Dos dengos femininos o que mais nos faz falta é o tal do cafuné.
Impressionado com o desdém de homens e mulheres, a coluna resolveu lançar uma campanha para o resto de 2018.
Que tenhamos mais cafunés. Que não o deixemos apenas para a hora agá, nem o utilizemos como combustível para o sexo – aliás, depois da transa cai muito bem.
Que o cafuné, neste final de ano, seja permanente, ora pois.
Que sigamos o exemplo do escritor brazuca Jorge Amado e sua amada, a literata Zélia Gattai, na foto que ilustra esta croniquinha.
Pela volta imediata dos mais nobres dos gestos de carinho e delicadeza.
Este servo vagabundo das palavras, numa discussão acalorada no boteco, chegou à conclusão de que não há nada mais lindo do que as mãos de uma moça caminhando pelos teus cabelos.
Pela criação da Casa de Cafunés Gilberto Freyre. Há alguns anos, o jornalista e escritor Xico Sá propôs sua crianção, em seu blog, na Folha de São Paulo.
Infelizmente, nada saíra do papel e o clube dos machos passara a fazer cada vez menos cafuné nas damas.
Que homens e mulheres sejam treinados para reaprenderem o hábito do cafuné, e não o desaprendam jamais.
Ou ainda: que seja feita uma sonora campanha de saúde pública cujo propósito seja a volta do carinho mais sublime da espécie humana.
Quantas doenças nervosas seriam evitadas, quantos barracos de casais seriam esquecidos, se o tal do cafuné fosse prática corriqueira?
Sem falar no erotismo que o dengo desperta, como atesta o sociólogo francês Roger Bastide, em seu belo ensaio “A psicanálise do cafuné”.
Pura libido.
Delícia de se sentir, formosura de se ver. O cafuné, amigo leitor, sem dúvida, é um dos atos mais lindos que um ser-humano pode fazer em outro. Todos os instintos animais correm para o fundo do ralo, se o cara agrada a dama com um cafuné, ou vice-versa.
Até o mais aloprado dos homens vira sujeito cordial e gentil, com cafunés.
Talvez Jair Bolsonaro chegasse a conclusão de que não vale a pena jorrar, como uma metralhadora 7 milímetros, palavras inúteis que estimulam o ódio, o preconceito, a intolerância.
Ai que preguiça, que arrepio no cangote. Porra, quero meus cafunés de volta.
Como pode uma criatura, como esses rapazes com calças coladas ao corpo, que se denominam Bolsomitos, passarem pela vida sem desfrutar de um bom cafuné?
Pela obrigatoriedade dos cafunés no receio das escolas, nos pátios das faculdades, no café da firma, nas redações, nos intervalos dos jogos do teu time.
Não se pode condenar toda uma geração a viver sem cafuné. Trata-se de uma questão de segurança nacional, tão importante quanto políticas sociais.
Porque o cafuné, amigo leitor, é a assinatura renascentista de mulher. Um tesão.