“A semana inteira fiquei esperando, pra te ver sorrindo, pra te ver cantando”. Estes versos são de Tim Maia, mas poderiam traduzir o sentimento da Fiel Torcida em relação ao Corinthians. Apesar de estarmos à beira de sofrer uma overdose por futebol bem jogado em função do futiba nosso de cada dia, o Timão faz falta quando estamos sem a tão aguardada peleja semanal. No entanto, o sonho de disputar uma final esse ano–algo que parecia de outro planeta, já que o elenco alvinegro é fraco–se fez possível.
Amigo sofredor, partilho de amor e ódio com o Corinthians, disso não há dúvida. Basta o treinador pôr em campo Roger ou Marquinhos Gabriel que não consigo controlar o ímpeto: impropérios vem-me à cabeça na hora, como a nota na guitarra de Jimi Hendrix em Woodstock, ainda mais se esses sujeitos errarem o último passe que poderia culminar em chance clara de gol. Porém, se Roger e Rodriguinho balançar o jardim adversário elevo-os imediatamente à condição de craques da partida, ainda que eu esteja agindo no calor da fúria e paixão corintiana.
Sou preto e branco, quer dizer, transformei-me em algum momento num sadomasoquista, como cantou Rita Lee, já que torcer pelo alvinegro é um exercício cardíaco diário e um atestado de demência irrefutável. Sou um mero cronista romântico e apaixonado que ainda sonha com as utopias marxistas, pois o Corinthians é o proletário que consegue em algum momento de sua vida, geralmente inebriado pela ressaca pós-jogo, o êxtase da existência que capitalismo lhe suprime e se revolta contra a Mais-Valia.
Há coisas que só acontecem ao Corinthians e a mim. Por exemplo, o Corinthians é um clube que nunca desiste, que dispõe de humildade, independentemente das circunstâncias. O Corinthians sempre buscou se profissionalizar ao máximo, bem como os garranchos que vira e mexe invento de escrever neste lúdico jornal.
Se a vida seguisse uma lógica, o Corinthians não teria um torcedor sequer nesta segunda década do século XXI, já que a massa alvinegra nunca foi acostumada a títulos–vide os 23 anos, entre 1954 e 1977, sem conquistar o Campeonato Paulista. O Corinthians é capaz de ficar anos a fio sem levantar um troféu, mas é incapaz de tê-lo sem sofrimento. O Corinthians é capaz de cometer uma injustiça brutal a um filho seu, mas é incapaz de cometê-la com um torcedor, isto é, com integrantes do bando de louco que gritam incessantemente durante 90 minutos.
O Corinthians não se dá bem com ‘chinelinhos’, tem de ser como eu: coração selvagem, tudo temerosamente inventado na hora. Por isso, digo que Balzac é Corinthians, Flaubert é palmeiras; Baudelaire é Corinthians, Verlaine é palmeiras, Rimbaud é São Paulo; T.S Eliot é Corinthians, Erza Pound é Santos; Fernando Pessoa é Corinthians, Camões é santos; Eduardo Galeano é Corinthians, Gabriel Garcia Marquez é Palmeiras; Pablo Neruda é Corinthians e Federico Garcia Lorca é São Paulo.
Sim, os poetas românticos do século XIX são Corinthians, mesmo no fundo, no fundo, debaixo da capa dos versos, há um romantismo um tanto quanto bairrista. O Corinthians é, antes de tudo e sobretudo, confusão, paixão, grito, desespero, loucura e sanidade. O Corinthians, às vezes, maltrata entes queridos, como eu. O Corinthians, invariavelmente, é boêmio, assim como eu..
Enfim, senhoras e senhores, o Corinthians é meio tantã, que nem eu. E meu coração selvagem é cada vez mais alvinegro, que nem as cadeiras da Arena Corinthians.
Forte Abraço, até a próxima crônica do lirismo boêmio e futebolístico.