Os recursos hídricos não devem ser pesquisados, outorgados e legislados fazendo a dissociação das águas superficiais com as águas subterrâneas, e nem dissociando a qualidade da quantidade. Na maioria dos estados a outorga pelo o uso da água é concedida fazendo esta dissociação.
Em Goiás, ainda não se dá a outorga para lançamento de efluentes ou esgotos de maneira a observar a quantidade outorgada, e também não leva em consideração a outorga de água superficial relacionada com a água subterrânea e vice-versa. Estes fatores contribuem para a diminuição da vazão mínima e aumento do mau cheiro nos cursos de água, como acontece atualmente no Rio Meia Ponte e seus afluentes urbanos. Sendo que o Córrego Cascavel é um exemplo.
Há mais uma década que o Córrego Cascavel quando atravessa a Avenida Castelo Branco produz um mau cheiro insuportável 24 horas em todos os dias do ano, causando náuseas, vômitos e dor de cabeça nos moradores e trabalhadores na região. E nada tem sido feito para sanar definitivamente com esse incômodo, embora o Ministério Público e a Delegacia do Meio Ambiente tenham feito algumas intervenções, dentro de suas atribuições e competências.
Diagnóstico da Bacia do Rio Paranaíba elaborado em 1982 pelo Dnaee - Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica, CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais e Cnec – Consócio Nacional de Engenheiros Consultores indicava: que à altura de Goiânia as condições de qualidade do Rio Meia Ponte tornava-se crítica; e que a demanda doméstica e industrial de Goiânia prevista para 1990 seria igual à vazão mínima que permanecia durante sete dias; e que praticamente logo a jusante, ou seja, abaixo de Goiânia a vazão do rio na época de estiagem seria 90% esgoto.
Já se passaram 36 anos e a qualidade da água do Meia Ponte piorou. Podendo considerar que no período de estiagem é totalmente esgoto, quando passa por Goiânia.
Por duas vezes Rio Meia Ponte foi considerado pela ANA – Agência Nacional de Águas o sétimo rio mais poluído no Brasil, comparado com Rio Tietê em São Paulo. Essa triste notícia parece que não abalou a quem se diz preocupado com a recuperação dos recursos naturais, e em especial com a bacia do Meia Ponte. É de responsabilidade do Estado e dos municípios junto com a sociedade da bacia reverter essa situação.
A degradação desse importante rio para o Estado de Goiás e para a bacia do Paranaíba está gerando um sentimento de repulsa em todos goianos.
Goiânia que já foi considerada a Capital das Flores não merece esse mau cheiro, mas sim, merece exalar o perfume das flores e da relva do cerrado.
(Marcos Antônio Correntino da Cunha, engenheiro eletricista especialista em Hidrologia e Recursos Hídricos)