A expressão artística é uma forma de existir dentro desse mundo caótico. Algo que deveria ser um direito para todos, mas que, devido ao discurso de ódio de muitos, acaba em segundo lugar. A cultura é uma forma de se identificar como pessoa, como ser pensante e por esse motivo deveria ser incentivada desde os primeiros momentos da vida.
Felizmente, ainda existem alguns “loucos” que caminham por esse terreno cheio de declives e armadilhas. A resistência se torna arte e a arte se torna possível graças a esta resistência. Uma espécie de ato poético dentro da expressão, que faz de qualquer iniciativa cultural um grande acontecimento.
Por esse motivo é de extrema importância permitir o acesso e a divulgação de novos artistas. É preciso dizer que estas pessoas existem e continuam gritando, mesmo com tantos dedos pedindo silêncio. Paula Kalinne Valoz é natural de Goiânia e mora na capital atualmente. Faz uso dos flashes e instantes para registrar na fotografia seu mundo particular.
Ela conta que a fotografia surgiu na sua vida como uma ideia ou um insight. “Há pouco tempo meu noivo, que já havia tido contato com essa expressão antes, me disse que seria bacana se a gente pudesse trabalhar juntos nesse meio. Acabei comprando essa ideia e, muito imediatista que sou, em pouco tempo já havia providenciado uma câmera”, diz.
CONFIRA ABAIXO ENTREVISTA COMPLETA COM A FOTÓGRAFA PAULA KALINNE VALOZ
– Quando começou a fotografar? O primeiro contato com a fotografia artística aconteceu em que momento da sua vida?
Costumo responder essa pergunta dizendo que a fotografia foi “ uma ideia”. Há pouco tempo meu noivo, que já havia tido contato com essa arte antes, me disse que seria bacana se a gente pudesse trabalhar juntos nesse meio. Acabei comprando essa ideia, e muito imediatista que sou, em pouco tempo já havia providenciado uma câmera. Em busca de referências e inspirações pelas redes sociais me deparei com o perfil de “ Lee Jeffries”, um fotógrafo americano que tem um olhar peculiar e diferente sobre os seres humanos, ao contrário e ao contrário desse mundo de fotografia “ tumbrl “ Lee procura retratar as pessoas exatamente como são e chega a ser possível sentir seu trabalho.
Me lembro que meu primeiro contato com a fotografia foi no dia 28 de junho deste ano, ansiosa com aquela câmera nas mãos, me soltei no Centro de Goiânia em busca de algo que me provocasse uma determinada sensação. Meio tímida comecei a abordar algumas pessoas que aos meus olhos carregavam uma personalidade única, um estilo diferente no meio da mesmice da multidão, foi quando me deparei com um senhor, sentado tentando se esconder do sol com semblante fechado, me aproximei pedindo para tirar uma foto. Ele, para minha surpresa, disse sim! Nitidamente sistemático, porém aceitou e aquela foto está comigo sempre. É o registro que definiu o que queria fazer. Sei que muitas pessoas ao ler isso vão dizer que mal procurei, que não me aventurei nos diversos leques que a fotografia oferece. Mas quando digo que me encontrei nesse retrato, é porque nele vi que o que queria captar era muito mais que a beleza das pessoas. Procuro a personalidade delas , transmitir o que são e o que estão sentindo naquele momento. Registrar um momento significativo ou não e torná-lo eterno.
– Você tem algum familiar ou conhecido que a influenciou a entrar na fotografia? Existe algum artista que você admira ou tem como referência?
Admiro vários profissionais, principalmente os que procuram captar a essência do que estão fotografando, porém procuro sempre criar um estilo próprio, uma forma de marcar as pessoas com detalhes meus, seja numa posição que adiciono alguém a ficar quando estou numa sessão, ou num toque que dou à imagem quando estou tratando ela.
Minhas referências no sentido inspiração , Lee Jeffries , Sandro Junqueira, Fabrício Garcia (todos os @ podem ser encontrados com esses mesmos nomes).
Meu incentivador, quem me deu “ a ideia “ da fotografia, foi meu noivo, que também é fotógrafo, principalmente automotivo, Flavio Pacheco.
– Para você, o que mais te motiva a fotografar? Existe algo de específico na fotografia que te fez seguir nesta arte?
Sou atraída pelo senso da eternidade. Sempre gostei de fotografia, por essa questão em específico, porém até pouco tempo só me aventurar na frente das lentes e quando me arrisquei a mudar de posição encontrei um propósito maior. Hoje a fotografia é a forma mais bonita de expressar o que há em mim , como vejo o mundo, as coisas e as pessoas , mostrando que o real é o que é bonito, e o que sentimos é literalmente como somos vistos. Se sentimos amor automaticamente, vamos expressar isso, seja nos gestos ou em qualquer outra forma, a raiva do mesmo jeito.
– O que você mais gosta de fotografar? Você estuda muito o objeto antes de iniciar o trabalho?
