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Manual da demissão

No romance Cravos, primeiro livro de Julia Wähmann lançado pela Record, um elefante caindo ilustra a capa e antecipa a ideia de movimento que permeia toda a história. Em seu novo livro, é a pata de um cavalo em posição de coice que indica o tema da narra­tiva, tão atual para o cenário bra­sileiro.

Em Manual da demissão, a protagonista, além de ser dis­pensada do trabalho, enfren­ta o fim de um relacionamento amoroso. Para tentar se recu­perar do pé na bunda duplo, ela acompanha amigos que estão no mesmo barco, enfrentan­do filas e mais filas para resol­ver questões burocráticas sobre FGTS e seguro desemprego, por exemplo. Ela ainda se solidari­za com eles, guardando em sua casa caixas com seus pertences dos antigos escritórios, forman­do um depósito de memórias da época em que suas vidas eram ordenadas pelo expediente.

Com texto ágil e irreverente, a narradora lista um método para enfrentar a demissão de forma menos traumática, com apoio da família, amigos e uma boa dose de livros, filmes e músicas. Ou­tra dica valiosa sugerida por ela é preparar o emocional para o flu­xo migratório causado pelas de­missões. Todo mundo tem um amigo que foi tentar a vida em Portugal, não é mesmo? O livro inclui ainda um link com uma playlist batizada de “a trilha so­nora dos demitidos”. Na lista está o clássico do Só pra Contrariar que começa com a emblemática frase: “O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?” Manu­al da demissão chega às livrarias neste mês de fevereiro.

TRECHOS

“Ser demitido é uma merda. Mas, como dizem, há o passara­lho e o ficaralho, e os meus colegas sofriam a síndrome da sobrevi­vência, enquanto sonhavam com uma vida mais Bartleby. Estáva­mos todos no mesmo barco.”

“Uma demissão, assim como um pé na bunda, é um evento que legitima a vida na Terra, e ,en­quanto do segundo se diz que te faz andar pra frente, do outro pri­meiro diz-se que, onde uma por­ta se fecha, uma janela se abre, além de outros consolos, ditados populares e pesares evocados em tais provações. Em comum, am­bos geram um sentimento in­conteste de rejeição e compulsão, temporária ou não, por açúcar, ansiolítico ou drogas mais mar­ginais, primeiras boias de salva­ção quando o golpe apenas dói e a janela é somente o melhor lugar de onde se arremessar.”

Julia Wähmann nasceu em 1982, no Rio de Janeiro. Em 2015, publicou Diário de Moscou (Mega­míni/7 Letras) e André quer transar (Pipoca Press). Em 2016, pela Edito­ra Record, publicou Cravos.

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