Home / Entretenimento

ENTRETENIMENTO

Para as cancerianas, com muito amor

Já tive duas mulhe­res de Câncer, melhor, duas mulheres de Cân­cer me tiveram, me do­minaram, fizeram gos­toso e bonito.

Não falo dessa coisi­nha broxante cujo sta­tus no facebook seria “estamos num relacio­namento sério”.

Falo do bom e ve­lho coito, cara, inde­pendentemente da temporada no infer­no, meu caro Rimbaud (1854-1891).

As duas foram tran­sas convencionais, da­quelas que lubrificam o psiquismo, rejuve­nesce a vida e revigo­ra o humor. As duas foram do tipo “quero me perder no teu ema­ranhado, te abraçar o corpo inteiro”, morrer de amor e me perder em tuas curvas.

Embora meus co­nhecimentos astrológicos se­jam iguais aos de um corintiano sobre seu maior rival, consigo compreender um pouco sobre as cancerianas.

E, amigo leitor, de uns tempos pra cá eu me considero uma espé­cie de guru do mapa astral.

Vai entender.

Outro dia, até, dei uma olhada no horóscopo do dia.

O professor, meio sem enten­der, soltou:

“Cê tá vendo horóscopo, Beck?”

“Pois é, professor”, respondi. “Quero ver o que esta quarta-fei­ra braba reserva pra mim.”

Evidentemente, o cara deu uma contida gargalhada. Total­mente compreensível, inclusive.

Precisasse yo de uma descul­pa intelectual, recorreria aos es­critores hermanos, que amam pôr zodíaco no trem, digo, no texto, como Robert Arlt (1900-1942).

Mas não é caso.

Este vira-lata das letras que vos escreve não precisa ir tão longe, afinal é um pouco com­plicado sensibilizar alguém nes­tes tempos em que negras tor­mentas não nos deixam ver, nem ouvir, nem sentir, nem pensar, levando-nos ao enredo de Por quem os sinos dobram, de He­mingway (1899-1961).

O amigo cético aqui, para­naense dos campos-gerais, ilustre frequentador das espe­luncas underground da noite goianiense, numa roda de saias por aí, ou­viu de uma amiga, can­ceriana:

“Não aguento minha carência”.

“Por quê?”, perguntei, no alto de minha habi­tual leseira.

“Porque me sinto um pouco vulnerável.”

Que nada! As cance­rianas são carinhosas, e carregam consigo uma carga dramática extre­mamente sensual, da­quelas que deixariam o fodão do Henry Mil­ler embasbacado.

Sim, eu gosto de te ver, canceriana. Com fome, então, a energia orgástica pode acender um cigarro sem isquei­ro, enquanto Something sai no som.

Nunca tenha o des­leixo de deixar uma can­ceriana magoada. Pode ser a tua única e última vez. Dê atenção, converse, respeite-a, abrace-a. Se conseguir, cite alguns poemas cretinos que lhe vier à cabeça.

Poemas, e não músicas que podem provocar lesões nos tím­panos da moça. E nada dos cli­chês bukowskianos que extraiu de Mulheres, numa sexta-feira à noite em que estava sem grana e com os sentidos tomados pelo famoso pé na bunda.

Música é tudo, já disse o doutor Hunter Thompson (1931-2005). E as letras são – principalmente a poesia – a linguagem da alma.

Nada como o carinho cance­riano.

Leia também:

edição
do dia

Capa do dia

últimas
notícias

+ notícias