A migo alcoólatra, como é bom sentar no boteco na sexta-feira após o trampo e dar um risinho safado para o capital que se esborracha há duas quadras dali. Como é bom, mesmo para um falido da porra que tem grana apenas para uma dose de campari, mandar o patrono às favas e, ainda por cima, desmoralizá-lo na mesa do bar diante de colegas, também proletas.
Um birita à sombra da mais-valia, da vagabundagem e do ócio na espelunca mais famosa de toda cena underground de Goiânia: o famigerado Bar da 12. Seu Leandro é gente boníssima, cerveja sempre brincando e o melhor disco de carne da região Centro-Oeste.
A minha peregrinação diária nas instituições etílicas da capital goianiense me rendeu múltiplas situações cômicas. Outras bem trágicas... Mas como é bom encher a cara junto de uma companhia feminina, a verdadeira luz na cachola deste cronista que vos torra a paciência diariamente, com teus pés enroscando embaixo da mesa nos pés dela, conversa leve, sobre arte, poesia e a ascensão fascismo com a candidatura de um tal ultradireitista aí.
Uma conversa dessas, ilustre leitor e leitora, pode potencializar a troca de olhares e iluminar toda uma cidade tomada pelo conservadorismo – afinal, o sujeito que não olha para a maçã do rosto da moça é um tremendo besta, como escreveu Ferreira Gullar e comprovou este cronista chinfrim.
Numa mesa de bar, pontuo, não valem comentários que não tenham, no mínimo, uma sátira no meio da frase – metáforas são mais que essenciais, metonímias, então, nem se fala, isso sem falar na anáfora... Ridículo é o cara abancar-se no templo etílico e começar a discorrer sobre a perspectiva do liberalismo na sociedade pós-moderna.
Ora, meus raros, mandem, sem dó, tampouco piedade, o sujeito para a puta que lhe pariu, caso presenciem uma excrescência dessas. Será melhor para todo mundo, vão por mim.
Sonhos, todavia, podem, e devem monopolizar o monólogo alcoólico. Além de refrescar o juízo, criam uma sensação de que nem tudo está perdido. Sonhos são a obra-prima de simplesmente todas as fitas do gênio do cinema francês Truffaut, o cara que nascera para filmar o amor, com toda licença, por favor, Xico Sá – padrinho sentimental deste escriba espaço junto de Nelson Rodrigues.
Mas quanto dura uma bebedeira? Depende. O ideal é que dure, no mínimo, seis, sete horas. Se tu estiveres acompanhado as cartas mudam na mesa. Neste caso, deves sempre estar atentos aos sinais da moça, já diria o poeta Carlos Drummond, depois não adianta falar merda por aí.
Lembra, meu filho, por tudo que és mais sagrado em tua vida dos ensinamentos do pai da crônica sentimental, Paulo Mendes Campos: o amor acabar, seja antes daquele beijo ou depois... tu sabes, né?
Viva a boemia com a benção das mulheres e dos mestres do copo, sem eles não haveria filosofia, sociologia e antropologia de boteco.
Chega de lirismo de boteco. Beijos, abraços e felicidade – ah, não deixem de molhar a palavra, por sinal vou ali na esquina agora. Tchau, obrigado.