A simplicidade é o esconderijo do belo na realidade. Uma conversa entre pai e filho, que será lembrada por décadas ao ser contado, novamente, aos filhos dos filhos é poesia a um nível elevado. Ou, quem sabe, um cidadão que luta diariamente pela seu direito de existir e pelo direitos dos outros ao seu redor, não há nada mais belo do que isso, quando olhamos nos olhos da verdade. Na cidade de Mineiros, no interior de Goiás, localizada a 420 Km de Goiânia, vive Ademir Souza da Silva. A cidade tem pouco mais de 60 mil habitantes, é pacata, como outros interiores do Estado e conta com figuras excepcionais que só podem ser encontrados nestas regiões.
Ademir é conhecido na cidade e onde vai como Ademir Poeta. Tem sete livros publicados e se orgulha de ter lançado todos em mais ou menos seis meses. Ele afirma que não sabe de nenhum outro escritor que tenha lançado tantos livros em tão pouco tempo e acredita que pode até ganhar um prêmio no Livro dos Recordes pela façanha. Em entrevista ao jornal Diário da Manhã, Ademir Poeta conta que teve uma vida difícil e repleta de superações. “Com seis meses de idade, tive paralisia infantil, então sou aposentado por invalidez. A partir desse momento, em que me aposentei, comecei a me dedicar a cultura e ao social, que é ajudar as pessoas”, diz. O “social” citado por Ademir é referente ao trabalho que ele realiza na cidade, chamado de Repórter Cidadão.
A paralisia infantil, junto com o abandono do pai e morte da mãe, levou Ademir a ter uma vida itinerante, desde muito cedo: “Sou filho adotivo, fui criado de mão em mão, passei até fome. Quem vive a vida boa não vai aprender nunca a ser poeta”. Durante a infância trabalhou de engraxate e até vendedor de picolés para conseguir um sustento. “Trabalhei também na roça, vivi quase a vida inteira ali. Nessa época eu já escrevia. Conheci alguns cantores sertanejos que gostaram do meu trabalho, como Rio Negro e Solimões, Zezé di Camargo e Luciano, acabei ficando conhecido nesse meio”, conta sorrindo. Um poeta, como se intitula, que se descobriu dessa forma com a mesma simplicidade contida em sua fala. “Sempre me falavam que eram uma pessoa mais sensível, meio romântico, né? Eu até rimava e não sabia que era poeta”, conclui.
REPÓRTER CIDADÃO
“Sempre me falavam que eram uma pessoa mais sensível, meio romântico, né? Eu até rimava e não sabia que era poeta. Comecei a ler livros de poesia a partir daí e percebi que o que eu falava era poesia também. Foi vasculhando a biblioteca da cidade de Mineiros que aprendi a escrever”, diz Ademir Poeta. A cidade de Mineiros é um fator importante na vida de Ademir, quase uma musa inspiradora. Nascido e criado na região, ele é um cidadão preocupado com as causas sociais e com os cidadãos que ali moram. Recentemente, ele denunciou o descaso com Clube dos Santos, situado no centro da cidade, local de lazer tradicional na cidade que está abandonado há anos.
Ele também fala das filas que os moradores enfrentam para poder quitar dívidas. Ele conta que a quantidade de agências bancárias e casas lotéricas é um grande problema. Mineiros está um caos. As agências bancárias e casas lotéricas as filas são imensas. Só existem três casas lotéricas e agências também são poucas. No início do mês, tem gente que fica até três horas sob o sol. Não tem segurança, não tem banheiro, não tem água para eles beberem”, diz.