“Como é lindo o canto de Iemanjá/ Faz até o pescador chorar/ Quem escuta a Mãe d'água cantar/ Vai com ela pro fundo do mar/ Mãe d'água, rainha das ondas sereia do mar.” Hoje, 2 de fevereiro, é dia de celebrar a rainha das águas salgadas, senhora absoluta das ondas, aquela que balança o mar, Iemanjá. O melhor é não se arriscar colocando o barco nas águas, não é dia de pesca, é dia de saudação.
Nós que aqui estamos nesse cerradão, tão longe do oceano, não temos lá muito contato com Dona Iemanjá. Mas todo o povo de candomblé celebra nesse dia, já quem é de umbanda só comemora o dia do orixá das águas em 8 de dezembro. E caso você tenha a sorte de ir curtir o carnaval baiano e puder ir antes, corre que hoje é festa no mar.
Dia 2 de fevereiro, todos os anos, milhares de baianos e turistas lotam as praias do Rio Vermelho para reverenciar Iemanjá. No início, era chamada de Festa da Mãe D'Água e realizada em conjunto com a Paróquia do Rio Vermelho, num sincretismo religioso típico da Bahia. Pertinho do carnaval e já tem festejo, afinal é a Bahia.
Como na Bahia, energia boa e festividade caminham juntas rumo ao mar, as preparações começaram desde domingo. A preparação para a celebração são ritos pra atrair boas energias. Sacerdotes do candomblé, à beira das escadarias que dão acesso ao mar, batem folhas nos corpos dos devotos, com o objetivo, de atrair “axé”.
De acordo com a Colônia de Pescadores, o presente principal sai por volta das três da tarde, num barco a remo seguido por outras 300 embarcações, que levam entre 600 e 800 balaios com presentes depositados pelas pessoas ao longo do dia. São perfumes, brincos, espelhos e muitas flores.
ENCONTROS E DESENCONTROS RELIGIOSOS
A construção cultural e religiosa do Brasil deu origem a muitos sincretismos. Iemanjá como a representação feminina mais poderosa das religiões de matriz tem mais de uma correspondência como santa católica. Iemanjá corresponde a Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Piedade e Virgem Maria.
A tradição começou em 1923, com um grupo de 25 pescadores, que ofereceram presentes, para agradar a Mãe D'Água, pois os peixes estavam escassos. O nome Iemanjá vem da expressão iorubá “Yèyé omo ejá”, que significa mãe cujo filhos são peixes. Ela quem decide o destino de quem enfrenta o mar.
No começo a festa era ligada às comemorações de Sant’ana nas quais os pescadores promoviam um ritual bem sincrético unindo matriz africana e catolicismo. Mas a igreja começou a dar instruções mais rígidas aos seus sacerdotes para que desligassem o catolicismo desse tipo de celebração.
As críticas feitas pelos padres à “ignorância” dos pescadores em adorar e celebrar uma mulher com rabo de peixe ofendeu quem aderia à prática. A missa que englobava esse tipo de credo e rito deixou de ser celebrada. Então, a igreja de Sant’ana passou a ser fechada todo dia 2 de fevereiro.
LONGE DO MAR TERREIROS GOIANOS CELEBRAM
Nos terreiros de candomblé aqui em Goiás também tem rito para homenagear a rainha do mar. César, que é do candomblé, conta: “A maioria das celebrações foi nesse final de semana, porque ficava mais acessível pra todo mundo poder ir.” Ele completa: “E muita gente deixa pra fazer em dezembro, junto com as águas de oxalá.”
César explica como Iemanjá é celebrada por aqui: “Olha, no básico é feito um balaio de palha ou um barco que é enfeitado e colocadas oferendas. Este fica no salão onde será a festa. O pessoal que vai chegando deixa lá seus pedidos e presentes. Ocorre uma festa com incorporações dos orixás em seus iniciados e no amanhecer do sol esse barco é levado em procissão até o rio mais próximo, já que não temos mar nem praia por perto.” O rito ainda continua na hora de entregar as oferendas. “E no soltar do barco ainda ocorrem algumas incorporações e celebrações, com cânticos e danças.”
CURIOSIDADE:
Em Cuba, Yemayá também possui as cores azul e branca. É uma rainha do mar negra, assume o nome cristão de La Virgen de la Regla e faz parte da Santeria (religião cubana) como santa padroeira dos portos de Havana.