- Gaúcho de Passo Fundo, radicado no Rio, fundou Pasquim, Já, Enfim, Careta, O Nacional e editou o Folhetim, da Folha de S. Paulo
- Debochado, crítico da ditadura civil e militar [1964-1985], aberto a pautas identitárias, como direitos das mulheres, homossexuais e negros
- Cáustico, amante do jornalismo crítico, satírico, mordaz, adorava álcool, namorava por atacado e era odiado pelos homens da caserna
- Tempos de sombras e de utopias. De liberdade sexual. Do lançamento da pílula anticoncepcional. Longe do surgimento da aids, no ano de 1981
- Millôr Fernandes cultivava um ciúme doentio de Tarso de Castro.
É o que afirma o jornalista e escritor Palmério Dória. Autor de Honoráveis Bandidos. Fundador do Pasquim, em junho de 1969, o gaúcho de Passo Fundo, filho de Múcio de Castro, proprietário do jornal O Nacional, e de Ada de Castro, nascido em 1949, iniciou a sua carreira no jornalismo à época do linotipo. Depois, radicou-se no Rio de Janeiro. A cidade maravilhosa. Anos 60.
- Nãoseiseerahomossexual. Masoseu pau – pênis – era enorme.
Assim define, com ironia, Sérgio Cabral, crítico cultural. É que o boêmio trocava de mulher como jogador de futebol muda de camisa e de tonalidade da cor de cabelo. Apesar disso, beijava homens. Como o cantor e compositor, ícone do tropicalismo, Caetano Veloso. Além de Otávio Frias, pai, ex-publisher da Folha de S. Paulo. Enfim, adorava sexo, álcool e jornalismo.
- Nem sempre na mesma ordem.
DEBOCHE E CRÍTICAS
Oformatooriginal, debochado, crítico àditaduracivilemilitar[1964-1985], uma noite que durou exatos 21 anos, aberto a pautas identitárias, como os direitos das mulheres, dos homossexuais e dos negros, possui, sim, a impressão digital de Tarso de Castro. É o que aponta José Trajano, jornalista especialista na área esportiva. Um remanescente da imprensa nanica.
- Alternativa.
Com flores, flores e flores, uma imagem ao lado de Che Guevara, em Punta Del Leste, Uruguai, um beijo nos pés, Tarso de Castro encantou a atriz Candice Bergen. Linda, sensual, cult. Com ar blasé. Com quem manteve um tórrido romance. A musa do cinema enviava passagens e dólares para o seu amante latino, “latin lover”, ir encontrá-la em Nova York, nos Estados Unidos.
- Depois, abandonou-a. Por não ser homem de uma só mulher. Candice Bergen ficou aos prantos. A ícone casou-se com Louis Malle. Viveu com ele de 1980 a 1995. Cineasta francês.
CONSPIRAÇÃO DE MILLÔR
A conspiração para derrubá-lo teria sido arquitetada por Millôr Fernandes. Tarso de Castro afirmara a Jô Soares, em um talk show, que o humorista era um mau caráter. Pós-Pasquim, ele montou o Já. Careta, revista satírica, aparece na lista de suas invenções editoriais. Mais: Enfim. Uma de suas manchetes entrou para a história do jornalismo alternativo. De oposição.
- Enfim – Brizola volta.
O retorno, em 1979, do carbonário gaúcho, Leonel Brizola, líder da Cadeia da Legalidade, em 1961, com a renúncia daetílicavassouraJânioQuadros. Exilado noUruguaiem1964. Comadeposiçãodo nacional-estatista, em sua versão trabalhista, João Belchior de Marques Goulart, em 1º e 2 de abril de 1964. Por um golpe de Estado civil e militar. Com a participação dos EUA.
FÚRIA E ATAQUES
- Delfim Netto, João Baptista de Oliveira Figueiredo, Paulo Maluf eram alvos de seus ataques. De sua fúria atrás da máquina de escrever, que teclava com apenas dois dedos.
