Se há combate, crianças são afetadas. A Guerra na Síria, conflitos no Sudão e República do Congo são só alguns exemplos de conflitos que convocam crianças para artilharia. O assunto choca e gera inúmeros debates, principalmente quando vídeos de soldados com menos de dez anos matando reféns são veiculados pelo Estado Islâmico. No entanto, crianças armadas não são novidade. Nem as variáveis dessas atitudes: órfãos em situações de risco e obviamente as mortes em massa.
A Guerra do Paraguai é um caso históricoe, aparentementenãomuito lembrado pelos latinos. O conflito no país vizinho foi marcado pelo maior infanticídio da América Latina. Apesar de ter acontecido em meados de 1860, o horror da insanidade disseminada pela Tríplice Aliança: Brasil, Argentina, Uruguai contra o governo militarista de Francisco Solano López dizimou quase toda a população masculina paraguaia, obrigando que as crianças guaranis fossem à luta.
A batalha que marcou a carnificina infantil foi a de Acosta Ñu, no dia 16 de agosto de 1869. Um exército de cerca de quatro mil soldados foi enviado para enfrentar 20 mil soldados da Tríplice Aliança, em sua maioria, brasileiros. Estima-se que duas mil pessoas morreram aquele dia na batalha, a maioria crianças. Essa data foi escolhida como o Dia das Crianças paraguaio, em homenagem às vítimas.
Em Menina, romance com edição esgotada e lançada pela Amazon, o autor Paulo Stucchi traz à tona o conflito no Paraguai como cenário de uma emocionante história entre uma sobrevivente garota índia guarani e um desertor soldado negro. De forma magistral, o autor mescla fatos históricos e descrições verídicas dos combates com o sensível relato dos traumas psicológicos causados pela guerra. A construção da narrativa dos personagens é tão completa entre os laços de amizade, lealdade e fé que o leitor poderá perceber que mesmo em tempos sombrios onde sonhos e destinos são destruídos é possível aflorarmos o que há de mais humano: o amor, o desejo de proteger a vida e recomeçar. Talvez isso seja preciso, uma boa história de esperança e restauração. A Guerra do Paraguai é, até hoje, objeto de estudos históricos, sociais e de geopolítica.
SINOPSE
Um soldado negro, desertor do exército imperial do Brasil, e uma menina guarani cruzam o território paraguaio rumo a Assunção. Ainda que em silêncio, cultivam uma amizade calcada naquilo que não pode (e não precisa) ser dito. O cenário é a Guerra do Paraguai, conflito que dizimou a população masculina paraguaia e que, até hoje, é alvo de vários estudos históricos e de geopolítica.
SOBRE O AUTOR
Paulo Stucchi é psicanalista e jornalista. Atuou como redator, jornalista responsável e editor em jornais impressos e revistas. Também foi professor e coordenador de curso de Comunicação. Atualmente, divide seu tempo entre o trabalho como assessor de imprensa e sua paixão pela Literatura, História e Psicanálise.