A música “Bob” (veja a letra no box abaixo), do jovem cantor brasileiro Rafa Kamaitachi, tem quase cinco milhões de visualizações no Youtube e tornou-se hit nas redes sociais nos últimos sete dias.
Outras músicas populares do cantor são “Manual do Suicídio” e “Homem Torto”.
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(CONTEÚDO INAPROPRIADO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES)
Mas o que “Bob” tem de diferente de outras músicas para atrair tanta audiência: relata uma narrativa sinistra que envolve um amigo imaginário (comum na infância de algumas crianças), suicídio, drogas, assassinato, adultério e satã. Sim, você leu bem: satanás.
Doce, sincopada e melódica, a música destoa do esperado, pois é pop e cravada numa melodia consonante e meiga.
O “sucesso” de “Bob” se deve basicamente, portanto, ao tabu que traz em suas linhas.
O “proibido”, evidente, ajudou a aumentar a audiência do jovem que atua em São Paulo com seus clãs de artistas correlatos.
Não é nada de novo. Desde Robert Johnson, na década de 1920, e depois o heavy metal – e até mesmo a música erudita, com Nicola Paganini – o cramulhão é tema para aumentar polêmicas.
Acontece que em poucas linhas o jovem cantor consegue perfilar as coisas mais nebulosas e agressivas possíveis – e isso provoca, principalmente, com razão, a ira de evangélicos e pais e mães.
Como Kamaitachi tem um sucesso repentino ainda não existe formalmente em casas de show, gravadoras, etc.
Quem procurar por seu nome em sites de notícia musical não encontrará informação sobre sua vida.
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A grande imprensa o ignora. Mas ele é sucesso entre jovens que curtem o estilo que chamam de “bad”. Seu modelo musical mistura rap, reggae, pop, funk e uma postura rocker pronta para chamar atenção. Seu conjunto de música, melodia e produção é profissional e caprichoso, apesar de muitas vezes divulgar material produzido com um simples celular.
O problema todo é que o vídeo polêmico está circulando em grupos de WhatsApp com observações estupefatas de pais, já que existe explicitamente um conjunto de violências simbólicas e indicações físicas que podem confundir crianças e adolescentes.
Muitos questionam até que ponto o músico exerce sua liberdade de pensamento, assegurada pela Constituição.
Kamaitachi brinca com um fogo que pode queimar quem não compreender bem suas intenções. Diferente do cinema - em que é possível o criador emular sentimentos ruins separando perfis de atores, autores e personagens -, a música costuma ‘personalizar’ excessivamente a primeira pessoa.
É assim desde o cancioneiro da renascença, em que o “bardo” encarnava os feitos do herói. Daí o temor com as palavras ditas pelo músico. Ele é um herói para os ouvintes.
A letra de “Bob” começa com a situação de quem fala: “Ele não quer sair de mim/ Mim/ Mim/ Mim. Já achou sua morada aqui/ Ele quer que você vá embora/ Bate a porta do meu quarto/ E nunca mais tente essa porta abrir/ Ele não quer sair de mim”.
Kamaitachi segue sua história: “Bob diz que é filho de um anjinho que foi caído/ E toda vez que se acende a luz do quarto/ Fica espantado, por isso ele inverte o crucifixo”.
A música continua com relatos de comportamentos inadequados: “Ele pega a espingarda do papai que ele guarda no armário/ Mira pra porta do quarto e diz/ Ninguém vai entra aqui”.
A letra é depreciativa com a figura dos pais: “Ele vem cuidar de mim enquanto tu dorme/ Diz que daquele contexto: “Mãe, teu Tic Tac tem um efeito extra forte/ Que tu só levanta no amanhã por pura sorte/ Papai tenho que te apresentar o Bob/ Ele vem cuidar de mim enquanto tu dorme/ Diz que eu tenho outras mamães que tu esconde até da morte/ E o teu nariz fica branquinho usando algo que não pode/ Não pode não”.
No relato musical, a mãe é menoscabada: “Mamãe tenho que te apresentar o Bob/ Ele vem cuidar de mim enquanto tu dorme/ Diz que tu é um vagabunda de uma esnobe/ E que o próprio asmodeus te esperará com mil chicotes”.
