturalmente não nos representa e que, simplesmente, entre outras coisas, virou as costas para as produções artísticas potentes do país. Entretanto, como artistas, vamos resistindo e acreditando que essa é mesmo a nossa função: resistência! Deixo aqui o meu: Fora, Temer!”, manifesta.
PARALELO 16º NO FIM DE SEMANA:
HOJE:
“Sobre a Pele” apresentado pelo goiano Das Los Grupo de Dança
21h – Teatro Goiânia
Tendo como fonte provocativa e inspiradora o livro “Fragmentos de um discurso amoroso” de Roland Barthes, “Sobre a Pele” instiga o público a pensar e refletir as relações humanas de um modo primitivo, visceral. Sobre uma paisagem árida, quase desértica e habitada por 10 bailarinos, corpos em movimento esboçam e desenham relações, ora marcados pelo ritmo interno de cada um, ora produzindo forças que tencionam e esgarçam o espaço, descobrindo assim um lugar de afirmação enquanto indivíduo pertencente a um grupo.
HOJE:
“Ainda Assim”, com Grupo Contemporâneo de Dança (GO)
22h – Hermeto Bar
É uma performance que trata do modo de ser da urbanidade. São questões que atravessam encantam e intrigam a companhia, que devolve ao público tudo isso em forma de arte.
AMANHÃ:
“La Wagner”, do argentino Paulo Rotemberg, encerra a nona edição do Paralelo 16º
20h – Teatro Goiânia
Vencedor do Prêmio Teatro del Mundo, o espetáculo argentino que já rodou mais de 20 festivais nacionais e internacionais, tem como base a música de Richard Wagner e apresenta quatro mulheres com a difícil tarefa de desarmar estereótipos e denunciar os preconceitos relacionados à feminilidade, violência, sexualidade, erotismo e pornografia. Todos esses estereótipos e preconceitos estão incorporados no corpo da mulher e eles o intoxicam. A partir deste cruzamento é uma cerimônia obscura, iluminada por flashes de ironia e excessos: há um choque entre a banalidade e o sublime, o irreverente e o consagrado.