Cabeça Oca, personagem mirim do quadrinista goiano Christie Queiroz habita o imaginário das crianças, há quase três décadas. O segredo do sucesso pode ser atribuído ao humor inocente que acompanha as novidades de seu tempo. Mas outro trunfo desse garotinho é que suas tirinhas também sabem olhar o passado. E tanto Cabeça, quanto Mariana e sua turma conseguem ainda ser didáticos e, de forma leve, incorporar aprendizado e incentivo à leitura em suas histórias, principalmente nos livros do menininho. Neles, Christie já abordou o passado da cidade de Goiás e Goiânia. E agora está lançando uma nova aventura, que conta fatos emblemáticos de Brasília, em Turma do Cabeça Oca em Brasília: Os Desafios de JK.
A agenda de apresentação desta obra, na qual a turma de Cabeça Oca visita o Memorial JK e acaba misteriosamente conhecendo o ex-presidente do Brasil Juscelino Kubistchek já começou. A primeira cidade onde Christie recebeu o público para noite de autógrafos foi, não por acaso, Jataí (GO). “Lá foi o pontapé inicial para a construção da capital. Achei que seria justo começar por lá”, contou Christie, em entrevista ao Diário da Manhã.
Semana passada a obra foi lançada em Brasília e nesta semana, enfim, foi apresentada em Goiânia. E, juntamente com a tour do livro Turma do Cabeça Oca em Brasília: Os Desafios de JK, o quadrinista também está lançando o 12º volume da Coleção Cabeça Oca , uma coletânea de tiras de quadrinhos que faz um passeio por vários temas.
“Um deles é o ambiente escolar e o Cabeça Oca tem grande dificuldade para acordar cedo. São histórias curtas e divertidas que contam também com uma releitura de ditados bem conhecidos de todos nós. Há um grande presente junto ao livro: um boneco articulado do Cabeça Oca para alegria da turma de todas as idades”, disse o quadrinista, adiantando ainda que até o final do ano vai lançar o livro Terra Ronca Vol 2.
“Paralelo a isso, tenho lançado anualmente agendas escolares com a Turma, espetáculos teatrais inspirados nos meus livros e, agora, cadernos inspirados na Turma do Cabeça Oca”, acrescenta o artista, que em entrevista, entre outros assuntos, falou um pouco do caráter, cada vez mais didático, de seu trabalho, da importância do incentivo da leitura em tempo de internet e, claro, sobre o universo dos quadrinhos. Confira a conversa a seguir.
ENTREVISTA CHRISTIE QUEIROZ
DMRevista - Antes de “Uma Aventura em Brasília”, você fez livros inspirados na história de Goiás e Goiânia. Quando e por que nasceu a ideia de usar as histórias de Cabeça Oca de forma didática?
Christie Queiroz - Tenho o objetivo de contribuir com a educação. Para mim era inaceitável e achava um absurdo não existirem obras para o público infanto-juvenil que contassem a história do nosso Estado. Sempre visitei escolas e comecei a pesquisar com as crianças se conheciam algo sobre Cora (Coralina), Cavalhadas, a história do nosso Estado. Fiquei surpreso ao descobrir que elas nem sabiam quem era Cora. Tomei a decisão de fazer isso. Apresentei a nossa história para elas e me surpreendi ao descobrir que estava fazendo algo totalmente novo.
DMRevista - Como é o retorno da criançada e dos pais a respeito dos livros didáticos? Já recebeu algum relato de alguma criança que começou a gostar de história por causa de seus livros?
Christie Queiroz - Recebo todos os dias mensagens de um público imenso que me escreve, que me reporta. Seja pelas redes sociais, em eventos ou visitas às escolas. Percebo uma grande satisfação no retorno que me dão e que pais e filhos acabam aprendendo juntos. Essa também é uma das intenções das obras. Reunir a família para a prazerosa leitura e bate-papo sobre o tema.
DMRevista - É um estudioso de fatos históricos?
Christie Queiroz - Sou muito curioso, gosto muito de ler e de pesquisar. É com o passado que construímos futuro e entendemos o presente. Gosto de investigar e tentar contar algo para as crianças de uma forma que elas entendam e tem funcionado. A história me encanta. Os fatos históricos sempre chamaram minha atenção. Toda hora penso em um novo tema para trabalhar.
DMRevista - Com acesso à internet cada vez mais cedo, as crianças mantêm o interesse pelas HQs?
Christie Queiroz - Elas se divertem quando têm contato com meus quadrinhos. Tenho um grande público no Instagram e Facebook. Acredito que há um risco na internet. Há pouca leitura, muitos vídeos, jogos e conversa fiada. É preciso de incentivo à leitura. Mas, infelizmente, é mais fácil colocar um tablet ou um celular na mão de uma criança porque a deixa ocupada por mais tempo sem que perceba. Isso está atrapalhando a infância. Há um tempo para cada coisa. Não podemos preencher o tempo deles inteiro com internet. Até porque é difícil filtrar a presença de gente mal intencionada por ali.
DMRevista - A internet ajuda ou atrapalha o mundo dos quadrinhos?
Christie Queiroz - Ajuda demais. Antes precisávamos de jornais para que o público nos conhecesse. Hoje todos podem criar seus próprios espaços, seja em blogs, sites ou redes sociais. Há uma gama enorme de seguidores. Fui selecionado para a Comic Con do ano passado e deste ano também, em São Paulo. É um evento gigantesco com uma turma sedenta por quadrinhos vinda de todo o País. Há um movimento crescendo bastante e um mercado bem aquecido. Embora as bancas tenham diminuído, a cada dia cresce o número de publicações. Isso demonstra que o formato banca é que está ultrapassado. Quem tem apostado em revistarias e livrarias especializadas tem se dado bem. Aqui em Goiás este mercado também está numa crescente. Há eventos contínuos de uma turma aficionada nestes universos.
DMRevista - Como analisa o universo das HQs em Goiânia?
Christie Queiroz - Há vários artistas de muita qualidade trabalhando por aqui, mas com dificuldade para encontrar seu público. Falta orientação de área, pesquisa de mercado. Um pequeno grupo tem tentado se organizar e com frequência promovido eventos. É um mercado crescente. Falta apoio.
DMRevista - Que conselho daria para quem deseja seguir os seus passos como quadrinista?
Christie Queiroz - Olha, comecei a publicar em jornais com 16 anos, mas desde os sete já fazia gibis. Sempre acreditei. O princípio de tudo é você acreditar no que faz, colocar verdade nisso. Outra coisa é observar os retornos que lhe dão. Aí, você consegue medir a temperatura do que faz. Mas algo que muita gente deixa para trás são os bons conselhos de gente experiente. Eles podem encurtar o caminho para se alcançar o sucesso.
O CARTUNISTA
Nasceu em Goiânia dia 23 de janeiro de 1973. Aos 16 anos começou a publicar as tiras do Cabeça Oca no Jornal O Popular, em Goiás, Jornal do Tocantins e Jornal de Brasília, no Distrito Federal. O autor, Mestre do Quadrinho Nacional 2016, vencedor do Prêmio Angelo Agostini, tem 31 livros publicados. O personagem Cabeça Oca, publicado há 29 anos em jornais, saltou para os livros e gibis, dos livros para o teatro, agenda escolar e, agora, vai também estrear cadernos. O personagem estrelou livros com a temática goiana contando a vida de Cora Coralina, a história das cavalhadas de Pirenópolis, a fundação de Goiânia, a história de Goiás e viveu uma aventura em Terra Ronca. Os livros são adotados em boa parte das escolas particulares de Goiânia e em todo o Estado de Goiás.