A relação entre um operário e as ferramentas que ele utiliza pode contar muito sobre uma profissão. Uma pá, por exemplo, tem na sua estética o peso, que vem da parte metálica, a madeira polida do cabo, que possibilita segurar com força, utilizando as duas mãos, o objeto. Percebendo a pá, é possível concluir que os profissionais que utilizam essa ferramenta precisam lidar com o peso, o cansaço e saber manter o punho firme durante horas de serviço. Agora analisaremos uma caneta. Ferramenta de muitos profissionais, é um objeto no mínimo misterioso e por isso cheio de possibilidades. A caneta, diferente da pá, não tem um destino pronto quando sai da fábrica, pode servir para assinar os documentos de uma guerra ou para assinar uma certidão de casamento. O jornalista, assim como uma caneta, também não sai pronto da fábrica (faculdade), e pode também provocar guerras ou apresentar um caminho mais humano.
No dia 7 de abril, no Brasil, comemoramos o Dia do Jornalista. A lei que prevê a homenagem ao profissional, foi instaurada em 1931, começo do governo provisório de Getúlio Vargas, após o Golpe tramado no ano de 1930. A decisão veio por parte da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), criada também no dia 7 de abril, mas do ano de 1908, por Gustavo Lacerda. A data foi instaurada como homenagem ao médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, morto por inimigos políticos em 1908. Badaró era conhecido pela forte oposição a D. Pedro I e foi o criador do Observatório Constitucional, que de maneira independente focava em temas políticos até então censurados ou encobertos. Morreu em virtude dessas denúncias e da ideologia, que muitas vezes ia na contramão dos homens de poder.
Atualmente, o jornalismo ainda enfrenta suas opressões, seja de maneira externa ou interna. Como é uma profissão da área de comunicação social, a política é algo inseparável do fazer jornalístico, portanto é, naturalmente, afetado por crises ou mudanças muito intensas no poder público. Assim como em 1908, os governantes também utilizam do seu poder para censurar ou influenciar o que é produzido pelo profissional. A influência política no jornalismo atual é tão grande, devido ao formato empresarial, que é praticamente impossível manter um periódico sem incentivo financeiro governamental. Desacreditado, devido às influências financeiras e políticas, a mídia, ou melhor, o jornalismo deve se apoiar em ideias dos novos profissionais, os que ainda estão nas salas de aula desse País.
PAPEL DO FUTURO
Sara Rocha é estudante de Jornalismo e cursa o primeiro período. Em entrevista ao Diário da Manhã, a estudante falou um pouco do que consegue notar do jornalismo atual, o que pretende mudar na profissão e o que motivou a entrar no curso. “Jornalismo foi um curso que veio até mim. Comecei a pensar no Jornalismo de 2017 até este ano. Estou ainda descobrindo. Vejo que as matérias que temos são muito interessantes, como política, por exemplo. Essa matéria cumpre um papel formativo muito importante na vida do cidadão. Na minha sala mesmo percebo muitos colegas que não conhecem política e afirmam odiar”, diz. Ela aponta que mesmo desacreditado, o profissional de Jornalismo tem um papel social muito relevante na sociedade. Por isso, precisa estar próximo da realidade das pessoas, pois só nesse cenário tão próximo poderá falar com propriedade.
“Não acredito que o profissional esteja desacreditado. A mídia que temos atualmente, em sua maioria, são ‘comprados’. Então, são pouquíssimas pessoas que têm acesso a uma informação apurada, uma informação não partidária. Acho que as pessoas desacreditaram não no profissional, mas no meio em si”, diz. Sara também vê que a divulgação de matérias falsas (Fake News) dificultam a divulgação de matérias reais, feitas com checagem e apuração pelo jornalista. “As notícias falsas se proliferam com uma velocidade muito maior que matérias de qualidade. Apesar disso, não acho que as pessoas desistiram do jornalismo de verdade”, conta.
Lucas Pinheiro tem 18 anos de idade e também cursa o primeiro período de Jornalismo. Diferente de Sara, ele mora na cidade de Piracanjuba, no interior de Goiás, e utiliza do transporte universitário para estudar em Goiânia. Outra diferença entre os dois alunos é a forma como se identificaram com a profissão: Sara contou que descobriu o Jornalismo no ano passado, enquanto Lucas conta que fez essa escolha “pelo fato de ser apaixonado por todo esse universo que o jornalismo abrange”. Apesar do olhar distinto, os dois alunos comentam sobre o aumento exponencial de matérias com informações falsas na internet. “Mesmo estando em pleno século XXI vemos surgir os chamados Fake News. Isso é um grande problema, pois os jornais são meios de comunicação que possuem poder de influência devida a apuração e checagem. Um dos motivos que me incentivaram a optar pelo curso de Jornalismo foi querer fazer parte dessa mudança que devemos fazer”, conclui.
“Quando criança, eu assistia TV, observava os repórteres e imagina que quando crescesse iria estar no lugar deles”, diz o estudante de Jornalismo Lucas Pinheiro
“Optei pelo curso de Jornalismo não visando o quanto ganharia exercendo a profissão, pois sei que perante a nossa crise atualmente não ganharia muito. Fiz essa escolha pelo fato de ser apaixonado por todo esse universo que o jornalismo abrange, principalmente porque gosto muito de escrever, apurar algum ocorrido, etc. Quando criança, assistia TV, observava os repórteres e imaginava que quando crescesse iria estar no lugar deles. Então, tipo essa paixão pelo jornalismo já veio desde criança, e mesmo quando estava no ensino médio já praticava a escrita em cima de notícias que eu via, e escrevia a minha própria notícia.”
REESCREVER O JORNALISMO
Os questionamentos que o jornalismo contemporâneo levanta não tratam apenas dos defeitos que precisam ser corrigidos. Existem novidades que interessam os estudantes do curso, e que podem ser uma realidade muito mais presente em alguns anos. Sara Rocha fala sobre o “poder” das redes sociais, no que se refere a transmitir informações. “Acho que temos tudo nas nossas mãos, falta saber utilizar. Acredito que nas redes sociais, por exemplo, todo mundo exerce um pouco de jornalismo, mas para ter uma utilidade real é preciso sair da “bolha” e explorar o jornalismo de verdade (com apuração, checagem e entrevista) nas redes sociais”, conclui. Desta forma, Sara acredita que as chamadas “fake news” podem sumir por completo, dando espaço a matérias produzidas com dedicação e profissionalismo.
O estudante Lucas Pinheiro aponta o possível crescimento exponencial de mídias independentes. “A população parece cansada de todo esse processo de alienação que vemos diariamente. A possibilidade de se unir a um grupo e poder criar seu próprio veículo, é bem mais real do que há 30 anos”, conta. Lucas coloca que o conceito de mídia independente é incrível, ao seu ver, pois “quando vemos conteúdos de qualidade, sem influência de grandes grupos, pode-se considerar um conteúdo construtivo, onde o leitor edifica sua opinião através das idéias apresentadas”, conclui.