Através da ascendente tecnologia do vídeo, uma consequência da fotografia, temos à nossa disposição, de forma instantânea, registros fiéis vindos de todos os ângulos de uma partida de futebol. Inúmeros recursos, como o zoom, os letreiros e a câmera lenta, nos permitem invadir com os olhos as entranhas emocionais dos personagens envolvidos nos jogos. Diante de tamanha instantaneidade, é comum que nossa memória visual não esteja acostumada a associar a estética das pinturas ao futebol, mesmo que alguns narradores se atribuam a característica de pintura aos gols que surpreendem no quesito habilidade. Utilizando as tintas, o pintor britânico Rob Caddick apresenta as cores, a profundidade e o olhar que apenas uma pintura, literalmente falando, poderia nos trazer.
O artista foi tema de uma postagem do autor Jonny Weeks do jornal The Guardian de 2013, que foi redescoberta por nós, do DMRevista, em meio a esse clima de Copa do Mundo. “Os fãs de Brighton e Wolves [times do futebol inglês] estão familiarizados com essas brilhantes obras do artista Rob Caddic”, afirma Weeks. “Suas pinturas realistas, que celebram o vínculo entre o futebol e a comunidade, podem ser encontradas dentro dos estádios Amex e Molineux”, informa. Além de registrar grandes lances, o ambiente e figuras icônicas do futebol, Caddick também se preocupa em roubar as expressões e gestos de torcedores a interagir com o evento. A principal mensagem transmitida nesses quadros é de união, amor e devoção.
De acordo com Weeks, a mistura entre o conhecimento em arte tradicional e a percepção afiada do mundo contemporâneo dão o tom da obra de Caddick. “Ele combina pinceladas em estilo impressionista com elementos do realismo – especialmente nos rostos de seus personagens – para capturar a emoção crua das partidas”, explica. “Ele descreve seu estilo como ‘algum lugar entre os nenúfares de Monet e a final da Copa da Inglaterra de 1973’. Seus trabalhos são realizados através de óleo na tela, ou óleo-pastel sobre acrílico no papel, com uma rica paleta sendo uma característica fundamental de sua obra”, define Weeks, que atualmente trabalha como editor assistente de imagens do jornal britânico The Guardian.
PROFUNDIDADE E MOVIMENTO
Através das técnicas do impressionismo, Caddick trabalha as luzes e o bolo humano da torcida ao fundo dos lances, o desfoque e os rastros coloridos – assim como nas fotografias – se encarregam de aplicar a carga de movimento exigida nas divididas agressivas que o futebol proporciona. O foco das pinturas não está necessariamente na persona de jogadores famosos. Caddick explora o ambiente, através da arquitetura dos estádios ou das linhas que definem o espaço de jogo. Também documenta jogadas universais, comuns a qualquer partida. Também já realizou registros de jogadores históricos da era atual, como o português Cristiano Ronaldo, atacante do Real Madrid considerado cinco vezes o melhor do mundo, e o espanhol Cesc Fàbregas, ídolo no Arsenal, atualmente no Chelsea.
Em seu site oficial, o pintor explica o impacto da Copa da Inglaterra no desenvolvimento de seu estilo. “Pode parecer estranho, mas a chegada da televisão em cores durante a minha infância foi um acontecimento de outro mundo. O vermelho e branco do Suderland naquele dia úmido de maio, gravado na riqueza do Tecnicolor, estava gravado para sempre”, conta. Caddick possui formação acadêmica em artes, e já exibiu suas pinturas por toda a Inglaterra. Também é professor e já foi artista residente. “A vida me trouxe um ciclo completo de volta aos amores da minha infância: o futebol e a pintura. Percebi que nada me proporciona mais prazer do que captar a essência do futebol, esforçando-me para transmitir a imensa emoção de um bom jogo, que é uma metáfora para nossas vidas”.
A forma apaixonada com que Caddick vivencia o esporte nos ajuda a entender seu empenho em registrar momentos do futebol nas telas. “Bill Shankly [1913-1981, jogador escocês], fez referência ao futebol como mais importante que a vida e a morte. Eu vejo o futebol como uma religião que oferece a vida após a morte no primeiro chute de cada nova temporada”. De acordo com o líder de operações do Estádio Amex, Richard Hebberd, a parceria entre o pintor e a comunidade local tem superado as expectativas. “Tem sido um prazer trabalhar com Rob, que entrega trabalhos que superam nossas previsões, tudo dentro de uma rígida restrição de tempo. A partir de um breve resumo, ele apresenta várias opções de trabalho”, afirma.