Situada na parte Sudeste de Burkina Faso – um país sem litoral, com cerca de 19 milhões de habitantes no oeste da África –, a vila de Tiebele surpreende por suas casas de barro, cada uma com seu formato e sua pintura particular. Com pouco mais de um hectare de área, a pequena vila circular pertence ao povo Kassena, do grupo étnico gourounsi, um dos primeiros a ocuparem o país no século XV. A riqueza da arquitetura da vila, cujas casas sem janela possuem decoração minuciosa das paredes externas, é apreciada por poucos aventureiros, como os fotógrafos Rita Willaert, Gonçalo B., e Olga Stavrakis, que compartilharam um pouco de sua experiência e de seus registros através do Flicker, um site de compartilhamento de imagens.
A vila de Tiebele também foi tema de um artigo do autor David Goran para o site The Vintage News. “O povo kassena é um exemplo impressionante de pessoas que usam seus recursos naturais para expressar sua rica cultura.” O autor informa a dedicação especial dos moradores da vila na decoração das casas tumulares de seus antepassados. “Eles decoram suas casas pintando desenhos complexos nas paredes exteriores, usando lama colorida e giz. No entanto, algumas das casas mais cuidadosamente decoradas não são realmente moradias, mas mausoléus para os mortos.” O costume de decorar as construções com desenhos de várias geometrias é um costume de mais de 500 anos, que acompanha os kassena desde a chegada ao Burkina Faso.
DEFESA
Além da decoração, visualmente impressionante, o povo kassena também pensa em segurança na hora de construir suas casas. “As moradias de Tiébéle são edificadas como uma forma de proteção, seja contra o clima hostil ou potenciais inimigos. As portas são pequenas para oferecer proteção, e não existe quase nenhuma janela”, explica David Goran. Em artigo para o blog Culti & Pópi, o autor Marcelo Gomes Penha fala dos conflitos constantes que existem em diferentes grupos étnicos. “É importante notar que a história desses grupos étnicos revela uma luta perpétua contra vizinhos e contra invasores em busca de escravos. Talvez isso explique a cautela que os kassenas têm em relação a visitantes.”
Segundo David Goran, existe um método, que conta com a participação especial da fauna local, para descobrir se uma casa deve ou não ser perpetuada e restaurada ao longo dos séculos. “A construção é feita através de recursos abundantes encontrados na região, que podem ser reaplicados infinitamente. Depois que uma casa é construída, seu futuro morador deve aguardar dois dias. Se algum lagarto entrar na casa, ela é considerada boa, caso contrário, é destruída.” Atualmente, existem iniciativas de inclusão da vila à comunidade internacional. “Existem grandes desafios na manutenção das estruturas. Por isso há interesse de desenvolvimento no campo do turismo, para gerar recursos econômicos para a conservação de Tiébéle.”
ARTE
Em seu artigo, Marcelo Gomes Penha expõe as diferentes manifestações artísticas do povo kassena. Muitos dos utensílios criados por eles têm cuidados ornamentais para fortalecer o contato com o mundo espiritual. “A forma de arte mais reconhecida deste povo são as magníficas máscaras feitas de madeira. Além disso, figuras antropomórficas esculpidas em argila e madeira e vários objetos pessoais, que vão de joias aos bancos de madeira, são criados para honrar os espíritos.” As paredes das casas de Tiébéle possuem 30 centímetros de espessura, e apenas dois pequenos buracos permitem a entrada de luz suficiente para se enxergar dentro delas. Essa técnica impede que os raios solares fortes da região penetrem no interior das construções.
O processo de decoração fica a cargo das artesãs da vila. “Depois de construídas, as mulheres fazem murais nas paredes usando lama colorida e giz branco. Os temas e símbolos são tirados do cotidiano, ou da religião e das crenças. Depois de terminada, a parede é cuidadosamente polida com pedras, onde cada cor é polida separadamente para que as cores não borrem ou misturem umas nas outras. E, finalmente, toda superfície é revestida com um verniz natural.” É preciso estar atento ao clima. “Todo o projeto também serve para proteger as paredes. A decoração geralmente é feita bem antes da estação de chuvas e protege o lado exterior das paredes da água. Com vários revestimentos feitos com recursos naturais, as paredes resistem a umidade”, conclui Marcelo Gomes Penha.