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Barão Vermelho apresenta repertório lírico-bluseiro, no Deu Praia

Com Rodrigo Suricato nos vocais, banda toca no Oscar Niemeyer, em Goiânia

Barão 40: Rodrigo Suricato (segunda da esquerda à direita) se esforça para que banda não seja cover de si mesma - Foto: Marcos Hermes/ Divulgação Barão 40: Rodrigo Suricato (segunda da esquerda à direita) se esforça para que banda não seja cover de si mesma - Foto: Marcos Hermes/ Divulgação

O Barão Vermelho engazopou rock brasileiro com poesia direta, desprovida de literatices, como se Rimbaud pedisse a mão de Allen Ginsberg, que uiva vestido de noiva às três da madrugada. À frente da banda no início, o furacão Cazuza lembrava Jim Morrison, vocalista do The Doors que fazia de seus shows um ritual dionisíaco: benzinho, eu ando pirado, rodando de bar em bar, girando de mesa em mesa e sorrindo pra qualquer um.

É o que se espera do resistente Barão nesta sexta-feira, 14, no festival Deu Praia, Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia. São duas datas nos palcos goianos: além do concerto realizado amanhã, o público terá chance de pedir mais uma dose, porque está a fim, mas - sobretudo - pelo fato de a banda carioca se apresentar dia 22 de julho no Mais Araguaia, na cidade de Aruanã. Maurício Barros (teclado), Guto Goffi (bateria), Fernando Magalhães (guitarra) e Rodrigo Suricato (vocal e guitarra) estão na estrada com poderoso repertório.

Substituto do compositor, guitarrista e vocalista Roberto Frejat desde 2017, Suricato quer o Barão bem hidratado. Para o músico, não há possibilidade da banda que melhor traduziu a linguagem dos Rolling Stones no rock brasileiro se tornar um cover de si mesma. O DM se deslocou até o Porão do Rock (DF), em 2018, para assisti-lo fazer show arrepiante. Lembrou o melhor do Barão Vermelho, com riffs conversando entre si entrelaçados a comentários de teclado. Bateria e baixo transaram gostoso, como no auge que ficara registrado no passado.

Ao DM, após o enérgico show de uma hora e pouco, Maurício disse que havia ansiedade em mostrar ao público a nova formação do Barão. “Ficamos muito honrados”, declarou o músico, fundador da banda ao lado de Guto, em 1981. Por causa das dimensões continentais do Brasil, demorou para os músicos botarem o pé na estrada. Houve ainda, além de tudo, uma pandemia no meio do caminho. Em Goiânia, por exemplo, não tocam há anos.

Fases do Barão

Com a turnê “Barão 40”, em que a banda celebra Cazuza e Frejat, os fãs lavam a alma nos clássicos. “Maior Abandonado” é presença certa, assim como “Pro Dia Nascer Feliz”, ao que tudo indica, encerrará apresentação. “Por Que a Gente é Assim” embalará almas inebriadas pela embriaguez da qual fala o eu-lírico cazuziano. É bom ainda esperar músicas lado B da discografia baroniana, como o blues rasgado “Down em Mim” ou aquele para se ouvir abraçando uns quatro travesseiros, “Não Amo Ninguém”. E o flerte-boêmio “Ponto Fraco”.

Ora, rock ´n geral é bem alto, pra se ouvir de qualquer nave. Ah, sendo o Barão detentor de baladas adequadas às almas inebriadas pela paixão, o público se declarará ao parceiro (a) que por ele (ela) dançaria até tango no teto. Talvez toquem “Tua Canção”, balada folk no elepê “Na Calada da Noite” (1990), ou alguma surpresa de “Supermercados da Vida” (1992), como “Flores do Mal”. Do “Carne Crua” (1994), álbum influenciado pelo grunge, “Meus Bons Amigos” e, quem sabe?, “Guarde Essa Canção”. Música boa é o que não falta.

Reidratados pela presença de Suricato - um fã confesso do Barão Vermelho -, a banda recém- lançou três EPs: “Acústicos, Sucessos e Blues e Baladas”. Como o objetivo é celebrar trajetória poderosa, que superou pedras, flores e espinhos, será tributo à obra da banda. Ou seja, haverá grande festa, com o rock rolando e rolando direito. Com blues, é claro. E, se tem uma coisa que os caras são bons mesmo, além da porra-louquice musical, é se adaptar. São de uma geração de doidos e evitam se encaretar, como Guto Goffi faz questão de dizer.

“Fazer o que gosta pode parecer uma coisa simples, mas é dificílimo”, disse Maurício Barros, num bate-papo com este repórter, durante o Porão do Rock, em 2018. Além de levar a banda ao auge, Cazuza os ensinou a trocar o saxão “yeah” pelo brasileiríssimo “éééé”. “Muito novo aprendi a conviver com as diferenças. Ele nos ensinou uma nova visão de amor. E amor é sempre amor. Não importa com quem seja”, recordou-se o tecladista.

Após a apoteótica apresentação no Rock In Rio, em 1985, Cazuza saiu da banda. E Frejat, aos 22, assumiu os vocais, em cuja função - além da guitarra capaz de iluminar cidade de um milhão de habitantes, como o jornalista Ezequiel Neves descreveu ele e Fernando Magalhães nos palcos - permaneceu até 2017. Indicado à banda pelo goiano Léo Jaime, Caju levou consigo parte do repertório. “Só as Mães São Felizes”, por exemplo, ficou com o cantor e, meses depois da ruptura, foi gravada no álbum “Exagerado” (1985).

Declare guerra

Como consequência direta do fracasso, “Declare Guerra” não tocou no rádio. Shows desapareceram, telefone estava mudo. E, embora tivesse “Torre de Babel”, “Um Dia Na Vida” e “Boomerang Blues”, “Declare Guerra” registrou-se cópias com faixas riscadas, o que impedia audição e circulação da obra. “Pessoas voltavam à loja e pediam, por exemplo, Paralamas”, relembrou Guto. No próximo trabalho, “Rock´Geral” (1987), pouca inserção mercadológica, apesar de ter uma parceria “ponte aérea” com o então titã Arnaldo Antunes.

Era a bela “Quem Me Olha Só”, um blues metafórico muito bem sacado escrito Arnaldo e musicado por Frejat. Ainda assim, porém, o grupo mantinha-se à margem. Foi o hit “Pense e Dance”, de “Carnaval” (1988), que reinseriu a banda na jornada do sucesso. Com o grupo inserido de novo sob a luz dos holofotes, nasceu a necessidade de regravar os clássicos no vozeirão de Frejat. Estão lá no disco-pauleira “Barão Ao Vivo” (1989), captado na antiga casa de show Dama Xoc, que marcou a noite paulistana nos anos 1980.

O Barão corria o Brasil (com apresentações na Capital goiana) a bordo da turnê “Carnaval”. Mas Dé, baixista que atravessara o furacão Cazuza, queria viver experiências musicais diferentes. Guto o sacaneou, chamando para o lugar do amigo Dadi, ex-integrante da banda A Cor do Som. Depois, o baixo foi tocado por Rodrigo Santos, até 2018. E o resto, como se sabe, é história. História que será ouvida amanhã no Deu Praia, que começa hoje com Vanessa da Mata. Mas não é só isso, diria Cazuza, o dia também morre, e é lindo.

Barão no Deu Praia

Amanhã, a partir 21h

A partir de R$ 70

https://deupraia.byinti.com/

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