O mundo circense goianiense contou a presença de um nome reconhecido no cenário internacional. Esteve por aqui o artista e professor circense Roman Fedin, a convite do Núcleo de Formação Ampliada para o Artista de Circo – NUFAAC, um projeto que chegou para preencher uma lacuna quando o assunto é a profissionalização circense, da Catavento Companhia Circense. O artista ministrou um estágio em técnicas de acrobacias aéreas para os 15 alunos selecionados do projeto.
Fedin é professor de técnicas aéreas na famosa Ecole Supérieure des Arts du Cirque (ESAC), uma escola de circo profissional e de referência localizada em Bruxelas, na Bélgica, desde 2005. De origem russa, iniciou sua carreira aos 10 anos, formando-se na escola de circo "Karandash" de Moscou. Após numerosas turnês na Europa ele voltou à escola de Moscou em 2002 como professor. Paralelamente, ele desenvolve sua carreira artística com um número de rola-bola até se estabelecer como professor oficial na ESAC.
Aproveitando a visita deste artista em Goiânia, o DMRevista bateu um papo rápido com o acrobata russo, a respeito das felicidades e agruras de quem tem vive pelas alturas. Pois, não apenas de risos se faz um circo. Roman conta que não há como desafiar os limites do corpo sem passar por uma rotina rígida de treinos. Ou seja, é necessário profissionalização.
De acordo com o artista de 42 anos, que dedicou a maior parte da vida ao circo, um dos maiores desafios da arte é apresentar ao público números mirabolantes passando a impressão de que são feitos com o mínimo esforço. Porém, ele conta que para tais movimentos parecerem naturais é necessário dedicação acima de tudo.
“Acredito que para transmitir felicidade ao público com alguma facilidade, você precisa trabalhar duro para isso na construção do seu número e dos movimentos. É preciso criar uma disciplina de trabalhar diariamente com bastante dedicação para se comunicar de maneira mais fácil.com a plateia”, disse.
Para garantir a boa performance nos palcos, Roman Fedin bate na tecla da profissionalização. Na Rússia, por exemplo, vê a preocupação com o estudo dos movimentos mas, pelo que observou, Goiânia andava carente deste tipo de iniciativa. “Vi vários circos tradicionais, vários amadores e apenas uma escola que tem a proposição de formar artistas profissionalmente”, contou o artista se referindo ao NUFAAC.
Para ajudar a contornar este cenário, Roman chegou a Goiânia com intuito de aliar a técnica ao fazer artístico. A chegada do russo por aqui foi possibilitada por uma conversa com idealizador do NUFAAC, Felipe Nicknig. “Ele (Nicking) contou sobre esse projeto que tem em Goiânia. E achei a iniciativa muito interessante. E daí surgiu a vontade de participar deste projeto”, explicou Roman, que ministra aulas em diversas escolas de circo mundo afora.
Com a experiência de 32 anos nas acrobacias aéreas, ele conta que para aprender a arte, o primeiro passo é a preparação física e técnica e, claro, não ter medo de altura. Depois, ainda de acordo com o artista russo, vem o que para ele é uma das características mais fascinante do universo circense. “Acho incrível expressar o sentimento através do movimento. As aulas de aéreo são chances do aluno alcançar um lugar maior para essa expressividade”, ressaltou.
Equilibrar corpo, mente e criação é então o que deseja buscar em suas aulas. Além disso ele acredita que para consagrar-se enquanto artista circense não existem fórmulas pré concebidas. “Não sei se há um modelo ideial de circo. Mas o principal é trazer às pessoas a sensação de felicidade. O circo impressiona e acho que com isso pode fazer diferença na sociedade”, argumenta.
ESCOLA DE CIRCO INÉDITA E INTERNACIONAL
O projeto do NUFAAC é inédito no Estado de Goiás, principalmente por sua carga horária de 586 horas, que só se compara aos cursos da Escola Nacional de Circo, do Rio de Janeiro. Segundo seu idealizador, Felipe Nicknig, a ideia é oferecer oportunidades aqui mesmo, em Goiânia, para artistas que atualmente precisam buscar fora do estado este tipo de instrução e de conteúdos tão aprofundados.
O NUFAAC teve início em 11 de junho, e suas aulas acontecem de segunda a sexta-feira, na sede da Catavento Companhia Circense (R. 132, nº 500, St. Sul–junto ao Clube de Engenharia de Goiás). A duração prevista para a certificação da primeira turma do Núcleo é de seis meses. As atividades incluem: aulas diárias, palestras, seminários, estágios e cursos inéditos sobre segurança, além da criação de números artísticos, que serão reunidos em uma Mostra Artística.
As acrobacias aéreas são o ponto de partida, mas cada aluno tem desenvolvido habilidades ligadas aos seus interesses criativos no campo circense. Para fazer parte do núcleo foram selecionados 15 (quinze) artistas, com idade acima de 17 anos, que por meio de suas inscrições demonstraram experiência em Dança, Teatro, Circo e/ou Ginástica Artística.
O curso pretende preparar os artistas para escolas preparatórias e superiores de circo de qualquer parte do mundo. “Este projeto é resultado da minha própria trajetória e experiência e traz para o cenário goiano uma proposta de formação diferenciada daquilo que vem sendo realizado. É importante ressaltar que não se trata de desmerecer as iniciativas que já existem em nossa cidade. Ao contrário, é uma tentativa de complementá-las, oferecendo aos nossos artistas mais uma etapa de profissionalização, propondo novas referências, olhares e perspectivas, necessárias para que haja um crescimento real do que é feito por todos nós. Tanto quanto à qualidade, quanto ao amadurecimento estético e de produção.”