Gosto de fotografar o que é vivo e, acredite você ou não, alguns exemplos são muito parecidos. Os animais na minha visão são os seres mais expressivos do mundo. Um cão transmite exatamente o que está sentindo pela forma que te olha e uma criança também.
São seres que possuem pureza na personalidade. Chega a ser cristalino, é uma coisa que normalmente se vai com o tempo, que se perde nas dificuldades e principalmente nos momentos de aprendizagem e crescimento. Porém, a experiência dos anos e as marcas de expressão que carregam sabedoria também têm seu valor. Gosto de captar isso, de registrar o que é puro tanto quanto o que é sábio. Não procuro estudar, procuro entender o que levou aquela pessoa até mim. Qual a intenção dela, o que ela quer ver que o espelho não está mostrando e que a minha arte talvez consiga esbanjar.
– Como é o processo fotográfico? Você decide o tema ou é algo mais automático?
O processo é simples e quase sempre o mesmo. As pessoas vêm até o fotógrafo querendo um ensaio. Às vezes já vêm com uma ideia pré-definida, outras não fazem ideia . Antes de mais nada procuro saber quem é aquela pessoa – como você é ? , o que você faz ? , gosta do que faz?, de onde está agora?, quais são seus planos, seus sonhos, objetivos...
Para algumas pessoas isso pode ser estranho, mas pra mim é mais estranho não saber nada sobre alguém que te procura pra registrar um momento, uma fase, alguém que esteja precisando de um levante na autoestima. Como você vai enxergar o que aquela pessoa quer sem conhecê-la? Os sonhos de uma pessoa falam muito sobre ela, sobre o que ela é e quem quer ser. Esse é meu processo , e muitas vezes com ele as pessoas mudam de ideia e se entregam a um novo estilo, que antes talvez nem se imaginasse.
– Qualtrabalhofotográficoquevocê realizou e mais te surpreendeu?
Gosto de todos os meus trabalhos. Quem me conhece sabe que me dedico muito, estudo muito e procuro sempre melhorar. Alguns são sempre mais marcantes por abordar talvez um tema ou um estilo não tão bem visto por algumas pessoas. Afinal, por mais inaceitável que seja, em pleno século 21 ainda somos um País racista, machista e homofóbico.
HÁ pouco tempo realizei um ensaio com uma negra incrível, com uma beleza surreal e extremamente natural. Ela é aquilo que tá na foto , um poço de sensualidade e delicadeza. Sem maquiagem, sem roupas de marca, a Yara trouxe mais vida à minha arte, mais cor, entende? Assim como Yasmim e Tainá, um casal lindo e que ainda tenha que enfrentar seus problemas pessoais, familiares e sociais, esbanja amor. Você sente amor só de estar perto delas. E se você tem um pensamento arcaico sobre um casal homossexual, no qual as duas ou uma delas deva parecer um homem, te convido a ver o ensaio na minha página e entender que esse pensamento deve ser revisto. Afinal, são duas musas, duas deusas com personalidades incríveis das quais você provavelmente tem muito a aprender.
– Existe algum fotógrafo da atualidade que você acompanha? Acompanho vários fotógrafos e admiro muito cada um com suas peculiaridades. Flavio Pacheco, Sandro Junqueira, Fabício Garcia, Naju de Castro, entre outros. A maioria de Goiânia, apenas Fabricio Garcia que é de MG.
– Como divulga seu trabalho? Todo meu trabalho é divulgado através de redes sociais, instagram e facebook. Acredito que ambas as ferramentas são uma mão na roda para esse tipo de ofício. O Instagram principalmente, pois consigo publicar meus trabalhos e, através deles, repassar mensagens de motivação ou de crescimento e autoconhecimento para aqueles que me acompanham. E através das experiências que vou passando mostrar que a persistência e a autoconfiança são fundamentais, mesmo nos momentos mais difíceis.
– Existe alguma outra expressão artística, como poesia ou música, que gostaria de trabalhar? Pensa em experimentar algum tipo de junção entre estas artes e fotografia?
Todos os meios artísticos possuem uma forma de inspiração, acredito que todos mesmo. Podemos absorver muito de uma música, de um poema, um livro. O mesmo com a dança, as peças de teatro, as artes de rua e as que estão situadas em museus. Particularmente a arte de rua é a que mais me atrai. Me identifico com ela de alguma forma , acredito que carrega um grito de liberdade de expressão.
Um tatuador que, além de artista de pele ,também tem uma mão para a arte de rua ‘grafite’, chamado Matheus Costa , expressa muito o que procuro na fotografia. Ele criou uma identidade com o seu trabalho, não tem um lugar que eu vá e veja uma arte feita por ele no braço de alguém que seja impossível de identificar. E nunca falha, sempre é ele. É o que mencionei sobre a personalidade que procuro expor na fotografia. Ele coloca do seu jeito e da sua forma no que faz. Em tudo que vejo que ele faz, ele é um dos melhores