Na década de 60 e início da década de 70 a publicação do trabalho do cientista Werner Arber, sobre o mecanismo de defesa de bactérias ao ataque de vírus conhecidos como bacteriófagos (ou fago lambda), teve como desdobramento o início da era da Engenharia Genética, entretanto, naquela época o próprio mecanismo de defesa bacteriana não teve uma repercussão significativa no meio acadêmico.
Retomando a linha de pesquisa de Werner e com um “novo olhar” sobre o estudo da defesa de bactérias atacadas por vírus bacteriófagos, as cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, respectivamente de nacionalidades francesa e americana, desvendaram inteiramente o mecanismo molecular de defesa imunológica das bactérias. Incrivelmente a compreensão do processo operacional do sistema de defesa da bactéria permitiu às pesquisadoras concluírem que o arsenal de moléculas envolvidas no processo que passou a ser conhecido como CRISPR CAS 9 (lê-se “Crisper cas nove”), simplificação de “Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeat”, que pode ser traduzido como “Repetições curtas agrupadas e regularmente intercaladas”, executam de forma precisa a identificação de genes “ruins” presentes o DNA, possibilitando assim a substituição por genes “bons”.
Nesse momento há uma grande euforia entre os cientistas que compreenderam que a maquinaria molecular do sistema CRISPR CAS 9 pode ser aplicada nas células de todos os seres vivos dos reinos da biosfera (Monera,Protista,Fungi,Plantae e Animalia), o que significa que o cientista operador pode nocautear genes “ruins” e ativar genes “bons” em conformidade com o propósito almejado.
APLICAÇÃO EM DNA HUMANO
A técnica do CRISPR CAS 9 pode ser aplicada em células humanas para clivar o DNA e retirar sequências adulteradas correspondentes a genes mutantes e deletérios para inserir a sequência correta de bases nitrogenadas correspondente ao gene capaz de corrigir a disfunção metabólica. O sistema CRISPR CAS 9, devido ao seu caráter universal, possui um enorme leque de aplicações. Pode, por exemplo, purificar o DNA, fazer repressão de genes “ruins” ou ativação de genes “bons”.
Recentemente, pesquisadores na China conseguiram retirar 95% de genoma do vírus HIV em células Humanas. Em síntese o CRISPR CAS 9 identifica a sequência da informação viral que foi integrada ao DNA de linfócitos (células de defesa), cliva o DNA e retira a informação viral inserida no DNA humano.
Outra aplicação de sucesso foi a correção do DNA com gene para a Fibrose Cística, anomalia genética com alta letalidade em crianças. Nesse caso, o sistema CRISPR CAS 9 identificou o gene deletério mutante em células tronco, retirando-o. O gene que responde pela síntese da enzima funcional foi inserido com sucesso no DNA e a célula tronco voltou ao paciente para se diferenciar em células saudáveis.
Os Chineses também aplicaram o CRISPR CAS 9 para produzirem porcos resistentes a vírus, com grande sucesso. No ambiente acadêmico da área de genética molecular já se fala muito, que com o CRISPR será possível mudar o “pool gênico” das populações humanas. De fato, se genes deletérios não passarem para as próximas gerações e genes “bons” passarem – dizem eles – teremos seres humanos potencialmente mais saudáveis.
Inimagináveis operacionalidades são conjecturadas todos os dias e como a técnica é de baixo custo e de fácil execução, as aplicações devem ser bem avaliadas, com muita responsabilidade, para que não ocorram abusos de transgressão da bioética.