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Guerras, crises e pandemia no Festival de Cannes

Sara Jane

Em contagem regressiva, o Festival de Cannes continua sendo um dos eventos mais esperados do mundo. Mas sua gênese e sobrevivência foram marcados por acontecimentos maiores de cada época.

A ideia de sua criação nasceu como uma resistência à manipulação do fascismo em torno do festival de Veneza, uma das vitrines do ditador italiano Mussoline e seu governo.

Em 1939 o próprio inventor do cinema, Louis Lumière, aceitou ser o presidente do Festival, previsto para ser inaugurado em setembro daquele ano. A Metro Goldwyn Mayer, que neste ano acaba de ser comprada pela Amazon, chegou a fretar um navio para levar estrelas de Hollywood ao Festival. Tudo estava preparado, nos detalhes, para um grande evento. Eis que os nazistas invadem a Polônia no primeiro dia do mês de setembro. E o Festival é anulado. Somente após o fim da Segunda Guerra seis anos depois seria realizado o primeiro festival, agora em sua 74ª edição.

Spike Lee: cineasta engajado para presidir o corpo de jurados 

Em maio de 1968 (o famoso!) uma nova crise política, dessa vez mais nacional, acontece justamente no mês de realização do evento, provocando a anulação do festival. Estudantes invadiram a sede do evento, jovens cineastas como Truffaut e Godard defenderam o movimento, cineastas americanos retiraram seus filmes da mostra.

E no ano passado, foi a vez das medidas sanitárias do governo français, para enfrentar uma gigantesca pandemia, provocar a anulação do festival.

Mas o organizador do evento anunciou que neste 2021 o presidente do corpo de jurados será o mesmo nome anunciado para o evento cancelado, o cineasta americano Spike Lee. Nada mais adequado para um festival que não deixa de ser sensível às grandes questões políticas e sociais de cada um de seus tempos.

Thierry Frémaux, presidente do prestigiado Institut Lumière, de Lyon, terra onde nasceu o cinema,  é delegado geral do Festival de Cannes desde 2007. Ele explica como o evento é organizado em suas diversas partes e lembra que na última edição, os festivaleiros tiveram a oportunidade de encontrar nomes como Sylvester Stallone, Zhang Ziyi e Alain Delon, em eventos paralelos ao principal.

De onde vem a força do Festival de Cinema de Cannes?

Thierry Frémaux  - Para durar, o Festival teve que se manter fiel à sua vocação fundadora de revelar e mostrar trabalhos de qualidade para atender a evolução do cinema, promover desenvolvimento da indústria cinematográfica no mundo e celebrar a sétima arte  internacionalmente. Ainda hoje, esta profissão de fé constitui o primeiro artigo do regulamento do festival.

O que é a "seleção oficial"?

Thierry Frémaux  - Procura representar toda a diversidade da criação cinematográfica por meio de seleções diferentes, cada uma com sua própria identidade. Filmes são apresentados em competição, enquanto que “Un Certain Regard” enfatiza trabalhos originais e a estética, que garante uma presença discreta, mas forte, nas telas globais. A seleção oficial também é baseada em filmes apresentados fora de competição, exibições especiais, sessões à meia-noite, filmes históricos apresentados em Cannes Classics, a seleção de filmes escolares da Cinéfondation. O importante é que esta Seleção é equilibrada e representativa da cinematografia de cada época, em termos de criatividade e geografia.

O que são seleções não competitivas?

Thierry Frémaux - Os filmes fora de competição costumam ser filmes de eventos que marcam o ano do cinema e sessões especiais e sessões de meia-noite oferecem uma exposição feita sob medida mais trabalhos pessoais. Os filmes históricos em cópias restauradas são colocados no valor no Cannes Classics que também recebe homenagens e documentáriosno cinema. Os cinéfilos também têm a oportunidade de descobrir o cinema de uma maneira diferente, por meio de aulas, homenagens ou exposições que integram os eventos de cada edição.

Sara Jane é jornalista e crítica de cinema

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