A turma do Pasquim parou atrás das grades. Menos Millôr Fernandes. Madeixas longas, barba por fazer, bebia e se esquecia de pagar as elevadas contas, dava gorjetas gordas para os garçons e era incomum na arte de paquerar as mulheres. Tempos de sombras e de utopias. De liberdade sexual. Do lançamento da pílula anticoncepcional. Longe do surgimento da aids.
- A tiragem do Pasquim chegouaatingir250mil exemplares. A Revista Veja, fundada em 1968, produzia 50 mil exemplares.
O jornalista irreverente fazia uma, duas, três, quatro edições do semanário após os cortes da censura. As suas entrevistas eram um show, com apelo público, à parte. Entre as históricas, a de Ibrahim Sued e a de Leila Diniz. Uma mulher além do seu tempo. Sedutora, morreu em um acidente de avião. No trágico dia 14 de junho do ano de 1972. Em Nova Déli. Na mística Índia.
A CENSURA
- Sob Emílio Garrastazu Médici, general-presidente. Os censores cortavam, cortavam, cortavam...
Os veículos de comunicação que fundou – Pasquim, Já, Careta, Enfim – não eram máquinas de faturar dinheiro. Crises econômicas sempre levavam ao fechamento dos produtos editoriais. A administração não era o seu forte. Democrata, contrário à ditadura civil e militar, defensor das liberdades e da igualdade social, gostava também do luxo, dos prazeres, do refinamento.
- Um hedonista calculista. Homem que estendeu os seus momentos de prazer e de loucura. Além da juventude. Até o fim de sua vida.
Alcoolista, TarsodeCastrocontraiucirrose hepática. Ele entrou em coma. Um, duas, trêsvezes. Nãoparavadejogar, debeber, deformularcríticasedeacumulardiatribes. De um ato de amor, nasceu o seu filho João Vicente de Castro. Hoje um ator da TV Globo de raro talento. Ele guarda relíquias do pai, como um isqueiro. O genitor parecia uma chaminé com fumaça.
A FALTA QUE FAZ
- É preciso ter amigos, mas poucos.
Éumadesuasfrasesantológicas. Gênio. Até um visionário. Virtudes. No rol dos seus defeitos: perdulário, alcoolista, arrogante, presunçoso. Na verdade, um mix de todas as características apresentadas. Mesmo assim, trata-se de um personagem que fez história. – na cultura e nojornalismo – sobaditaduracivilemilitar. Uma vida “Extra- Ordinária”. A de Tarso de Castro.
- A sua morte ocorreu aos 49 anos de idade, em 20 de maio de 1991. Ex-marido de Bárbara Oppenheimer, namorado de Leila Diniz, flerte de Betty Faria, com um affair com Candice Bergen.
Em um exercício de imaginação, se Tarso de Castro estivesse vivo, com seu jornalismo independente, não navegaria na onda do pensamento único. Dos grandes conglomerados de comunicação. Cáustico, atacaria, sem dó nem piedade cristã, o golpe que depôs Dilma Rousseff, as reformas ultraliberais, a prisão, semprovas, baseadasemconvicções, de Luiz Inácio Lula da Silva.
- A falta que faz um “personagem” como Tarso de Castro no jornalismo em 2018, no Brasil.
Delfim Netto, João Baptista de Oliveira Figueiredo, Paulo Maluf eram alvos de seus ataques” Os censores cortavam, cortavam, cortavam” Não sei se era homossexual. Mas o seu pau – pênis – era enorme”
SERVIÇO
Filme: A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro
Gênero: Documentário
Diretores: Leo Garcia e Zeca Brito.
Made in: Brasil
Ano: 2017
Duração: 90min
Classificação indicativa: 14 anos
CRONOLOGIA
1941 Nasce Tarso de Castro
1969 Pasquim é lançado
1979 Volta de Leonel Brizola
1985 Fim da ditadura
1991 Morre Tarso de Castro
1964 Golpe no Brasil