- Uma pioneira no terreiro do samba conhecida como Dama do Samba
O sucesso veio tardiamente, mas o brilho vem desde sua juventude. Dona Ivone Lara, que faleceu esta semana devido a complicações por uma infecção renal, só teve amplo reconhecimento no mundo artístico aos 56 anos. A cantora já estava internada há duas semanas e precisou de transfusões de sangue por causa de uma anemia. Muitos artistas lamentaram a perda da Dama do Samba.
Zeca Pagodinho postou uma foto com Ivone Lara em suas redes sociais com uma mensagem de respeito e gratidão: “Descanse em paz, minha querida Dona Ivone. Muito obrigado por tudo!”Zeca ainda falou em vídeo a respeito da cantora: “O artista não morre, ele muda de lugar, a música está aí, continua viva em nossa memória e emoções.”
Dona Ivone Lara tinha oficialmente 97 anos, mas na verdade tinha 96 anos e foi registrada com um ano a mais, de acordo com sua página oficial. Ela foi uma pioneira no samba como presença feminina, espaço que era terreiro masculino absoluto. Ivone colocou seu nome na história da escola de samba Império Serrano, pôs sua assinatura no aclamado samba-enredo “Os cinco bailes da história do Rio” juntamente com os também compositores Silas de Oliveira e Bacalhau, no ano de 1965.
A primeira música da compositora é datada de 1934, de nome Tiê, um partido alto. Mas só 40 anos depois, em 1974, veio a primeira gravação de destaque no álbum coletivo “Quem samba, fica? Fica” pela gravadora EMI-Odeon. A melancolia esperançosa que retrata a vida de quem labuta era marca das canções de Ivone.
Ela também cantava a temática racial, como na canção Sorriso negro: “Um sorriso negro, um abraço negro/ Traz felicidade/ Negro sem emprego, fica sem sossego/ Negro é a raiz da liberdade/ Negro é uma cor de respeito/ Negro é inspiração/ Negro é silêncio, é luto/ Negro é… a solidão”. A música Lamento Negro fala sobre a escravidão e luta do povo negro: “Canto do negro é o lamento na senzala do senhor… E com risos e brincadeiras/ Paciência ele esperava/ Capoeira dava aviso quando alguém se aproximava.”
O primeiro álbum solo veio também na década de 70, ano de 1978, intitulado “Samba minha verdade, samba minha raiz”, também pela EMI-Odeon. O disco continha 12 faixas dividas no Lado A e B. A maior parte das músicas era de sua composição e seu parceiro musical Délcio Carvalho. O primeiro sucesso da dupla Ivone e Delcio foi Alvorecer, gravado pela então ascendente cantora Clara Nunes.
Antes de se dedicar à música Ivone Lara trabalhou com saúde. Sua formação era como enfermeira e trabalhou com assistência social até o ano de 1977. Foi essas atividades que garantiram seu sustento até que a música lhe desse retorno financeiro. Ivone trabalhou na área de tratamentos psiquiátricos. Neste trabalho acabou se encontrando com a psiquiatra Nise da Silveira. Elas trabalhavam contra métodos agressivos e o confinamento dos pacientes nos hospitais psiquiátricos.
Cantores como Maria Bethânia, Elba Ramalho, Criolo, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Adriana Calcanhoto e Zélia Duncan fizeram versões de suas canções, enquanto a própria gravou com Diogo Nogueira uma canção inédita, composta com seu neto André. Leci Brandão, outra mulher de peso do samba nacional, publicou palavras de lamento: “Madrugada triste, meu coração está apertado... Nossa amiga e mestre, Dona Ivone Lara, nos deixou. Já sinto saudades, des