A Blitz estaciona neste sábado, 9, a partir das 23h, no palco do Bolshoi Pub para apresentar hits da carreira e canções do novo trabalho. Já no streaming, “Supernova” carrega consigo atrativas texturas stonianas e adornos rebuscados ao estilo Sonny Boy Williamson II. Responsável por inaugurar o BRock ao lado do Barão Vermelho, o grupo carioca deve apresentar repertório que contempla o sucesso fonográfico “Você Não Soube Me Amar”.
É memorável. Toca música que gruda nos nossos ouvidos. Viciantes, os refrões ficam martelando na cabeça, ô coisa adoravelmente pegajosa. Você não soube me amar, você não soube me amar, você não soube me amar. Cara, que diabo é isso?! Ué, simples: rock’n roll em português, com sotaque carioca e letra bem-humorada. Chope, batata frita, blá blá blá blá blá blá blá blá blá e ti ti ti ti ti ti ti ti ti. Mas, realmente, eu preferia que você estivesse nua.
No novo disco, a primeira música reverbera nos tímpanos com facilidade. Hum, olha essa guitarra? Aponta o caminho para o violão. Não sou de ficar parado pensando no passado, isso não importa mais. Não sou de ficar sentado sonhando acordado, cada um sabe o que faz. Não bastasse a precisão com que os dedos de Rogério Meanda percorrem a guitarra, como se o braço dela fosse uma calçada vazia na calada da noite, um solo uiva frases ditas lá pelo lado escuro da vida. Ah, e tudo isso aqui no ritmo preciso ditado pelo baterista Juba.
Sim, precisamos seguir em frente. Então, ouvintes-leitores, vos digo: rockão stoniano, linguagem crua, arranjos modernos. Uma gaita revela que a Blitz evita gritos. As seis cordas eletrificadas, pilotadas por Meanda, parceiro de Cazuza em “Só Se For a Dois”, que dá nome ao disco lançado pelo poeta em 87, conversam com a voz de Evandro. E a terceira faixa, melhor do disco, traz o pulso da guitarra comandada por Roberto Frejat. “É uma música séria e fala sobre a cidade que a gente dominava”, diz o vocalista ao DM, por telefone.
Blitz e Barão nasceram de uma costela do grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone. No início dos anos 80, as duas bandas protagonizaram shows eletrizantes no palco do Circo Voador. Se o grupo que contava com Cazuza à frente era uma pauleira só, a Blitz tinha duas garotas bonitas cantando. “Tem também guitarra (discreta), baixo, teclados e bateria. Ei, não é aquele baterista grandalhão que tocava com a Marina? No microfone, um ator, como é mesmo o nome dele?”, descreve o jornalista Arthur Dapieve, na obra “BRock - O Rock Brasileiro dos Anos 80”, livro-reportagem publicado nos anos 90 pela Editora 34.
“Agora é a Hora” tem versos que guardam as marcas do tempo. Marcas tatuadas na alma e sorriso que chega atrás da máscara negra. “Vida vivida, dividida/ não será esquecida/ será que já é o fim/ ou mais um recomeço”, canta Evandro. Depois, a Blitz blueseia os grilos do eu-lírico contestador, em “Grilado”. “Ninguém te disse que viver era fácil/ Eu sei meu bem que a vida é difícil/ Seu trabalho é uma droga e seu emprego está sempre em risco/ E metade do salário vai pro ralo pro tal do confisco/ Sua mulher não te entende e seu filho chora.”
Muddy e Jackson
Blues rola no fone. As pernas curtem a música, balançando no ritmo. Muddy Waters e Jackson do Pandeiro convivem num caldeirão cujas chamas se alastram pelo asfalto da modernidade. Um ouvido sensível sente um tesão se espalhando pelo ambiente. Os braços organizam um bacanal. Gostoso sentimento jovem. Na vitrola, ao som de reggae, Evandro diz que, se procurar no mapa, vamos achar antes de Búzios: “existe um lugar/ existe um lugar/ uma cidade pequena na na na/ chamada saqua/ Saquare' Saquarema ma ma.”
Aproximando-se do fim, num blues safado de metal, gaita, baixo, bateria e guitarra, o eu-lírico confessa cantar e tocar desde criança. “Era o terror da vizinhança/ Sempre tive pedras no sapato/ E chutei muita bola pro mato”, diz, na primeira estrofe. Mas fique tranquilo, avisa a voz poética, não se zangue: “Muitos tentaram beber meu sangue/ Quando é que você vem? I can't standing in the rain/ Será que você já se esqueceu/ De tudo que houve entre você e eu?”.
Nas suas 16 músicas, a Blitz exibe pegada de rua, comum ao rock garageiro e à música consagrada pelos Rolling Stones. Construído na pandemia, o repertório tem corpo e os arranjos deleitam nossos ouvidos sedentos por um rock brasileiro de qualidade. “Eu e Billy (Forghieri) fizemos uma prazerosa produção, com participações especiais maravilhosas, e as canções foram aparecendo e nos surpreendendo. Até que tínhamos um ótimo material para disco.”
Durante o bate-papo com DM, no último mês de outubro, Evandro Mesquita diz que o público goiano é “muito musical”. “Sinto que tem essa abertura dos jovens em estarem antenados, do gosto pela música boa. A juventude daí conhece, está sempre atenta e curiosa”, reflete o artista, que aparece na capa do disco “Novos Baianos FC”, de 1973. “Mas não sei qual é o segredo da jovialidade. Acho que é minha criação. Meu pai era vegetariano, foi aí que conheci macrobiótica. Sempre teve essa preocupação com comida natural.”
Hoje em dia, a Blitz percorre o Brasil com formação que inclui Evandro Mesquita, Billy Forghieri, Juba, Rogério Meanda, Alana Alberg, Andréa Coutinho e Nicole Cyrne. “Supernova” procura o novo: texto amadurecido, melodias sedutoras, bases espertas. Mesmo quarentona, a Blitz ainda dá um caldo. É o que os goianienses irão ver no sábado, 9.
Blitz
Dia 9 de dezembro
A partir das 23h
Bolshoi Pub
R. T-53, 1140, St. Bueno
Ingressos esgotados