Um dos pintores mais notórios da história da arte japonesa, Fujishima Takeji é visto como um grande catalisador de estilos. Suas fusões, no entanto, impressionam pela limpidez dos elementos que apresentam. Através de composições silenciosamente perturbadoras, aglomera romantismo e impressionismo, trazendo ainda indícios do movimento yôga – termo usado a partir do final do século XIX para denominar pinturas feitas por japoneses em conformidade com técnicas e materiais ocidentais. ‘Nascer do sol no Mar do Leste’, de 1932, é considerada sua obra prima. É o resultado de uma verdadeira saga em busca do nascer do sol mais deslumbrante, na qual ele percorreu milhares de quilômetros de Honshu, no centro do país, até Taiwan, na época colônia japonesa.
A admiração de Takeji pelo fenômeno diário da alvorada durou cerca de uma década (1928– 1937), e rendeu exatamente 20 quadros. ‘Nascer do sol no Mar do Leste’ foi uma encomenda do imperador Showa. “Além do veleiro, consiste apenas em mar e céu”, descreve o texto publicado no site Google Arts & Culture. “A composição é simplesmente organizada de planos de cores extremamente simples e límpidas. Nele vemos a epítome da simplicidade, maior objetivo de Fujishima”. Durante esse período da carreira, a temática das pinturas de Takeji se resumia basicamente às paisagens, com exceção de um ou outro retrato. As últimas três pinturas desse período foram concebidas no planalto da Mongólia, em 1937.
Outra tela importante desse período, ‘Vista distante de Yashima’, de 1932, também é inspirada no show de cores do céu. De acordo com o site do Museu de Arte Bridgestone, o quadro foi pintado numa passagem do pintor por Yashima, na província de Kagawa. “Fujishima passou quase um mês morando em Yashima-Kan, uma pousada próxima do topo de Yashima. De acordo com seus registros, lá ele produziu ‘34 ou 35 rascunhos, grandes e pequenos’”. Ainda de acordo com o site, o pintor estava extremamente encantado com a mudança de cores durante as manhãs e tardes em Yashima, e tentava capturar essas transformações em suas telas.
CAMINHOS
Takeji nasceu em 1867, na cidade de Kagoshima, na ilha Kyushu, no extremo sudoeste do país. Sua família era de uma classe de ex-samurais, e seu pai trabalhava para um grande proprietário de terras. Começou a estudar artes na Escola Secundária de sua cidade natal, antes de mudar-se para Tóquio em 1894. Primeiramente, teve aulas com Kawabata Gyokusho, um pintor tradicional. Seu interesse por arte ocidental, no entanto, levou o artista a procurar por outras influências. Para suprir esse anseio, teve aulas com Yamamoto Hōsui, pintor realista. Em 1905, esteve na França, que no momento vivia intensamente o impressionismo, estilo que esteve em evidência em seu trabalho durante toda sua carreira dali em diante.
De acordo com Lee Jay Walker, em artigo para o site Modern Tokyo Times, a tendência de Fujishima a abraçar a arte ocidental é um reflexo das grandes reviravoltas na sociedade japonesa durante o seu crescimento. “Os tempos de mudança durante aquele período da história japonesa explicam seu afastamento natural da arte tradicional japonesa. Isso também se aplica a todo o clima artístico no Japão durante o período acadêmico de Fujishima”, expõe o autor. Durante os anos 1890, o pintor enxergou na vida acadêmica uma grande oportunidade de expandir os horizontes. Começou a dar aulas em 1893, e em 1896 passou a lecionar na Escola de Artes de Tóquio, onde, finalmente, passou a ter grande contato com arte ocidental.
ESSÊNCIA
Na página dedicada ao artista no site do Museu de Arte Bridgestone, de Tóquio, temos em destaque uma citação de Takeji em 1930. Nela, o pintor sintetiza sua visão artística, baseada principalmente na falta de excessos. “Quando falamos da arte de pintar, a simplicidade, acredito eu, é o mais importante. Nossa prioridade deve ser a composição do plano da pintura, e para isso o artista deve aplicar sua capacidade de simplificar, desenrolando os fios emaranhados”. O processo de criação de Takeji, segundo o próprio, preza pela indispensabilidade total de cada elemento. “Meu trabalho, tanto hoje quanto no futuro, seja pintando paisagens ou retratos, é remover cada pedacinho de excesso, e ao fazer isso, pintar apenas o que deve ser pintado”.