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O xeque-mate sobre o acaso

Recentemente, escrevi um arti­go com o título “Cérebro pode ser Construído por Supercomputa­dor”. Nele fiz ver ao leitor que um dos mais potentes computadores do Planeta, que opera no Lauvren­ce Livermore National Laboratory, na Califórnia é o Blue Gene. O gi­gantesco computador construí­do pela IBM é capaz de realizar computações a uma assombro­sa velocidade de 500 trilhões de operações por segundo. Além de projetar as ogivas termo nucleares secretas para o Pentágono, o Blue Gene foi capaz de simular o pro­cesso de funcionamento do cére­bro em camundongo, um cérebro com algo em torno de 2 milhões de neurônios, que estão conectados de forma complexa em uma rede neural ultradensa. Surpreenden­te é o fato de que o potentíssimo Blue Gene seja capaz de simular apenas o funcionamento do cére­bro de um camundongo, e não do cérebro humano, que comparado ao do pequeno mamífero, possui 100 bilhões de neurônios operan­do em alta complexidade.

Outros grupos de cientistas tam­bém estão envolvidos na simula­ção do cérebro de um camun­dongo. Nesse contexto está o Blue Brain Project, de Henry Markram, da École Politechinique Federale de Lausanne, na Suíça. Markram conseguiu modelar a coluna neo­cortical, do rato, constituída por dez mil neurônios e 100 milhões de sinapses (conexões eletroquí­micas entre os neurônios).

Em 2009, Markram afirmou com otimismo: “Não é impossí­vel construir um cérebro humano, e podemos fazer isso em 10 anos”. O computador capaz de fazê-lo precisará ser 20.000 vezes mais potente do que o “Blue Gene” e ter uma capacidade de memória 500 vezes maior do que a Inter­net atual. Temos a ciência para fa­zê-lo. Também, não é uma ques­tão de tempo, e sim de dólares... Se a sociedade quiser em 10 anos, terá em 10 anos. Mas o maior po­der computacional do mundo, está sendo montado numa ver­são mais avançada do Blue Gene denominada Dawn, com 147.456 processadores e 150 mil Gigabytes de memória. O trabalho está sen­do liderado por Dharmendra Mo­dha. “Ele está será um telescópio Huble da mente”, diz Modha ao se referir ao poderoso computador e acrescenta: “A simulação total do cérebro humano está à vista, isso não é apenas possível, é inevitá­vel. Vai acontecer.”

Estima-se que o consumo de energia do supercomputador ca­paz de simular o cérebro huma­no será de 1 bilhão de watts, ou a produção de uma usina nuclear inteira. Uma cidade inteira po­derá ser iluminada com a ener­gia que ele vai consumir.

Se o cérebro humano é tão complexo, no que diz respeito à sua construção, e mais ainda, no que concerne ao seu comple­xo funcionamento eletroquími­co, de tal maneira, que os mais avançados computadores com programas complexos ainda não foram capazes de construí-lo e simular seu funcionamento, te­mos que inapelavelmente reco­nhecer que o conjunto de genes codificados presentes nas molé­culas de DNA dos nossos cromos­somos são programas molecula­res tão precisos e complexos, que jamais existiriam sem o pressu­posto da inteligência em sua base constitucional e funcional. O DNA orquestrou a formação do nosso cérebro, durante o período gesta­cional, inclusive, utilizando para tal construção, os nutrientes obti­dos na alimentação materna, ou seja, aminoácidos das proteínas, nucleotídeos, vitaminas, sais mi­nerais, água etc. Além de unir to­dos esses nutrientes de forma sin­cronizada e ordenada para formar o cérebro, o DNA também coor­denou as demais estruturas e ór­gãos que estruturam e ditam o pa­drão fisiológico que integra todo o funcionamento do organismo. Constatar que o DNA foi capaz de modelar cérebro humano em cada um de nós e reconhecer que a consciência do “eu” se manifes­ta na atividade cerebral é resolver definitivamente o paradoxo que confronta o primado da matéria com o primado da consciência: “A consciência é apenas um epifenô­meno eletroquímico processado pelo cérebro, e com a morte dele desaparece, ou é o cérebro que foi construído por um programa que expressa elevada inteligência?”

Uma nova e importante luz, aqui exposta, coloca em “xeque-mate” a concepção de que o cérebro huma­no muito complexo como é, poderia ser o resultado de combinações for­tuitas ao longo do tempo. Impossí­vel, pois ele é a materialização bio­lógica de um programa molecular assombrosamente sofisticado. Algo muitíssimo acima do acaso.

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