
A jurada Ana Paula Fernandes, contratada para julgar os sambas-enredo das escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro, atribuiu uma pontuação abaixo da esperada à Unidos de Padre Miguel (UPM) devido ao "excesso de termos em iorubá" na letra de seu samba apresentado na Sapucaí, no domingo (2).
A UPM, que este ano levou para a avenida o enredo "Egbé Iyá Nassô", sobre a trajetória da africana Iyá Nassô e do Terreiro da Casa Branca do Evangelho Velho, recebeu uma pontuação de 9,7 no quesito samba-enredo. Ana Paula Fernandes justificou a nota explicando que a agremiação fez uso excessivo de termos em iorubá, o que, segundo ela, dificultou a compreensão da letra. A jurada atribuiu 0,1 ponto pela dificuldade de entendimento, alegando que "há trechos de difícil entendimento devido ao excesso de termos em iorubá". Além disso, ela considerou o "encadeamento semântico" do samba confuso, o que resultou em uma penalização adicional de 0,1 ponto. A mesma nota foi atribuída pela falta de inovação na melodia do samba, que, de acordo com Fernandes, apresentou um "encadeamento linear, sem maiores inovações dentro da linguagem do samba-enredo".
Em resposta, a Unidos de Padre Miguel rebateu as críticas e a justificativa de Fernandes para despontuar seu samba. A escola manifestou-se por meio de nota, afirmando que "despontuar uma escola por utilizar o dialeto de sua cultura é, no mínimo, uma avaliação despreparada". A agremiação ainda destacou que "esquecer nossa oralidade para atender um acadêmico não negro não está nos planos da nossa escola". O samba da UPM recebeu, além da nota 9,7, três notas 9,9, somando um total de 29,6 pontos.
Ana Paula Fernandes, doutora em Sociologia e Letras e especialista em percussão afro-brasileira, é estreante como jurada nos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro.
UPM irá contestar o rebaixamento
A Unidos de Padre Miguel anunciou que irá recorrer do seu rebaixamento no Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro. A escola afirmou que identificou "inconsistências graves" nas justificativas das notas atribuídas à sua apresentação, incluindo a penalização pela utilização de termos em iorubá. A agremiação também questionou outras penalizações relacionadas a falhas técnicas no caminhão de som, um problema alheio à responsabilidade da escola, e que, na sua avaliação, não deveria ter impactado na pontuação final.
A UPM informou que está reunindo todos os elementos necessários para apresentar um pedido formal de revisão junto à Liesa, com base em uma análise criteriosa das justificativas divulgadas. A escola reafirmou seu compromisso com "o respeito, a isonomia e a valorização do trabalho de toda a sua comunidade", e buscará os meios adequados para contestar a decisão.