Nascido em Washington D.C. em 1955, Charles Burns é um cartunista em atividade desde a década de 1980. Na arte de criar histórias em quadrinhos de terror, Burns se destaca como um dos mais talentosos e originais, atraindo uma legião de fãs pela especificidade daquilo que desenvolve. “Seus traços, instantaneamente reconhecíveis, combinam nitidez com linhas fortemente estilizadas e temáticas sombrias e perturbadoras”, explicam os autores dos site Lambiek Comiclopedia. Mesmo sendo mais conhecido pelo poder visual de seus quadros, outra qualidade marcante da obra de Burns é a capacidade de criar narrativas intrigantes, compostas por personagens de extensa profundidade psicológica.
Uma de suas obras mais premiadas, a série Black Hole (1995- 2005), tem como cenário os subúrbios de Seattle nos anos 1970. O enredo traz um grupo de adolescentes que contraem uma misteriosa doença sexualmente transmissível chamada “the Bug”, que causa estranhas mutações físicas, levando-os à margem da sociedade. Muitos deles fogem de casa para viver nas florestas da região. Tem foco em quatro personagens centrais. Cris é uma estudante que contrai a doença de Rob, um garoto popular da escola. Na mesma época, Keith contrai “the Bug” de Eliza, uma mulher que ele conhece enquanto tentava comprar maconha na casa de um amigo. A série foi vencedora por sete anos do Prêmio Harvey, uma das mais importantes premiações para HQs.
FORMAÇÃO
O cartunista passou os primeiros 10 anos de vida mudando constantemente de cidade, até estabilizar-se em Seattle, por volta de 1965. Um dos primeiros contatos de Burns com histórias em quadrinhos foi através das séries Tintin e Ligne Claire, ambas do cartunista belga Hergé. O pai de Burns deu a ele as primeiras traduções para inglês da série, que naquela época ainda não era popular nos Estados Unidos. Os traços de Hergé tiveram grande impacto na vida de Burns, e influenciaram-no a criar suas próprias séries em quadrinhos. Outra grande fonte de referências para a obra de Burns foram os clássicos Creepy e Eerie, HQs de terror publicadas por James Warren entre as décadas de 1960 e 1980.
A carreira acadêmica de Charles Burns estendeu-se ao longo dos anos 1970. Ele estudou gravura na Universidade de Washington e no Central Washington State College até 1976. “Na última universidade publicou um cartoon chamado Crypto Wander Lust no jornal da instituição. Ele também fundou uma revista própria, chamada Weepy Gash”, conta o site Lambiek Comiclopedia. Burns também estudou fotografia por dois anos, em Evergreen State College. Lá conheceu os cartunistas Linda Barry e Matt Groening, colegas de universidade que trabalharam com ele na revista do campus, chamada Co-oper Point Journal. Linda Barry mais tarde ficou conhecida por criar a série Ernie Pook's Comeek, publicada ininterruptamente de 1979 até 2008.
FAMA
Em 1980, Burns desenhou Mysteries in the Flesh, que foi publicada na revista punk Another Room from Oakland. Este trabalho chamou a atenção do também cartunista Art Spiegelman, que convidou-o para contribuir com sua revista, RAW, veículo que teve bastante evidência no movimento de quadrinhos alternativos que virou febre nos Estados Unidos durante a década de 1980. A partir das publicações na RAW, Burns passou a ter maior visibilidade, ganhou vários prêmios, e pôde desenvolver suas próprias histórias com maior liberdade. Enquanto publicou um volume anual da série Black Hole durante 10 anos, de 1995 até 2005, ganhou o Harvey por 7 volumes (1998, 1999, 2001, 2002, 2004, 2005 e 2006), bem como pelo volume único, um compilado lançado em 2006.
Entre 2010 e 2014 dedicou-se a desenvolver uma trilogia, que remonta às primeiras memórias de Burns, durante a infância. “A aparência da série é claramente influenciada por Tintin, de Hergé. A história gira em torno de um jovem artista que se recupera de uma lesão na cabeça. Durante a noite, ele é atormentado por pesadelos intensos sobre traumas pessoas e iconografias.” As publicações que compõem a série, X’ed Out (2010), The Hive (2012) e Sugar Skull (2014), ganharam em 2016 um volume único chamado Last Look. Entre as outras colaborações famosas de Charles Burns está o álbum musical Brick by Brick (1990), do cantor Iggy Pop, cuja capa contém uma ilustração do artista. Black Hole aparece frequentemente no filme Planeta dos Macacos: O Confronto (2014).