Na demonologia, asmodeus é considerado um dos sete anjos do inferno abaixo somente de Lúcifer. Portanto, uma alegoria forte e de impacto, que revela sordidez e violência.
Toda a metaforização satânica é ingênua, sem grande preocupação para adultos normais, já que está dentro do padrão criativo da juventude. Para pessoas centradas, parece-se mais como um personagem de filme de terror.
Os versos são clichês, como quando fala de crucifixo invertido ou bíblia queimada: “Ele rabisca meu braço com desenhos estranhos/ Queima a bíblia e outros santos/ E diz que nenhum querubim encostará em mim”.
SUICÍDIO
O problema maior é o conjunto de fatores e a falta de controle da recepção da mensagem: a letra fala de suicídio e sugestões de posturas violentas, como quando menciona o ato de empunhar a arma.
Os grupos e reações quanto à letra são variados. Muitos jovens defendem e pedem maior produção de Kamaitachi, jovem cuja criatividade está em ebulição e com talento para cantar e fazer música de qualidade.
Diante de tanta polêmica, o cantor suspendeu os comentários da canção em seu canal no Youtube. Antes, realizou uma apresentação no canal, em que criticava a postura dos religiosos que o julgavam, quando existe um “ensinamento” cristão para não julgar os outros.
Depois, o autor optou em usar um aviso e torná-la aberta: “Na música "Bob" foram usadas palavras que podem causar desconforto em pessoas mais sensíveis. Estas citações foram feitas apenas para fins artísticos, caso tenha se sentido ofendido(a), saiba que essa não foi a intenção”.
VEJA A LETRA POLÊMICA
BOB
Ele não quer sair de mim
Mim(3x)
Já achou sua morada aqui
Ele quer que você vá embora
Bate a porta do meu quarto
E nunca mais tente essa porta abrir
Ele não quer sair de mim
Mim(3x)
Já achou sua morada aqui
Ele faz dar vida para os meus brinquedos
Que ficam com olhos vermelhos tipo
Senhor caranguejo e o guaxinim
Mamãe tenho que te apresentar o Bob
Ele vem cuidar de mim enquanto tu dorme
Diz que teu Tic Tac tem um efeito extra forte
Que tu só levanta no amanhã por pura sorte
Papai tenho que te apresentar o Bob
Ele vem cuidar de mim enquanto tu dorme
Diz que eu tenho outras mamães que tu esconde até da morte
E o teu nariz fica branquinho usando algo que não pode
Não pode não(6x)
Meu amigo Bob diz
Que é um menininho corrompido
E toda vez que se acende a luz do quarto
Fica espantado, por isso todo esse caco de vidro
Bob diz que é filho de um anjinho que foi caído
E toda vez que se acende a luz do quarto
Fica espantado, por isso ele inverte o crucifixo
Ele não quer sair de mim
Mim(3x)
Já achou sua morada aqui
Ele pega a espingarda do papai que ele guarda no armário
Mira pra porta do quarto e diz
Ninguém vai entra aqui
Ele não quer sair de mim
Mim(3x)
Já achou sua morada aqui
Ele rabisca meu braço com desenhos estranhos
Queima a bíblia e outros santos
E diz que nenhum querubim encostará em mim
Mamãe tenho que te apresentar o Bob
Ele vem cuidar de mim enquanto tu dorme
Diz que tu é um vagabunda de uma esnobe
E que o próprio asmodeus te esperará com mil chicotes
Papai tenho que te apresentar o Bob
Ele vem cuidar de mim enquanto tu dorme
Diz que tu vai para o inferno e de lá você não foge
Meus irmãos eram fetos que tu ordenou que aborte
Não pode não(6x)
Meu amigo Bob diz
Que é um menininho corrompido
E toda vez que se acende a luz do quarto
Fica espantado, por isso todo esse caco de vidro
Bob diz que é filho de um anjinho que foi caído
E toda vez que se acende a luz do quarto
Fica espantado, por isso ele inverte o crucifixo