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ENTRETENIMENTO

Espíritos breves

Ao longo do novo século, a arte contemporânea chi­nesa vem ganhando visibi­lidade no ocidente. O modo chinês de sentir e interpretar a vida afirma a globalização da arte, fundindo estéticas orientais com técnicas e estilos oriundos de diversas outras partes do mundo. Arte contempo­rânea chinesa é a base do artigo 20 artistas chineses emergentes que você deve conhecer, publi­cado por Frances Arnold no site Artsy. Dentre os nomes citados, o da pintora Xinyi Cheng se destaca, associado a imagens figurativas que evidenciam a individualida­de e a comunhão através de cores e traços sutis e vibrantes. Fascina­da pelo impuro, a pintora de 29 anos trabalha a solidariedade e a fragilidade presente nas relações do novo milênio.

A história de Chen pode ser es­boçada em vários cenários. Várias cidades a abrigaram durante seu processo de amadurecimento ar­tístico. Ela nasceu em 1989, na ci­dade de Wuhan, a mais populosa do centro da China. Cresceu em Pequim, e no início da década ga­nhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos. Atualmente, mora em Amsterdã, na Holanda, vem ga­nhando espaço nas galerias com uma estética recorrente, baseada em cenas que definem a fluidez dos acontecimentos.

IMPRESSÕES

Cici Wu, colaboradora do site da galeria parisiense Belice Hertling, sede de uma exposição de Xinyi Cheng em julho de 2017, descre­ve o conteúdo presente nas telas da pintora como um misto de vários sentimentos, todos com materia­lidade efêmera, e comportamento volátil e ambíguo. “Ela produz pin­turas baseadas em amor, confian­ça, honestidade, comunhão, ami­zade, sinceridade, intuição, humor, impermanência, ineficiência, bre­vidade, multiplicidade, falta de jei­to, emoções, fertilidade, mal enten­dido, incerteza, sutileza, harmonia, felicidade, e talvez ainda mais valo­res que têm sido confundidos com o vento desaparecendo na noite”. Tudo isso ganha forma através de figuras masculinas que nada car­regam de heroico.

“Ainda hoje, quando as pessoas me perguntam qual é o tema de minhas pinturas, respondo que trata-se de pura fascinação”, con­ta Xinyi Cheng. No site da Acade­mia Nacional de Belas Artes da Ho­landa (Rijksakademie), atual local de trabalho da pintora, os homens ilustrados por Cheng ganham um campo de intersecções: “Os ob­jetos são, comumente, homens brancos, barbudos e andróginos, em vários graus de nudez em espa­ços anônimos, descansando, tro­cando olhares, e as vezes, encaran­do o espectador”. Esses homens, extensões dos modelos estuda­dos pela pintora, têm suas manei­ras e movimentos analisados por Cheng, que apesar de fantasiá-los de acordo com suas intenções, mantém neles uma emocionali­dade ambivalente.

Cici Wu explica a forma como Cheng apropria-se do corpo mas­culino em suas telas, reproduzin­do-os com sensibilidade e valo­res incomuns. “O céu e a Terra, ying-yang, o universo: o potencial não descoberto das sensibilida­des femininas. Quando seu cor­po é um dado, o que você pode explorar, ao invés de represen­tar ou permanecer?” O impuro, e as formas adaptadas do ser, fa­zem parte da essência das obras. “Fremdschämen é uma palavra que descreve o sentimento de vergonha por algo que alguém tenha feito. Ego, tempo e espa­ço, eles se misturaram com água em nossos corpos. Existem coi­sas que nunca estiveram em suas formas puras, e talvez nunca haja formas puras para serem perce­bidas por humanos”, conclui Cici.

Quadro escrito

Para imergir o leitor ainda mais nas peculiaridades da obra de Cheg, Cici Wu cita em sua análi­se um fragmento do livro Dictée, de autoria da escritora americana de origem coreana Theresa Hak Kyung, que ficou conhecida pela maneira visual que conduz sua obra, através de justaposições e re­ferências à mídia e às artes visuais:

“Você vê a cor e a nuance do mesmo jeito que vê o formato da forma, do mesmo jeito que vê o imutável e o inalterado, do mesmo jeito você cheira o filtrado editado através do progresso e da ociden­talização, do mesmo jeito você vê os numerais e inumeráveis colan­do-se através dos mesmos, a fala, o mesmo. Você vê a respiração sem vontade, mas ainda vê a vontade. Desejo e desejo apenas expõem esta terra, este céu, este tempo, es­tas pessoas. Vocês estão na mes­ma partícula. Você vai e volta para a concha deixada vazia todo esse tempo. Para reivindicar a recupe­ração, o espaço. Na boca a ferida, a entrada é reversa, e volta a cada ele­mento de ritmo da artéria do órgão, implantado, pele sobre pele, mem­brana, vaso, líquidos, barragens, dutos, canais, pontes”.

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