O que falamos e fazemos hoje, em 2018, é fruto de um momento histórico, que alterou o formato da sociedade no passado. A memória curta dada aos brasileiros, nada mais é do que falta de entendimento histórico. Por essa carência, surgem abominações de pensamento, como por exemplo negar a existência de fatos que transformaram a sociedade no que ela é hoje. Melhor explicando: o Brasileiro não se conhece e por isso peca ao afirmar qualquer vestígio do mundo moderno. Mas a partir da leitura, da pesquisa e do relato de quem viveu estes momentos podemos sim traçar um comparativo e entender que 2 + 2 não podem ser 5. O Golpe Militar de 1964, como todo golpe, foi articulado previamente, procurava beneficiar uma camada específica da sociedade e, por fim, não tinha interesses nos interesses do povo. Podemos afirmar que foi articulado desde o dia 7 de setembro de 1961, com a saída de Juscelino Kubitscheck e entrada de João Goulart, o Jango. Mas o Golpe Militar ocorreu, efetivamente, no dia 31 de março de 1964.
O período em que se desenhou o Golpe Militar de 64 também envolvia uma suposta crise financeira. Os investimentos do governo JK, os famoso “50 anos em 5”, esvaziaram os cofres públicos, além da desigualdade social cada vez mais explícita e intensas movimentações sobre a questão agrária. É nesse momento conturbado que Jango assume o poder do País, com suas tendências políticas declaradamente de esquerda. A aposta do novo presidente foi às Reformas de Base: urbana, bancária, eleitoral, universitária e do estatuto do capital estrangeiro.
A reforma eleitoral era a que mais incomodava os articuladores do Golpe, por permitir a volta do Partido Comunista ao jogo político e que analfabetos votassem, que correspondia a cerca de 60% da população. Porém, dizem que o estopim foi a implantação da reforma agrária, que afetava a estrutura histórica dos latifúndios do Brasil, prática corrupta praticamente legalizada desde o “descobrimento” do Brasil. Os grupos de direita, formados por esses grandes latifundiários, se sentiram alarmados com as propostas defendidas por um Presidente da República que iam contrários aos interesses.
DEDINHO AMERICANO
Apesar dos interesses que moveram o Golpe partirem do abismo entre direita esquerda, o golpe foi articulado pelas Forças Armadas em diálogo com os Estados Unidos da América, através da CIA (Central Intelligence Agency). A articulação estava voltada para as eleições de 1962 para o Congresso Nacional e para o governo dos estados da União. A partir daí começaram financiamentos de empresas nacionais e estrangeiras através do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD). Os Estados Unidos participou junto ao IBAD e Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), divulgando propagandas anticomunistas que contribuíram para a desestabilização do governo. Existem documentos e áudios da Casa Branca que comprovam esta participação.
A partir desse momento, o governo de Jango, já desestabilizado, passou diversas derrotas, inclusive a derrota da emenda constitucional que buscava viabilizar a reforma agrária. Enquanto isto, os EUA financiaram o golpe através dos governos dos estados de São Paulo, Guanabara (atual Rio de Janeiro) e Minas Gerais. Jango convocou então um comício, frente às pressões sofridas, na Central do Brasil numa sexta-feira, 13 de março de 1964, com um discurso marcado de referências à figura de Getúlio Vargas. O discurso mobilizou de 150 mil a 200 mil pessoas e durou cerca de quatro horas.
AÇÃO E OPRESSÃO
A medida de Jango e o seu discurso foi tomado como indicativo de que o presidente poderia dissolver o Congresso e aplicar suas reformas à força. A partir dessas desconfianças, o IPES, com apoio dos Estados Unidos, organiza a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. O protesto reuniu cerca de 500 mil pessoas na Praça da República, na capital paulista, contra o governo de Jango e suas pretensões “comunistas”. A Marcha era prioritariamente composta por pessoas de classe média e se alastrou pelos veículos de comunicação, a maioria posicionado contra Jango.
O que fez do projeto um Golpe efetivo foi a entrada das Forças Militares no processo, apesar de já estarem envolvidos no desenrolar dos fatos. O que motivou os militares foram as atitudes tomadas por Jango em rela relação aos marinheiros que participaram da Revolta dos Marinheiros, realizada em 25 de março. Ao anistiar os revoltosos e passar por cima das autoridades militares responsáveis, Jango deu o último elemento necessário à realização do golpe de 1964: o apoio das Forças Armadas. Os EUA já estavam a postos para colocar em prática a Operação Brother Sam e, em 31 de março de 1964, o pontapé foi dado pelos mineiros, sob a liderança do general Olympio Mourão Filho, que marchou com suas tropas de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro e iniciou o processo de deposição do presidente João Goulart com o apoio dos EUA e das Forças Armadas. O Golpe foi concluído na madrugada de 02 de abril de 1964, quando o Congresso, em sessão secreta realizada de madrugada, declarou a Presidência da República vaga.
CURIOSIDADES:
O Golpe Militar de 1964 durou mais de 20 anos
– A Ditadura militar no Brasil governou o País a partir do dia 1º de abril de 1964, quando o presidente João Goulart (foto) foi derrubado pelo exército. O golpe teve o apoio de políticos importantes, como José de Magalhães Pinto, governador de Minas Gerais, e Carlos Lacerda, governador do antigo estado da Guanabara.
– Na madrugada do dia 31 de março de 1964, o general Olimpio Mourão Filho comandou as tropas do exército que marcharam de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, onde se encontrava o presidente João Goulart.
– No dia 11 de abril de 1964, o Congresso Nacional, que tinha declarado vago o cargo de Presidente da República após a fuga de João Goulart para o Uruguai, elegeu um novo presidente. O escolhido foi o militar Castelo Branco (foto), que teve o voto até mesmo do ex-presidente Juscelino Kubitschek, então senador da república.
– O golpe, que começou com a promessa de rápida volta ao regime democrático, logo adotou medidas ditatoriais. Foi nessa época que surgiram os Atos Institucionais, decretos do Regime Militar que valiam como lei. Os primeiros AIs deram poder aos militares para alterar a constituição, dissolver partidos políticos, determinaram eleições indiretas e revogaram a constituição de 1946, entre outras coisas. Mas foi com a posse do segundo presidente, o Marechal Costa e Silva, que a ditadura endureceu.
– Foi no governo Costa e Silva que o regime militar publicou o AI-5, que na prática fechou o Congresso, caçou políticos e tornou a tortura uma prática comum.
– A ditadura teve oposição, inclusive armada: de 1966 a 1974, onde 1416 civis pegaram em armas. Eles assaltaram bancos, realizaram atentados a bomba, sequestram aviões e até mesmo diplomatas estrangeiros, como o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Ele foi solto 2 dias depois, em troca da libertação de presos políticos do regime.
– O primeiro passo para a luta armada partiu de Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul. Exilado no Uruguai, ele fundou o Movimento Nacionalista Revolucionário e mandou guerrilheiros para treinamento em Cuba.
– A maior movimentação de tropas do exército dentro do Brasil no século 20 foi durante a ditadura: o exército enviou milhares de soldados para a região do Araguaia, no Tocantins, para combater a guerrilha.
– Um dos principais líderes da luta armada e inimigo número 1 da ditadura, Carlos Marighella foi morto numa emboscada na alameda Casa Branca, em São Paulo, em 1969. Hoje uma pedra marca o local onde o líder da Ação Libertadora Nacional foi executado.