Não me considero uma escritora stricto-sensu, talvez o seja lato-sensu. Escrevo porque gosto. Reconheço que a tarefa não é fácil. Demanda tempo, conhecimentos, dedicação e... talento.
Há escritores, cheios de talento e dom, cujas ideias fluem fácil, são sensíveis e ricos de imaginação e criatividade. Outros se forjam no labor diuturno, na pesquisa diária, no exercitar perseverante. Contudo, por mais talentoso seja aquele que quer se firmar, ser reconhecido no meio intelectual, ou perante ele próprio, necessita ler, estudar, conhecer o assunto sobre o qual quer discorrer, observar e, especialmente, pensar, refletir a respeito do que observa, vê, conhece, sente. Enriquecer o vocabulário ativo, adquirir conhecimentos linguísticos que vão possibilitar-lhe escolher entre as várias opções que a língua lhe oferece.
Observar é fundamental: cada gesto sugere ou revela influências, escolhas, dúvidas, certezas, interesses, desejos, temores, que serão filtrados pela visão de mundo do escritor. Como reagiria em situação semelhante? Se estivesse atuando naquela cena, como a interpretaria? É na curiosidade, na indagação, na busca de informações; é no pensar sobre, no inquirir, no recriar situações, no exercitar constante, que ele alimenta sua imaginação, aguça sua criatividade, desenvolve sua competência linguística, aprimora sua performance.
O escritor deve estar conectado com tudo o que o cerca, com o pensamento das pessoas, com o que sentem, com o que fazem, com o que querem e esperam, mas não pode negligenciar o que ele próprio pensa, faz, conhece, deseja, sonha, experiencia. É uma difícil tarefa, como já disse, pois ao mesmo tempo em que deve estar ligado ao que acontece no mundo, ou pelo menos a sua volta, necessita isolar-se para refletir sobre o que deseja exprimir e que será fruto de uma análise permeada por seu modo de pensar, ver, sentir, reagir...
O recolhimento, o silêncio interior são-me, pois, indispensáveis para que eu possa entrar dentro de mim e buscar no autoconhecimento, no conhecimento adquirido, nas minhas experiências de vida a base que me possibilitará analisar e sopesar a situação que se me apresenta e que quero expressar. Recrio uma realidade, carregada com as formas e as cores sugeridas pela minha imaginação.
A experiência, como criativamente a conceituou o romancista Henry James, assemelha-se a “uma vasta teia de aranha, da mais fina seda, suspensa no quarto de nossa consciência, apanhando qualquer partícula do ar no seu tecido”. É no silêncio, no recolhimento que pinço as partículas penduradas nas tramas de meu saber já experienciado ou processado, permitindo à imaginação fluir com o mínimo de obstáculos. É no silêncio interior, que não é a ausência completa de ruídos, que a mente trabalha de forma profusa.
Entretanto, a par de tudo isso, faz-se imprescindível a disciplina. Determinação, empenho, local certo e horário constante em que eu possa recolher-me e condicionar meu cérebro para que ele produza o texto que pretendo escrever. Essa é minha maior dificuldade. Falta-me disciplina, falta-me dedicação, faltam-me determinação, engenho e arte. Não paro para pensar, coordenar meus pensamentos, refletir sobre eles e o que almejo expor. É como se padecesse da síndrome do pensamento acelerado. Tenho de disciplinar-me, priorizar o que quero e penso ser mais importante. Folha dispersa pelo vento, deixo-me levar pela mais suave brisa do que querem que eu faça ou por algo que devo e não é o que realmente quero fazer. Sei que não posso e não devo continuar respondendo sim a todos esses apelos alheios à minha vontade. Urge que retome as rédeas de minha vida, pois isso me distancia do escritor que gostaria de ser e não me esforço para ser. Mais escreveria, não fora para tão difícil tarefa tão curtos o empenho, engenho e arte.