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ENTRETENIMENTO

Nova Nigéria

Um dos países mais populo­sos do mundo, localizado na África Ocidental. A Nigéria é habitada por mais de 500 grupos étnicos, possui o maior PIB do con­tinente africano e nos últimos anos passa por um processo acelerado de desenvolvimento econômico que traz grandes mudanças na es­trutura do cotidiano das pessoas. Surge também no país uma nova geração de fotógrafos que registram esse fluxo através de imagens. An­drew Esiebo é um dos nomes de maior demanda do momento no país, e viaja constantemente de­senvolvendo projetos fotográficos em várias partes do mundo. Em seu site, o fotógrafo oferece ao pú­blico doze séries fotográficas que nos aproximam da vida comum dos nigerianos, contrastando ca­racterísticas únicas dessa parte tão pouco divulgada do planeta.

O nome de Esiebo figura na se­leção de 10 fotógrafos nigerianos que deveríamos conhecer, publi­cada pela revista virtual Culture Trip, sob autoria de Yosola Olo­runshola. A publicação é do úl­timo dia 24 de julho. “Um conta­dor de histórias visuais, Andrew Esiebo captura cenas da vida co­tidiana na paisagem urbana, ex­plorando como as narrativas pessoais interagem com ques­tões sociais mais amplas” escre­ve Yossola. “Interrogando temas como sexualidade, futebol, polí­ticas de gênero e migração, seu trabalho mistura o pessoal com o político”. A imagem principal que o leitor observa acima faz parte da série Pride, tem como foco as barbearias e no ritual que ele des­creve como “o fenômeno do corte de cabelo e do barbear masculino nas cidades da África ocidental.

ORGULHO

De acordo com Yossola, este projeto oferece-nos “um vislum­bre dos pontos animados onde ho­mens de todas as classes sociais se reúnem, sentando lado a lado para este visual social”. Em seu próprio site, Esiebo nos entrega um texto como prólogo das imagens: “Certa vez, conheci um barbeiro em La­gos [maior cidade da nigéria] que relatou as maneiras pelas quais sua profissão, apesar de ser percebida como algo comum e sem impor­tância, permitia que ele interagis­se com pessoas importantes; ele até citou um ex-presidente entre sua clientela. Isso, explicou ele, trouxe­-lhe um grande sentimento de or­gulho. É este sentimento de orgu­lho e as várias formas de alcançá-lo que sustentam a base deste projeto”.

Esiebo nos explica ainda em como as barbearias traduzem as identidades que dão vida e mo­vimentam as cidades onde estão distribuídas. “O projeto investiga a relação entre os penteados e as identidades individuais e coleti­vas, destacando o impacto social dos cabelos na sociedade africa­na. As imagens documentam a va­riedade de estilos de cabelo e cap­turam em detalhes os espaços nos quais os barbeiros e cabeleireiros operam nas principais cidades da África Ocidental. O projeto anali­sa os mundos materiais e estéticos dos salões/barbearias, e as icono­grafias e símbolos que criam uma convergência íntima-pública de pessoas de todas as esferas da vida”. A série nos mostra os diferentes es­tabelecimentos, seus profissionais, suas decorações e algumas esco­lhas dos clientes.

QUEM SOMOS

A série Pride já foi exibida em Mali, Havana e São Paulo, e am­pliou a visibilidade do trabalho de Esiebo, que também é pauta­do em temas como religiosidade e futebol. Outra série que atrai bas­tante interesse do público se cha­ma Who We Are, e segundo o fo­tógrafo, desenvolve-se através da sua percepção a respeito da ho­mossexualidade masculina, e visa quebrar generalidades pré-conce­bidas em relação ao assunto. “Mi­nha tentativa é de usar os retratos para desconstruir abordagens es­tereotipadas da heteronormativi­dade e tentar trazer um outro olhar. Desejo desfocar a atenção das prá­ticas sexuais homossexuais (para as quais o foco é muito centrado) e refletir mais sobre questões como amor, desejos, aspirações, compai­xão ou fé”, explica Esiebo.

De acordo com o fotógrafo, seu método de trabalho se sustenta no exercício de escanear vários ele­mentos que se comportem, entre objetos e espaços, como uma exten­são daqueles personagens e da for­ma como eles praticam suas vidas. “Achei necessário que eu entrasse nos espaços íntimos dos sujeitos e procurasse os objetos que os cer­cam em suas vidas cotidianas. Es­sas configurações me permitiram refletir sobre suas identidades e so­bre sua relação com o espaço coti­diano mais privado”, explica Esiebo no texto que introduz as fotos da sé­rie, composta por 9 personagens.

Em sua reflexão, o fotógrafo fala das dificuldades adicionais enfren­tadas pelos homossexuais, apesar da constatação de que a forma de se comportar no quesito ‘compar­tilhar sentimentos e afeto’ dessas pessoas ser tão semelhante à ma­neira como também fazem os hete­rossexuais. “Para mim, é interessan­te observar que, em última análise, eles compartilham desafios seme­lhantes aos que compartilham indi­víduos e casais heterossexuais. Em­bora eu esteja me referindo apenas ao ambiente privado, na verdade não podemos esquecer que na es­fera pública, nas sociedades africa­nas, eles estão expostas a outro tipo de agressões”, conclui.

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