A obra do alemão Wolfgang Tillman é bastante diversa, e se distingue por uma observação constante das bases do meio fotográfico. Dedica-se tanto à fotografia analógica quanto à digital. Foi o primeiro não-britânico a ganhar o prêmio Turner, uma célebre premiação de artes do Reino Unido. Além disso, foi nomeado pelo site Artsy – site especializado em artes visuais – como um dos 20 artistas mais influentes de 2017 e de 2016. O fotógrafo luta contra a aids desde a década de 1990, e é visto como um dos mais importantes símbolos de resistência e conscientização sobre a doença. Ao longo dos últimos anos esteve envolvido em inúmeras campanhas. Nos últimos dois anos ficou conhecido por sua postura oposta à saída do Reino Unido da União Europeia.
METALINGUAGEM
Gloria Crespo Maclennan, do El País, classifica o trabalho do fotógrafo como “sem limites”. Ela afirma que a metalinguagem que a obra de Tillman carrega nos coloca diante da busca pelo sentido na fotografia no mundo atual, que opera seus sistemas cada vez mais dependentes da representatividade das imagens. “Sua arte fotográfica trata tanto de sua própria vida quanto do mundo que o rodeia. Também dialoga com a história dessa forma de expressão, questionando de modo recorrente os nossos valores e hierarquias, além do valor da foto num mundo cada vez mais saturado de imagens.” Por outro lado, ao apresentar o viés mais pessoal de seu trabalho, fala da busca pela identidade e das fronteiras entre o individual e o coletivo.
O corpo também está presente no universo de suas fotos. A abordagem, segundo Gloria Crespo, é sensível e arriscado. “Não há nada de casual nos retratos realizados pelo artista, nos quais é projetada a vulnerabilidade e a dignidade do modelo. Ou a delicadeza e a fragilidade do corpo humano”, conta a autora. Fora do contexto íntimo, Tillman também busca encontrar um significado fotográfico através dos espaços coletivos. “O mundo exterior também mereceu a atenção do versátil autor, como evidencia sua série Neue Welt, que retrata a vida em diferentes lugares do mundo, lugares que visitou não à procura de um resultado ou objetivo específico, mas com a esperança de encontrar o que falasse sobre a época em que vivemos.”
RECONHECIMENTO
Os editores do site Artsy definem Tillman como um dos responsáveis pela popularização da fotografia marginal. “A guetização da fotografia, que já era prevalente, mas que seguia ignorada pelo mainstream, continuou a ganhar força, e uma pequena parte desse feito é mérito de pessoas criativas como Tillmans”, diz o artigo The 20 Most Influential Artists of 2017 (Os 20 artistas mais influentes de 2017), publicado no último dia 15 de dezembro. “Enquanto a prática artística visionária de While Tillman tem progredido desde os anos 1980 – incluindo imagens figurativas e abstratas, produzidas com tecnologia digital e analógica –, os últimos dois anos viram o artista atingir um novo nível em termos de reconhecimento do público e da crítica.”
É considerado por muitos críticos como o cronista de uma geração que começava a conviver com a globalização, e também aborda os direitos da população LGBT. “O ativismo social e político, mesmo que de forma indireta, sempre foi inerente ao trabalho de Tillman”, escreveram os editores do Artsy em 2016, na lista de melhores do ano. “Nos anos 1980 e 1990, ele capturou imagens profundas da juventude e de clubes ‘alternativos – registrando temas relacionados aos direitos da comunidade gay e à cena de música eletrônica acid-house –, dando voz a uma geração que, segundo ele, acreditava que o hedonismo poderia ser uma forma de ativismo.” O artigo também ressalta a série de posters criadas por ele contra a saída do Reino Unido da União Europeia em 2016.
A partir dos anos 2000 passou a focar mais nos direitos da população soropositiva, trabalhando paralelamente com a arrecadação de recursos para iniciativas de caridade. “Suas imagens fortes têm sido um guia no empoderamento de indivíduos que vivem HIV, e ajudam a informar sobre os tratamentos possíveis. Com essas fotos tem arrecadado fundos para a reconstrução do Haiti depois dos terremotos de 2010.” A experiência de Tillman com a aids começou aos 16 anos, quando ele teve sexo com seu namorado, Jochen Klein, um pintor alemão. Os dois trabalharam juntos até o fim da vida de Klein, que morreu em 1997, devido a complicações com a doença.